As diferenças entre alergia e intolerância alimentar
Ambas restringem a alimentação, mas cada uma tem causas e sintomas diferentes
Se toda vez que você ingere um alimento, reações desagradáveis se manifestam no seu corpo – inchaço, má digestão, manchas no corpo – você pode ser alérgico ou apresentar um quadro de intolerância a alguma substância desse alimento. As duas coisas, no entanto, são diferentes: a alergia é uma reação imediata do sistema imunológico ao contato com determinado alimento e a intolerância é a sensibilidade do organismo à determinada substância do alimento, se manifestando na dificuldade ou impossibilidade de digeri-lo.
Intolerância
A funcionária pública do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Tatiana Forte, de 27 anos, começou a manifestar os sinais da intolerância à lactose no fim da faculdade, confirmando o diagnóstico pouco tempo depois. Desde então, houveram algumas mudanças em sua rotina. “O que mais mudou foi o hábito alimentar, pois não posso ingerir quase nenhum produto que tenha leite e seus derivados. No começo, quando ainda não sabia ao certo o que eu tinha, passava mal e ficava apreensiva em comer fora de casa”, disse a funcionária.
A intolerância alimentar pode ser a várias substâncias – glúten, crustáceos, chocolate, corantes artificiais, lactose e etc. – e ocorre porque o organismo da pessoa com intolerância não produz em quantidade suficiente, ou simplesmente não produz, as enzimas responsáveis pela digestão dessas substâncias, que se acumulam no estômago, ficam retidas no organismo e causam reações como cólica, náusea, enxaqueca e diarreia. Em pessoas intolerantes à lactose, não há produção da enzima lactase.
Tatiana diz que no começo da adaptação alimentar sem lactose enfrentou muitas dificuldades, principalmente por gostar dos alimentos derivados de leite: “No começo era muito difícil evitar os alimentos com lactose, pois muitas receitas contêm leite como ingrediente. Não podia comer queijos, sorvete, creme de leite, chocolate, a maioria dos doces. E as pessoas ao seu redor demoram para acostumar que você não pode comer, então era sempre uma tentação. ”
Em relação ao tratamento, a nutricionista Kátia Santin (34), explica que é necessário a exclusão dos alimentos os quais se tem intolerância. “Também deve-se fazer a reposição dos nutrientes mais importantes através da substituição dos mesmos na dieta diária, além de ficar atento aos rótulos na hora de comprar os alimentos”, explica a nutricionista.
Hoje, Tatiana consegue administrar o que pode e o que não pode comer e está mais satisfeita com o aumento de produtos destinados a pessoas com alguma intolerância. “Não sinto mais tanta vontade de comer coisas que contenham leite e também foram colocados muitos produtos no mercado que são fabricados para pessoas com intolerância. Esses produtos na maioria das vezes contém a enzima lactase”, pontua.
Alergia
Diferente da intolerância, que leva o tempo necessário à digestão para começar a apresentar as reações, os efeitos da alergia são imediatos à ingestão do alimento. Na maioria das vezes, a alergia é mais grave que a intolerância porque o organismo do alérgico automaticamente desencadeia a liberação de substâncias químicas ao entrar em contato com a substância alérgena, que pode vir de alimentos, remédios, picadas de inseto e etc.
A alergia se manifesta através de vários sintomas, como as reações cutâneas (urticária, eczema, inchaço, coceiras), do aparelho respiratório (rouquidão, tosse, chiado do peito), do sistema digestivo (dor abdominal, vômitos, diarreia). Em casos extremos, pode ocorrer a reação (ou choque) anafilática, que é uma reação extrema do próprio corpo à substância que se tem alergia, podendo ser fatal.
A advogada Gabriela Lima de 29 anos descobriu a alergia à frutos do mar ainda criança, quando uma casquinha de siri causou um edema na glote (inchaço na garganta que sufoca). Como sua alergia foi diagnosticada cedo e, até hoje, não possui muito contato com frutos do mar, não teve dificuldades em adaptar sua alimentação, mas lamenta, “quando estou na praia, todo mundo comendo anéis de lula, camarão… dá muita vontade”.
A nutricionista Kátia Santin diz que uns dos fatores mais envolvidos no aparecimento de alergias são a predisposição genética, o uso frequente de antibióticos, desmame precoce, falha dos mecanismos de defesa no trato intestinal e alimentação industrializada. Dos alimentos que mais causam alergia podem se destacar os ovos, peixes, crustáceos e frutos do mar.
Existe cura?
Sobre o tratamento de alergias, a nutricionista explica que a cura definitiva para a alergia alimentar não existe. Portanto, o tratamento consiste na exclusão dos alimentos que tem na sua composição a proteína da qual se tem alergia. Gabriela Lima segue a orientação à risca: “Não como nunca, nem os frutos do mar em si, nem os peixes que se alimentam deles”.
Kátia também afirma que “A utilização de remédios antialérgicos combate apenas os sintomas causados pela alergia e também é pertinente ressaltar que algumas alergias alimentares são crônicas ou seja, o indivíduo com o passar dos anos pode, então, não apresentar mais a sensibilidade a determinado tipo de alimento e, depois de um tempo, ela voltar”.
Em todo caso, o acompanhamento pelo médico e a nutricionista é de extrema importância, tanto na alergia quanto na intolerância alimentar, para um tratamento correto e consequente ganho na qualidade de vida da pessoa.
5 alimentos que podem provocar reação alérgica
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Reportagem: Tânia Mendes
Produção Multimídia: Vinícius Cabrera
Edição: Lívia Lago