Adotar é um ato de amor e responsabilidade
O animal de estimação necessita de carinho e cuidados. Ele é um ser vivo, não um objeto!
Membros da família, companheiros, melhores amigos, filhos. São estas as formas que muitos classificam seu animais de estimação. Mas, infelizmente, essa demonstração de afeto e cuidado não faz parte da realidade de muitos cães e gatos do nosso país. Aqui, muitos ainda são vítimas de maus tratos e do abandono, ficando muitas vezes em situação de risco de morte.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2014, que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados: entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados. No interior, em cidades menores, a situação não é muito diferente. Em muitos casos o numero chega a 1/4 da população humana.
Estes números apontam um situação alarmante, tanto do ponto de vista da saúde e bem-estar – uma vez que estes animais estão nas ruas, ficam expostos à doenças e a outros riscos, como serem atropelados – como do ponto de vista social. Assim como os seres humanos, os animais que vivem nas ruas se encontram em situação de marginalidade e exclusão da sociedade. Um exemplo disso, é a maneira como as pessoas lidam com isso. É comum vermos que, ao cruzarem com um cão ou um mendigo, muitas troquem de calçada. Essa atitude vem acompanhada do medo que eles possam ser violentos ou terem alguma doença contagiosa.
Com o propósito de garantir a questão do bem-estar dos animais e das pessoas, muitas cidades contam com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Tendo como objetivo principal o de impedir a propagação de zoonoses – doenças que incluem nomes como a raiva, leptospirose, toxoplasmose, histoplasmose, leishmaniose e até a dengue – os centros de controle também resgatam animais para adoção, como cães e gatos.
A adoção é tida como uma grande arma contra o abandono de animais. Ao serem retirados das ruas, eles saem da zona de risco de zoonoses e outras doenças e têm a chance de obter qualidade de vida. Em artigo para o portal CachorroGato, o médico veterinário Ricardo Tubaldini aponta alguns benefícios de adotar um cão, como o carinho que eles tem com seus tutores.
Ricardo também esclarece que “o comportamento indócil dos cachorros adotados costuma ser devido à sua vida antes de ser levado para uma casa confiável. Muitos desses cães vêm das ruas ou de locais onde não eram bem tratados, o que os fazem assustados e hesitantes nas primeiras aproximações, mas quando eles percebem que seus novos donos são confiáveis e só querem dar carinho, os cachorros se entregam e buscam retribuir o carinho da melhor forma possível.”
No entanto, os CCZs muitas vezes não conseguem resgatar todos os animais. Além disso, todo centro de controle tem um número de capacidade máximo para abrigar os bichinhos. Outro problema é que, por ser um tipo de instituição veiculada ao município, nem toda cidade tem. Nesse ponto, a atuação de ONGs, associações e institutos que buscam ajudar cães e gatos se torna essencial.
Trabalho por amor
A ação de projetos que visam promover a adoção e proteger estes animais cresce no país, especialmente pela possibilidade de usar mecanismos da internet como as redes sociais. Eles acabam se tornando grandes aliados na causa animal e muitas vezes são movidos por pessoas que fazem isso por amor aos bichos, já que são projetos sem fins lucrativos. O objetivo básico destas ONGs, associações e institutos é o de resgatar, cuidar e doar para famílias responsáveis, além de defender campanhas de adoção e de proteção aos animais contra os maus-tratos.
Segundo o Guia de Mídias, existem 308 sites referentes à ONGs de Animais / Proteção e Preservação / Adoção no Brasil. Mas o número real de projetos é maior, visto que muitos trabalham apenas com ferramentas como o Facebook e o Twitter. Em geral, o surgimento de uma ONG ou associação é de origem municipal ou regional por uma questão de logística: é mais efetivo trabalhar dentro de um espaço delimitado, principalmente no resgate e na doação. É mais viável adotar um animal na própria cidade do que viajar quilômetros para isso, por exemplo.
