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Do Espírito Santo a Bauru: novo tratamento e nova vida

Se a Copa do Mundo de futebol masculino do ano passado tornou-se inesquecível para grande parte dos brasileiros no setor esportivo, o período do Mundial marcou a vida de M.A. por outros motivos. Nascida em 2013, a menina de São Mateus-ES, cidade que fica a 213 quilômetros da capital Vitória, teve uma má formação congênita durante sua gestação, que fez com que nascesse com uma fissura no lábio e no palato.

A pequena M.A. saiu de São Mateus, Espírito Santo, acompanhada por duas responsáveis para receber o tratamento oferecido pelo Centrinho em Bauru, São Paulo. (Foto: Moema Novais)

A pequena M.A. saiu de São Mateus-ES, acompanhada por duas responsáveis para receber o tratamento oferecido pelo Centrinho em Bauru-SP (Foto: Moema Novais/Repórter Unesp)

Um ano depois, durante a Copa, a menina sofria por ter sido abandonada por sua mãe, que a deixava sozinha em casa para assistir aos jogos de futebol em outros lugares. Pouco tempo depois, M.A. foi enviada a uma casa-lar em São Mateus, em que passaria a ser tratada e cuidada com atenção e afeto. Assim que chegou em seu novo lar, alguns maus-tratos foram percebidos de acordo com Tatiane Araújo Cardoso, responsável pelo setor administrativo da casa-lar. Já no abrigo, M.A. começou a ter sua má formação tratada.

Por determinação da Secretaria de Saúde do Estado, sob responsabilidade do Tratamento Fora do Domicílio (TFD), foi recomendado que a criança fosse deslocada até Bauru em 2014 para que fosse dado um primeiro passo em relação à fissura labial de M.A. Foi determinado pelo TFD que a menina deveria ter seu tratamento realizado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (USP), popularmente conhecido como Centrinho. Esse hospital dedica-se a algumas especialidades como fissuras na face, deficiência auditiva, visão subnormal e algumas síndromes decorrentes de fissuras.

Em 2014, Tatiane se juntou a uma das mães de criação da casa-lar para trazer a pequena M.A. a Bauru, onde realizaria exames, consultas médicas e, por fim, uma cirurgia de correção do lábio. A viagem, que deveria ter duração de três dias, foi expandida para mais 12. O aumento no tempo de estada no estado de São Paulo teve como motivo um resfriado que M.A. contraiu.

Tatiane Araújo Cardoso e Lílian de Oliveira Carrilho trabalham em uma “casa-lar” cuidando de mais de 20 crianças. Elas enfrentaram 1.300 km para que M.A. continuasse o tratamento para lábio leporino. (Foto: Moema Novais)

Tatiane Araújo Cardoso e Lilian de Oliveira Carrilho trabalham em uma “casa-lar” cuidando de mais de 20 crianças. Elas enfrentaram 1.300 km para que M.A. continuasse o tratamento para fissura no lábio e no palato (Foto: Moema Novais/Repórter Unesp)

Após o lábio, foi a vez do palato. Numa nova viagem rumo a Bauru, Tatiane voltou com M.A., agora acompanhada por Lilian de Oliveira Carrilho, outra cuidadora da casa-lar. As duas saíram de São Mateus na noite de terça-feira (14) para chegar a Bauru na manhã de quinta (16). Dessa vez, o zelo foi redobrado: saídas de ar-condicionado fechadas e blusas, mantas e coberturas que envolveram o pequeno corpo da menina marcaram os ônibus em que as duas estiveram.

Assim que chegaram, as duas cuidadoras rumaram ao Centrinho com M.A., onde foram atendidas o mais rápido possível. Sobre o tratamento, Tatiane tem apenas elogios: “é de outro mundo. É muito bom tanto o atendimento quanto a qualificação dos profissionais”. Na manhã de quinta-feira, a maratona foi intensa para a criança e suas mães: um exame de sangue, consultas a um dentista e dois médicos e a cirurgia de correção do palato, que poderia ser realizada ainda nesse dia.

M.A. reage bem ao tratamento. O próximo passo, após o palato, será a dentição. A previsão médica é que todo o processo dure até os 20 anos da menina, quando algumas cirurgias plásticas poderão ser realizadas a fim de aprimorar a correção das fissuras. Sobre o futuro a curto prazo, Tatiane adianta: “eu dei entrada pra adotá-la e nós estamos aguardando [a tramitação judicial]. Eu já me sinto mãe dela e eu acho que já sou”.

Assim que M.A. chegou a casa-lar de São Mateus, no meio do ano passado, ela foi encaminhada para receber o tratamento específico do lábio leporino. Agora em julho foi a segunda vez que ela veio para Bauru fazer o seu tratamento, na companhia de Tatiane. Foto: Moema Novais

Assim que M.A. chegou à casa-lar de São Mateus, no ano passado, ela foi encaminhada para receber o tratamento específico da fissura labial e no palato (Foto: Moema Novais/Repórter Unesp)

*M.A.: por opção das cuidadoras da criança, o nome da menina foi preservado.

Reportagem: Victor Rezende
Produção multimídia: Moema Novais
Edição: Laura Fontana

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