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A depressão é azul

Você se sente mais cansado ou seu humor muda durante o inverno? Para algumas pessoas é normal se sentirem mais tristes durante esse período do ano, especialmente em países onde o inverno é mais rigoroso. Mas você sabe por que isso acontece?

 

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Fonte: morguefile.com

Durante o inverno ficamos mais cansados, sentimos mais sono e dormimos mais. Isso acontece porque a incidência de luz diminui durante a estação, deixando as noites mais longas e diminuindo a produção de serotonina, neurotransmissor que regula várias funções no nosso corpo, como humor, apetite e sono. O sol também é responsável pela vitamina D, que controla nossa saúde e bem estar. Além disso, durante o inverno, já que a duração da noite aumenta, nosso corpo produz mais melatonina, hormônio que regula o sono e é estimulado pela ausência da luz.

Para algumas pessoas, porém, essa alteração de humor – geralmente tristeza – é mais do que só resultado da alteração dos hormônios. Essas pessoas sofrem de uma doença chamada Depressão Sazonal, a famosa Winter Blues dos americanos. A doença costuma se manifestar no inverno – e, em alguns casos, no verão – e é muito parecida com a depressão comum. Como conta a psicóloga Andressa Dorothea, a doença também pode se manifestar em ambientes pouco iluminados pelo sol – mesmo na primavera ou no verão –, ou quando a pessoa não costuma se expor muito ao sol. Segundo ela, a doença é mais comum em mulheres de 20 a 40 anos e pode surgir em crianças também. A depressão sazonal tem como sintomas o cansaço, aumento do sono, alteração do humor, baixa autoestima, aumento do apetite, dificuldade de concentração e diminuição da libido sexual.

A psicóloga Petra Ehrenbrink, que também já sofreu depressão, diz que na Europa esse tipo de doença é muito comum, já que em alguns países nórdicos a incidência de luz no inverno cai para três horas por dia. “Morei um ano na Alemanha, no inverno de lá eu piorei muito, sentia cansaço, fraqueza…”. Por essa mesma razão, um tratamento que oferece resultados é a terapia da luz ou fototerapia, que, ao estimular a produção de serotonina através da exposição do paciente a uma luz emitida por um aparelho, beneficia o paciente tanto na depressão quanto em outros problemas como a tensão pré-menstrual e a regulação do relógio biológico – que também se relaciona com o bem estar, humor e sono – do paciente.

Apesar disso, o tratamento mais comum para a depressão sazonal é a terapia psicanalítica, que, segundo Andressa, “permite ao paciente redimensionar sua forma de lidar com a falta de prazer e perda de libido relacionadas a depressão e sustentar a singularidade de seu desejo, através da fala. Os sintomas são compreendidos e não apenas silenciados”. Ela, inclusive, se diz contra o uso de remédios. “Essa é mais uma nomeação para o que chamaria de angústia que é inerente ao ser humano. Uma vez que a medicina propõe remédio para tudo, para que se arriscar, lançando-se à incerteza do viver? Cada vez mais vemos a banalização do uso de medicamentos, inclusive nas crianças”, argumenta a psicóloga.

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Fonte: morguefile.com

 

Sofrendo lá fora

Esse também é o caso de alguns estudantes que vão fazer intercâmbio no exterior. Não acostumados com o inverno rigoroso de alguns países da Europa e Estados Unidos, alguns acabam apresentado sintomas parecidos com a depressão. É o caso de Caio Henrique, estudante de Design que está fazendo intercâmbio em Lincoln, na Inglaterra. Ele diz que não chegou a ficar depressivo, mas que sentia saudade do clima brasileiro. Somado a isso, “o stress dos trabalhos e a falta de dormir direito; por que quando você acorda para ir para aula está escuro, quando você sai de lá já tá anoitecendo e isso te deixa um pouco para baixo”, conta o estudante.

Outras pessoas já se sentem mais confortáveis com o clima europeu. Para Eduardo Oliveira, também estudante de Design e intercambista na Inglaterra, não foi tão difícil se acostumar com o clima: “Não sofri tanto quanto esperava no inverno. Ele só é chato, porque é muito frio, o dia é muito curto… Dá pra ficar um pouco estressado com isso, mas eu não me senti deprimido ou algo assim”. Já Andrea Serramo-López, que começou seu intercâmbio em 2011 e hoje mora em Paris, diz que seu primeiro ano na cidade foi difícil. Apesar disso, hoje já está acostumada com o clima e cita formas de superar o problema: “Aproveitando as coisas boas que o inverno oferece; eu ficava muito na rua com os amigos e quando fica frio assim é sempre um na casa do outro, juntando um dinheiro, dá pra comprar um vinho e ficar feliz”.

 

E o que fazer?

Já que o inverno é responsável pela diminuição da serotonina, médicos recomendam que se façam atividades que aumentem a produção do neurotransmissor. Como a psicóloga Petra Ehrenbrink cita, “o mais natural é tentar aproveitar o pouco sol que você encontrar e fazer exercícios físicos, que geralmente por si só geram serotonina”. A dentista Anna Carolina, que faz tratamento para depressão comum, conta que seu humor também piora durante o inverno e, apesar de consultar um psiquiatra, também toma outras medidas. “A melhor coisa é se manter muito ativa. Pra quem tem depressão a pior coisa é ficar em casa, tirar férias. Porque a pessoa deprimida quando está em casa só quer saber de ficar na cama”, diz  a dentista.

Além de estar sempre ativo, a pessoa que sofre com a depressão de inverno – ou qualquer um que sinta mudanças de humor durante o inverno – pode fazer mudanças no seu dia a dia para que os sintomas sejam aliviados. Tentar se expor ao sol pela manhã talvez seja a mais fácil delas. A luz do dia deve ser aproveitada ao máximo, mesmo sem ter que sair de casa. Abrir as janelas e cortinas e aproveitar a luz desse período do dia é extremamente benéfico para quem sofre com a perda de serotonina. Passeios e atividades ao ar livre, quando possíveis, também podem contribuir para a melhora. Além disso, a pessoa pode tentar se alimentar melhor e evitar o excesso de carboidratos, que só aumentam a ansiedade e depressão. Essas medidas, porém, não devem substituir a visita ao psicólogo, fundamental para se ter um diagnóstico adequado e entender melhor o problema.

Leia mais:

How to Fight Winter Blues (em inglês)

10 Cool Ways to Beat the Winter Blues (em inglês)

Quando a alegria se vai

 

Reportagem: Giovanna Diniz

Produção Multimídia: Michael Barbosa

Edição: Tânia Rita

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