Rua da Igreja, 1-55
Um perfil do Padre Reinaldo Batista da Cunha em véspera e no dia da quermesse na Paróquia de São Pedro Apóstolo, no bairro Vila Dutra em Bauru
Do altar até a porta de madeira mais alta são 26 passos. Do lado de fora, bem em frente à igreja, uma praça é o ponto de encontro entre as brincadeiras das crianças e a tarde de junho. Sexta-feira e uma pipa branca sobe com o vento, desvia das árvores e paira bem acima da cruz da Paróquia de São Pedro, no único quarteirão da metalinguística Rua da Igreja.
Junhos atrás, Reinaldo achava-se pela fazenda dos avós, durante as festividades dedicadas a São João Batista, Santo Antônio e São Pedro. “Eu cresci nesse sentido religioso”, ele conta e logo se lembra da pipoca, dos bolos e das todas outras comidas típicas que sua avó passava uma semana inteira preparando. “Falar em festa junina é sempre emocionante, porque me recordo muito da minha família, do meu avô, da minha avó e da maneira que eles cuidavam com todo carinho da junina do ano”. Hoje, Reinaldo é padre. Hoje, é ele quem prepara a comemoração.
É dia 26 e são 26 também os grandes bancos de madeira que guardam lugares para a comunidade da Paróquia. Em cima do altar, dá-se destaque em letras garrafais: “São Pedro rocha firme, aumentai a nossa fé”. As duas janelas coloridas, com vitrais azuis e amarelos, harmonizam com as paredes de verde bem claro, cobertas por quadros sacros. Não faltam à igreja nem a cruz nem o sino. Em uma das salas, Padre Reinaldo senta-se à mesa cujo centro ocupa uma estátua de São Pedro. Sem cabelos brancos por causa dos seus 35 anos, o hábito do Padre dá lugar a uma camisa cinza.
[metaslider id=6357]
O dia seguinte é o de sua segunda festa junina no bairro. Ordenado há 1 ano e três meses, ele foi logo direcionado à Paróquia de São Pedro e se lembra da timidez ao chegar – não conhecia ninguém, nem a região e nem a estrutura da igreja. Já é diferente hoje: “a gente vai criando um vínculo, que cresce dia por dia, como se fosse a nossa família que vai aumentando”, ele diz. Com a fala calma, bem pausada, o padre vê um momento de congregação nas festas de junho, de unidade pela fé, desse próprio surgimento de vínculos.
À noite, a quermesse de São Pedro
Dão 26 voltas os ponteiros do relógio da igreja, até chegar o sábado. Mas antes de começar a festa, termina a missa. Quem passa do lado de fora escuta a congregação dizer com ênfase: “Viva São Pedro! Viva o padroeiro”. Comparam-se as poucas estrelas no céu com as muitas luzes da cidade. A igreja vê Bauru ali do alto.
Aos poucos, o espaço cheio de bandeirinhas no fundo da paróquia vai se completando de crianças, jovens e adultos – a maioria do bairro mesmo. A banda toca clássicos sucessos sertanejos e as barracas recebem com sorrisos os convidados da festa. Milho, pastel, bebidas quentes, bolos, algodão doce, tudo preparado por voluntários ou de doações recebidas.
“Essa comemoração é algo muito bonito dentro da nossa Igreja Católica. É uma tradição, mas é uma tradição festiva que passa grande alegria e também passa a fé”, comenta o Padre Reinaldo contagiado por junho. “É a comunhão de uma família”. Na festa, ele aparece de batina, e passa por entre as mesas amarelas para cumprimentar e conversar com a congregação.
Na sexta anterior, ele disse pensar em como mudaram as festas com o tempo. Muito se uniu às tradições, como novos ritmos ou comidas ou mesmo a tecnologia. Mas o Padre vê a novidade em sentido de harmonia. “É nunca abandonar aquilo que já estava, mas globalizar o que é novo. No sentido cristão, de amor, de fraternidade, nessa grande comunhão que temos que viver nesse mundo moderno e novo”.
Acaba o sábado. No domingo seguinte, pela manhã, o Padre Reinaldo se prepara para a grande missa. É a homenagem ao apóstolo de Jesus, que dá nome àquela modesta paróquia no número 1-55, na Rua da Igreja.
[metaslider id=6360]
Reportagem: Lígia Morais
Produção de multimídia: Nathália Rocha
Edição: Marina Rufo Spada