Com quantas culturas se faz um arraial?
Saiba mais sobre a(s) história(s) de uma das celebrações mais populares do Brasil: as festas juninas
“E neste ano, como todo ano
Uma vez por ano
Tem quadrilha no arraial
E neste ano, como sempre
Salvo chuva e salvo engano,
A satisfação é geral”
Chico Buarque – Quadrilha
Há algo inconfundível e certamente especial nesta época do ano, um clima que permeia as noites estreladas, que fagulha nas fogueiras, que dança entre as cores dos balões e se espalha com o aroma dos quitutes. No sexto mês do calendário, por volta do dia 21, acontece o solstício de verão no hemisfério norte e o solstício de inverno no hemisfério sul: respectivamente o dia e a noite mais longos do ano, além do marco inicial de cada uma dessas estações.
Desde a antiguidade, bem antes da era cristã, este período já era celebrado por diferentes povos – celtas, bretões, egípcios, persas, entre outros. Na tradição pagã, eram feitas fogueiras e rituais de oferendas aos deuses, que serviam para agradecer a colheita e invocar a fertilidade da terra. De acordo a antropóloga Rita de Cássia Amaral, no livro Festa à brasileira: Sentidos do festejar no país que “não é sério”, acredita-se que em torno do século XII as festividades tenham sido incorporadas ao cristianismo.
Segundo a crença religiosa – e principalmente em Portugal – o termo festa junina vem de “festa joanina”, em referência a São João Batista, primo de Jesus e responsável por seu batismo. “Nestes festejos de junho, celebramos três santos venerados na Igreja Católica: Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e São Pedro no dia 29”, explica a irmã Selma Evangelista, da Congregação das Filhas da Caridade Canossianas. Além disso, ela conta que São Paulo também é festejado no dia 29 de junho e que, juntamente com São Pedro, os dois formam duas grandes colunas da religião: “São Pedro foi o primeiro Papa e São Paulo, o grande evangelizador”.
No Brasil, a festa junina é herança dos colonizadores portugueses e logo se tornou multicultural: o costume dos jesuítas de acender as fogueiras de São João se uniu aos rituais indígenas de preparo da terra para novos plantios. Para os índios, o fogo, além de ajudar a limpar os terrenos, simbolizava proteção contra os maus espíritos. Entre as contribuições dos nativos aos festejos, se destacam os alimentos: no período das celebrações são consumidos produtos da colheita anterior, como milho, batata-doce, mandioca, amendoim e abóbora.
Outras influências culturais desta festa que rapidamente se popularizaram por aqui vieram de vários cantos do mundo. Da França, as danças da nobreza com passos marcados se adaptaram às quadrilhas típicas. Da China, a manipulação da pólvora criou a tradição de soltar fogos de artifício. As danças e mastros com fitas remetem a tradições de países ibéricos como Portugal e Espanha. Esses elementos se misturaram a costumes indígenas, africanos e de outros imigrantes, e resultaram no que hoje conhecemos como as festas juninas.
Para irmã Selma, as comemorações juninas são expressões de fé e fazem parte da cultura popular. “As pessoas se encontram e confraternizam durante as quermesses. Geralmente as festas juninas de paróquias são beneficentes; as comunidades se unem e conseguem ajuda financeira para o orçamento das mesmas”, comenta ela.
No Nordeste, a festa de São João é considerada feriado e é tão importante quanto a celebração do Carnaval ou do Natal. As celebrações que mais recebem turistas são as de Caruaru (Pernambuco) e de Campina Grande (Paraíba). No Norte, o destaque é o Festival de Parintins, evento folclórico que acontece em junho com a “disputa dos bois”. Nas regiões Sul e Sudeste a tradição “caipira” prevalece, mas o ambiente não é apenas rural: nos centros urbanos as festas juninas se espalham pelas ruas, escolas, clubes e paróquias. Abaixo, confira as histórias por trás de alguns dos símbolos mais tradicionais das festas juninas brasileiras.
Reportagem: Carolina Baldin Meira
Produção de multimídia: Flávia Nosralla
Edição: Gabriela Baraldi Passy