Arraiá do Amor
Esses dias fui chamada na escola do meu filho. Achei que fosse mais uma daquelas vezes em que ele jogou aviãozinho na cabeça da amiga chata (sim, as crianças de hoje ainda fazem essas coisas). Mas não. Dessa vez, estavam na sala a diretora e vários professores. Logo pensei: “fudeu!”. Todos queriam falar ao mesmo tempo, até que a diretora tomou as rédeas e me explicou tudo: eles haviam feito uma reunião com as crianças para decidir como ia ser a festa junina, quais seriam as comidas, as brincadeiras, os pares e os noivos da quadrilha. Aquela coisa de sempre. Até que o Téo levantou a mão e perguntou se o casal de noivos podia ser constituído por dois meninos (com essas palavras, dá pra acreditar?).
A minha primeira reação foi ficar em choque e de novo pensei: “fudeu!”. Então, eles me perguntaram o que eu achava disso. E aí lembrei de todas as historinhas que eu contava para o Téo, em que os pais de família eram dois homens ou duas mulheres; lembrei de todas as vezes em que vimos um casal homo na rua e eu fiz questão de explicar que aquela era simplesmente uma forma de amor. E respondi: “eu acho lindo”.
A surpresa foi que a diretora respondeu quase que instantaneamente: “nós também”. A reunião, no fim das contas, era justamente para repensar a festa junina. A ideia era fazer algumas dinâmicas com as crianças mostrando que existem diferentes tipos de famílias e que toda e qualquer forma de amor é legítima. E assim foi. Implementamos a minha estratégia das historinhas, mostramos fotos de diversas famílias, pedimos para que eles desenhassem o que eles consideravam como família e o resultado foi incrível. Ao fim de três semanas, elas estavam conscientes e preparadas para um arraiá… Cheio de amor!
É claro que alguns pais se manifestaram contra, proibiram os filhos de irem à festa e coisa e tal. Teve um que até tirou o filho da escola. Mas, paciência, né?
Só sei que o arraiá chegou. E caiu justamente no dia depois da aprovação do casamento homossexual nos EUA, quando a foto de perfil da galera ficou em peso colorida (afinal de contas, meus amigos facebookianos são desses, tá?). E eu fiz questão de mostrar pro Téo, que com seus sete anos já ficou louco pra fazer um perfil, colorir sua foto e copiar a hashtag do Obama.
Por fim, teve de tudo na quadrilha: a Bia dançou com a Gabi, o João com a Nati, a Camila com o Fer. E o Téo, de noivo, com o Lucas. Eles próprios escolheram os pares! Mas a melhor parte veio no final, quando de repente eu recebi um daqueles correios elegantes de um admirador secreto, que de secreto não tinha nada. A mensagem dizia tudo:
Ps: essa história é inventada, mas bem que podia ser real né?!
Crônica e produção de multimídia: Carolina Rodrigues
Edição: Gabriela Baraldi Passy