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Forró, lembrança cantada do sertão

Pode a pamonha estar no ponto certo, o milho cheirando, ou a fogueira queimando. Pode até enroscar o chapéu de palha nas bandeirolas quando por baixo delas passar. Mas se isso tudo não vir com aquele som característico da sanfona, o ritmo do arrasta-pé nordestino, a quadrilha não vai partir e nem o povo dançar

“A Fogueira tá queimando
Em homenagem a São João
O forró já começou
Vamos gente, rapa-pé nesse salão!”
Gonzaga – São João da Roça

Para todos, o forrobodó!

O forró é um estilo musical que se originou na região Nordeste do país, fruto de influencias culturais africanas, indígenas e européias. O ritmo ficou conhecido por todo o Brasil com a música de Luiz Gonzaga nos anos 40, quem conseguiu transmitir, através da união da sanfona ao triângulo e à zabumba, o cantar tradicional nordestino mundo a fora. A origem do termo forró tem diversas explicações. Enquanto Luiz Gonzaga, o mestre do baião, costumava contar que a palavra forró é fruto da expressão “for all”, termo que os ingleses anunciavam nas portas dos salões de bailes quando a festa seria para todos, é comum ouvir que forró pode ter origem no termo africano forrobodó, que em português significa um baile popular, uma festança.

Seja originado por forrobodó, ou por “for all”, o forró carrega consigo influências de ritmos  africanos, indígenas e europeus. E dessa mistura de culturas, surgiram também outros ritmos, como o Côco, Xaxado, Xote, Baião e as Quadrilhas Juninas. “A diferença nesses ritmos é justamente a cadência, sendo uns mais rápidos, outros mais fortes, ou mais leves”, explica Leon Souza, da Casa do Forró de Bauru.

Símbolo da festa junina, o chapéu de palha também é parte do universo do forró. (Foto: Laura Fontana)

Símbolo da festa junina, o chapéu de palha também é parte do universo do forró. (Foto: Laura Fontana)

A região sudeste do Brasil, com a maior concentração de migrantes nordestinos é, não por acaso, uma grande apreciadora do ritmo musical. E foi com o trabalho de músicos como Dominguinhos e do Trio Virgulino que o ritmo se tornou cada vez mais presente no interior de São Paulo.  “É impressionante como a figura de Gonzaga é conhecida e como é associada à cultura nordestina. Conheço muitas crianças que entoam Asa Branca, e isso é impressionante se pensarmos que hoje em dia a produção de música se tornou muito mais acessível com a tecnologia e que ‘explodem’ músicas novas a cada minuto”, comenta o músico e historiador Vinicius Dias Zurlo, integrante da banda Maluá e do grupo Pau de Arara Moderno. Mas para Vinícius, não se deve resumir a cultura nordestina à Gonzaga, apesar dele ter recolhido tantas tradições e subjetividades de sua vivência no sertão pernambucano e apresentado isso ao sudeste. “O nordeste é vivo demais para ter um representante só”, comenta.

Outro grande disseminador do cantar nordestino é até hoje o Trio Virgulino, que saiu de Pernambuco na década de 1980 rumo ao interior de São paulo e começou a fazer sucesso no Rádio Clube de Americana. Adelmo, Enok e Jaime, os representantes do Trio Virgulino, levaram para a região a tradição nordestina do Forró Pé de Serra e fazem até hoje uma média de 20 apresentações por mês.

As casas de forró de Bauru

Foi nos anos 2000, quando os grupos Falamansa, Bicho de Pé e Circuladô de Fulô atingiram o público jovem e universitário bauruense, que surgiu a Primeira Casa de Forró da cidade. O espaço Show.com chegava a juntar duas mil pessoas em shows de forró a partir de sua inauguração, no ano 2000. Na fase “de ouro” do forró em Bauru, várias casas abriram e fecharam, e foi em 2007 que Leon Souza abriu em sociedade a Casa do Forró de Bauru, importante estimulador da cultura forrozeira na cidade.

