A moda é ser blogueira
Blogs de moda criados por apaixonadas por estilo ditam tendências para o público e para as passarelas
Em tempos de Instagram, Facebook e YouTube, não é só quem assina revistas como a Vogue que está por dentro dos trends da moda. Ficou mais fácil decidir qual a melhor opção de roupa para uma festa ou até mesmo estar sempre antenado no que é in e no que é out no inconstante mundo fashion. Com o avanço das redes sociais e da internet como um todo, qualquer pessoa pode ter acesso às dicas mais recentes por meio das blogueiras de moda, mesmo se não for um apaixonado pelas tendências das passarelas.
Hoje, blogueiras e blogueiros atraem milhões de seguidores fiéis em busca do que há de mais novo na moda, quase sempre movidos pelo desejo de seguir os passos dessa ou daquela celebridade. Mesmo sem acesso às runways mais badaladas, o público que gosta de manter o estilo atualizado pode contar com dicas que vão das sapatilhas ao make up completo. Dos veículos mais conhecidos no Brasil, está o Garotas Estúpidas, da pernambucana Camila Coutinho, que atrai diariamente mais de 100 mil acessos.
Outro bastante conhecido é o Super Vaidosa, da mineira de 26 anos, Camila Coelho. Ela mantém 1,6 milhão de fãs em seu canal no YouTube e 3,1 milhões de inscritos em sua conta no Instagram. Assim como as duas Camilas – que atualmente fazem propagandas para diversas marcas de produtos de beleza nacionais e internacionais -, a italiana e designer de sapatos, Chiara Ferragni, faz fortuna com aquele que é considerado, segundo um ranking formulado pelo site Signature9, o blog mais influente do mundo, o The Blond Salad.
Érika de Moraes, professora e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), atua na área de cultura e mídia e mantém um blog de moda e viagens. Ao trabalhar com Jornalismo voltado para o público feminino, Érika acompanha diversos blogs de moda e alerta para as influências positivas e negativas desses sites. Segundo ela, é importante que o público filtre o que lê e que tenha o cuidado de perceber os sites que se preocupam apenas com a divulgação de marcas. “Muitos deles viraram uma indústria e uma imposição. Brinco que é a ‘imposição do must have’. E digo que ‘must have’ é vocabulário que não visto”, conta. Para a professora, as informações divulgadas por alguns blogs bem-intencionados podem ser positivas quando contribuem para inspirar e ajudar leitores e leitoras a descobrirem seu próprio estilo; por outro lado, quando o hobby se torna uma ferramenta mercadológica, aquele conteúdo passa a ser uma forma de manipulação do público.
Érika conta que, durante a sua pesquisa, notou que as blogueiras não são, necessariamente, estudantes de Moda. As profissões são várias, como publicitárias, jornalistas e arquitetas. “No entanto, para que o blog conquiste credibilidade, é necessário que a blogueira passe a pesquisar sobre o assunto por meio de cursos ou leituras. Caso contrário, a opinião se torna apenas um ‘achismo inconsequente e banal’”, alerta a professora.
A blogueira Victoria Machado é estudante de Medicina na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mantém, há um ano e meio, o Sendo Chic, juntamente com sua irmã e uma amiga. Ela não é uma estudante de Moda, mas conserva os conhecimentos em dia por meio de outros blogs, como o já citado Garotas Estúpidas e o Niina Secrets. Victoria conta que fez alguns cursos de maquiagem e de tratamento capilar e que tem a ajuda de amigos que estudam Moda na Universidade na hora de escrever sobre tendências. “Atualmente, mesmo fazendo faculdade de Medicina, eu tento participar de alguns cursos eventuais sobre moda”, explica.
A professora Érika Moraes diz que blogs como o da Victoria passam muitas vezes a ditar a moda, a indicar tendências e, inclusive, a ajudar na democratização de tais tendências. “Por outro lado, quando uma blogueira se torna muito famosa e passa a apresentar apenas marcas caras, o objetivo inicial se perde e o ciclo se reverte para a moda inacessível”, alerta. Os sites, segundo a professora, costumam ser criados por apaixonados pela moda. Como exemplo, o Sendo Chic surgiu, também, pela influência que Victoria e sua irmã receberam de sua mãe, que é dona de um salão de cabeleireiro.
Apesar dos cuidados com o tipo de informação que as blogueiras passam para o seu público, é exatamente a partir do feedback de seus leitores que vivem os blogs. Victoria tem a contribuição também de mais duas amigas; no total são cinco garotas que mantêm o Sendo Chic atualizado a cada dia da semana, já que a atualização constante é a chave para o sucesso e para a maior audiência. “Esse feedback é a nossa principal motivação a continuar a fazer posts. É muito gratificante receber elogios ou desabafos de leitoras que se identificam com os nossos textos e dicas”, conclui Victoria.
Reportagem: Marina Rufo Spada
Produção multimídia: William Orima
Edição: Victor Rezende