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Entre o virtual e o real: a constituição das amizades em diferentes plataformas

As interações entre amigos são feitas cada vez mais por meio de redes sociais e plataformas digitais. (Foto: Amanda Moura/Repórter Unesp)

O que antes era estranho, agora já é tema comum. Uns apoiam fervorosamente, outros são mais cautelosos e preferem manter uma opinião mais discreta em relação a apenas um tema: amizades virtuais. E a amplitude de discussão do tema é bastante grande: debatido, ao mesmo tempo, por pesquisadores em psicologia e em música do apresentador Celso Portiolli.

“Para mim, não há diferença entre uma grande amizade construída por plataformas de comunicação e amizades de contato pessoal”, relata o estudante Eduardo Galhardo (18), que morava em Campo Verde (MT), mas se prepara para entrar na vida universitária num curso pré-vestibular em Araçatuba (SP), a 1.000 quilômetros de sua antiga cidade. Galhardo é um dos muitos jovens brasileiros que, adaptados à era digital, não fazem distinção entre relacionamentos nascidos pessoalmente e relacionamentos que surgiram com a Internet como plataforma. No caso do estudante, sua primeira amizade virtual nasceu em 2008, quando ele tinha apenas onze anos de idade e frequentava um fórum de discussão sobre televisão.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 49,4% da população brasileira acima de dez anos de idade usaram a Internet ao menos uma vez nos últimos três meses antes de ser feita a pesquisa, em 2013 por plataformas como computadores e tablets. Num Brasil em que metade de sua população está conectada à Internet, é comum que surjam relacionamentos de aproximação e, também, de animosidade entre pessoas que nunca se viram pessoalmente antes de terem contato em âmbito digital – o qual ocorre, possivelmente, devido a interesses em comum.

“A autenticidade dos afetos nas relações mediadas pela Internet revela uma nova maneira de estar junto na qual os sujeitos são mutuamente afetados pelas trocas simbólicas que se dão nas conversas online”, justifica a psicóloga Lívia Godinho. Para ela, as formas de pensamento acabam modificadas com as novas experiências de relacionamento e os laços de amizade, que são mediados pela Internet, “configuram relações de intensas trocas afetivas nas quais as pessoas são sensivelmente afetadas por aquilo que o outro pensa e expressa através da palavra escrita”.

O que também é recorrente é a apropriação de assuntos constantemente debatidos por parte da ficção. Assim, a produtora do Repórter Unesp Amanda Moura comenta, no vídeo abaixo, algumas obras da ficção que têm como tema os relacionamentos virtuais. Confira:

A batalha entre o virtual e o pessoal

Se existe a corrente que defende que as relações virtuais são autênticas e, por isso, devem ser respeitadas como tal, existe a corrente que relativiza essa autenticidade. Sherry Turkle, psicóloga e socióloga americana do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), defende, em seu trabalho, que a virtualização das relações entre os indivíduos influencia a perda de capacidade das pessoas em lidar com as complexidades existentes nas relações humanas. “Considerando que as pessoas podem construir personalidades e identidades que nem sempre são condizentes com a realidade, as relações mediadas pela Internet podem ser um engodo, o que sugere que as proximidades virtuais não são, necessariamente, efetivas como as reais”, é o que sugere Paulo Silvino Ribeiro, doutor em Sociologia, em texto veiculado originalmente no site Brasil Escola.

Para a psicóloga Lívia Godinho, pesquisadora sobre o tema amizades virtuais, “a suposta vilã dos laços afetivos e duradouros parece ter se consolidado como mais um veículo para trocas de conhecimentos, diálogos e experiências”. Entretanto, ela afirma que “os temores em relação ao esmorecimento da vida social estão fora de contexto, uma vez que pesquisas têm demonstrado que os relacionamentos virtuais não substituem as relações face a face”.

Se o ditado popular que diz que o seguro morreu de velho se fizer verdade, Eduardo Galhardo pode se considerar um de seus praticantes. Precavido quanto às amizades que tem mediadas no âmbito digital, o estudante diz que nunca conheceu nenhum amigo virtual pessoalmente e considera que “a Internet é um fator que escurece a cena, deixa o cenário das amizades sombrio. Isso faz dela algo perigoso, mas também muito excitante. Já fui ingênuo de confiar em muitas pessoas e talvez ainda seja, mas já aprendi muita coisa, as que me permitem criar amizades seguras”.

Reportagem: Victor Rezende
Produção multimídia: Amanda Moura
Edição: Giovanna Hespanhol

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