Além da Casa também ser conhecida por seus trabalhos sociais em hospitais e diferentes associações, foi a partir dela que se criou um grupo de dança que por 15 anos se apresentou nas principais festas juninas da cidade. O Forrozeiros de Bauru encerrou suas atividades neste mês de junho, com apresentações em festas de rua e de igrejas em toda a região. O forrozeiros dará lugar a um novo grupo que se chamará Dança Comigo e se focará na dança de salão, e assim como o grupo, a Casa do Forró também está se despedindo do público.

No próximo mês de agosto, o forró terá um novo espaço na quadra 8 da Av. Duque de Caxias.. A casa Badalos funcionará como um videokê de quarta a sábado, e aos domingos continuará com os grupos e bailes de forró (grupo de nível básico das 18h às 20h e o baile das 20h à 01h).

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As aulas seguidas pelo baile aos domingos atraem pessoas de todas as idades para a Casa do Forró
(Fotos: Laura Fontana)

O público do forró bauruense não é mais só universitário e conta com pessoas das mais variadas idades. Hoje, os interessados variam desde os 8 anos de idade até os 80. “Alguns procuram os bailes e as aulas por identificação cultural, mas a maioria hoje vem em busca de uma opção de saúde, de atividade física mesmo”, conta Leon.

Além de Gonzaga e do Trio Virgulino, Leon realça a importância inestimável de Dominguinhos para o forró ser muito popular no Brasil. “Dominguinhos sabia como é difícil começar na música, então apadrinhou quase todos os forrozeiros daqui do sudeste. Levava pra shows, ajudava com CD, e isso fez toda a diferença pra muitas bandas ficarem conhecidas”. Outros nomes que não podem ser esquecidos na história do forró são Marinês – rainha do xaxado, Jackson do Pandeiro – rei do ritmo, além de Elba Ramalho e do Falamansa, grupo mais recente, mas que sempre leva a tradição pé de serra em seus shows.

Curiosamente, o forró que mais teve seu estilo alterado não foi aquele produzido fora do nordeste, mas foi o estilo eletrônico produzido a partir da década de 1990 por Calcinha Preta, Aviões do Forró, etc. Estes, para Leon, “foram se modernizando e tirando da tradição, então preferimos o pé de serra, que vem da serra mesmo”.

Sobre a criação de novas formas de se fazer forró, o músico Vinícius Dias Zurlo acredita que “o forró universitário e o eletrônico são produtos de seu tempo, e a palavra ‘produto’ já adianta muito sobre suas finalidades. Seria ingênuo ou leviano dizer que as músicas, que ouvimos nas FMs, televisão e outros meios, não são produzidas com uma finalidade comercial, porém, não acho que todo o processo do fazer musical tenha a finalidade última da venda”. O essencial, para o cantor, é que a música tenha sentimento, o que o aproximou do ritmo em 2008 quando entrou em contato com a Casa do Forró de Bauru. “Gosto daquilo que me toca, que desperta minha sensibilidade, gosto de canções do Falamansa, Bicho de Pé, Estakazero, Peixe Elétrico, Circuladô de Fulô, e outros grupos que de certa forma receberam esse rótulo de universitário, encontro, ouvindo-os, a relação entre eles e o Forró tradicional ou como costuma-se dizer Pé de Serra e muitas vezes esses rótulos até se confundem”, relata o cantor.

Linha do tempo OK

Junho acabou, mas o forró continua!

“Eu gosto muito desse período do ano, tempo de festa junina, São João, São Pedro, Santo Antônio, mistura do sagrado e do profano, Fé e Festa. O cabra Reza e bebe quentão, faz promessa comendo paçoca, pé de muleque, pamonha, bolo e ainda tem fogueira pra esquentar a vida, esquentar a dança, e tem quadrilha pra brincar que nem criança.”, brinca Vinícius Zurlo, que em breve se apresenta com sua banda em Bauru.

No próximo domingo, 12 de julho, a banda Maluá toca na Casa do Forró de Bauru. “A gente vai tocar um bocado de coisa boa, Seu Gonzaga, Mestre Dominguinhos, e mais um bocado de forró bom pra dançar! Se achegue que é tempo de forrozear.” Quem quiser conhecer o trabalho de Vinícius como compositor pode também acessar o vídeo da canção Areal e sua página no facebook.

Reportagem: Mariana Caires
Produção de multimídia: Laura Fontana
Edição: Pedro Borges

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