Bauru: Pelos Trilhos da História
A malha ferroviária de Bauru foi uns dos principais centros de transportes no país. Café, minérios, gasolina e até animais já foram carregados nos trens que passavam pela estrada de ferro. Esse é um pedaço da história de Bauru, contado por suas linhas de trem.
Bauru, localizada no centro do estado de São Paulo, tem a sua história contada através dos saudosos trilhos. Já se passaram 110 anos desde os primeiros sinais de ferrovia no coração de São Paulo. “Foi um crescimento de 1500% da população”, diz Paulo Henrique Pereira, funcionário do Museu Ferroviário de Bauru, quando questionado sobre o impacto das ferrovias em Bauru, “em semanas você via diferenças na cidade”. Em 1905, quando se iniciou a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), a cidade tinha apenas 600 habitantes. Além dos cafeicultores e fazendeiros, a região era ocupada, principalmente, por sua população original: índios de diversas etnias, a maior parte da tribo kaingangs.
Paulo Henrique, conhecido como PH no museu, relata o genocídio da população indígena – fosse pelas mãos de bugreiros com arma de fogo ou pelo veneno jogado na água e na plantação de milho -, “ou o índio comia veneno, ou bebia ele”. Rapidamente a população indígena foi desaparecendo de Bauru, “de 12000 índios (em 1850) acabou sobrando 170”, conta Paulo Henrique. O caminho estava aberto para as grandes empresas ferroviárias e para os donos das fazendas de café ocuparem Bauru definitivamente.
O cruzamento das ferrovias transformou Bauru em um grande centro comercial; casas bancárias, armazéns atacadistas, setores de saúde e educação começaram a se estabelecer na cidade. Ainda em 1905, chegou a Bauru a Estrada de Ferro Sorocabana. Cinco anos depois, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro ganhava uma estação na cidade, tornando Bauru o maior entroncamento ferroviário do país. “A linha Noroeste saia de Bauru e ia em direção ao Mato Grosso, chegando até a Bolívia. A Sorocabana vinha de São Paulo, passava por Sorocaba, Bauru e ia para o sul do estado; já a Paulista, que também saia de São Paulo, passava por Campinas, Bauru e ia até Panorama”, explica o funcionário do Museu.
Por ligar tantas regiões, Bauru acabou ficando conhecida como cidade passagem. “Para você ter uma ideia, eram 27 trens de passageiros por dia parando na estação central”, conta PH sobre o período auge das ferrovias, 1957. A conhecida Casa da Eny, famoso bordel brasileiro, era o local de dormida de muitos desses viajantes.
Bauru tornou-se uma importante cidade para a região. A ferrovia começou como meio de transporte do principal produto paulista: o café. “Posteriormente, toda a parte produtiva do estado de São Paulo era escoada pela ferrovia, além da produção agrícola e mineral do Mato Grosso”, conta PH. O funcionário ainda destaca que o trabalho das ferrovias era tão intenso que “por volta de 1930, tinham 5 mil funcionários da NOB, só aqui em Bauru”. E foi nos anos 50 que a malha ferroviária chegou ao seu auge, mas a partir de então perdeu força e incentivo do governo. “O transporte rodoviário passou a ser o grande arrecadador de impostos”, comenta PH.
O investimento nas rodovias fazia parte do plano de governo do então presidente Juscelino Kubitschek, que pretendia progredir o país 50 anos em 5. Foi inspirado nesse plano que Bauru, na década de 60, recebeu o apelido de Cidade Sem Limites. “A ideia era torna Bauru uma cidade progressista mas, na realidade, o que ficou disso foi o epígrafo Sem Limites”, fala Paulo Henrique.
Aos poucos, os imponentes trilhos do maior entroncamento ferroviário do Brasil foram perdendo força. “Em 76, a Sorocabana parou com os trens de passageiro, em 93 foi a vez da Noroeste e da Companhia Paulista em 2001”, relata PH, “o final foi muito triste”. Mas todas elas ainda continuaram como trens de carga.
O prédio da estação central, inaugurado em 1939, hoje está abandonado. PH conta que existem proposta de transformar o prédio em um Mercado Municipal ou recuperar a estação, mas tudo está apenas em fase de discussão na prefeitura. O Museu Ferroviário recebe dezenas de pessoas, “principalmente de fora”, conta PH. Ele lamenta a falta de interesse da população local, “tem gente que não sabe nem que existe o museu”. No entanto, o livro com as assinaturas dos visitantes revela que o local já recebeu pessoas de todo o Brasil e do mundo, do Rio Grande do Sul e Pernambuco até da Croácia e Emirados Árabes.
Reportagem: Ihanna Barbosa
Produção multimídia: Carolina Rodrigues
Edição: Lígia Morais
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