Cachorro não é acessório!
Um desafio enfrentado tanto pelos CCZs como pelas ONGs é o preconceito das pessoas em relação aos animais sem raça definida (SRD), popularmente conhecidos como vira-latas. A preferência por um “animal de raça pura” ainda é maior e está vinculada à um questão de status – ter um cão de raça é como ter um objeto de marca.
No início da domesticação, os cães eram empregados pelo ser humano em diferentes serviços (pastoreio, boieiros, caça de pequenos e grandes animais, caça de aves aquáticas, farejadores, guarda, corrida, etc.). Mesmo sem conhecer os fundamentos da genética, o ser humano sabia, por fatores empíricos, que se cruzasse cães com determinadas características e aptidões teria maior chance de encontrar essas mesmas características em suas proles.
Esse processo se acentuou ainda mais a partir do surgimento dos Kennel Clubs (entidades que pregam cinofilia, ou seja, o “melhoramento de raças caninas”), no século XIX. Desde então, cães já não eram mais cruzados para fornecer animais mais aptos para realizar trabalhos, mas simplesmente como hobby, com o intuito de selecionar os que expressassem determinadas características físicas. Para alcançar as características desejadas, valia até mesmo apelar para o endocruzamento, ou seja, o cruzamento entre irmãos, país e filhos, avôs e netos, etc. Esse tipo de cruzamento, segundo a médica veterinária Maíra Mouron, acarreta muitos problemas de saúde. “Os criadores não respeitam a consanguinidade”, afirma.
Atualmente, a criação de raças puras acaba atendendo apenas questões supérfluas dos Kennel Clubs, que promovem concursos e premiações para as “melhores raças” em determinados quesitos como pelagem, estética, adestramento, tamanho, etc. Esses concursos muitas vezes refletem no comércio destes animais, pois são esses clubes que estabelecem faixas de preço para cada raça.
Além dos preços altos, o comércio de cães e gatos atrai pessoas que estão apenas interessadas no lucro e não se importam com o bem-estar do animal. Maíra adverte que colocar um animal para cruzar requer muitos cuidados e consciência por parte do tutor. Respeitar o ciclo das fêmeas, alimentação adequada e analisar a saúde do genitores (pais da ninhada) são alguns dos pontos básicos que devem ser respeitados. “Você nunca pode colocar o animal [para cruzar] em cios seguidos”, explica.
Quando a fêmea está prenha, sua alimentação deve ser suplementada: “Uma ração superpremium, com base em cálcio e vitaminas porque além do cálcio para formar o leite ela tem que formar os ossos do feto”. Além disso, é necessário ter conhecimento das condições de saúde dos animais que irão cruzar, pois, se houver algum problema de saúde – ou genético – isso pode afetar a gestação ou mesmo ser passado para os filhotes. Maíra exemplifica com o caso de cruzamento de cachorros de grande porte: “Eles tem que ter um controle de displasia, pois se o pai e mãe têm, todo mundo vai ter. E todo mundo vai ter que operar”.
Infelizmente, a veterinária conta que há muitos “curiosos que querem ganhar dinheiro e que não gostam de bichos” e isso faz com que os cuidados necessários para o cruzamento, a gestação e o pós-parto não sejam tomados. Isso afeta a qualidade de vida do animal que, em alguns casos, leva ao óbito.
Para Maíra, assim como muitos veterinários, a melhor opção é a castração. “Com cinco meses eles já devem ser castrados, tanto macho quanto fêmea, tanto cão quanto gato. Isso diminui a população e diminui o índice de doenças como tumores de mama, testicular e de ovário.”
Os mitos do mundo felino
Quando se fala em preconceito no universo felino a raça não é o divisor de águas – poucas pessoas conhecem as raças dos gatos – e afeta toda a espécie. Esse estigma é uma herança que os bichanos carregam desde a Idade Média, em que os gatos eram associados ao misticismo e portanto foram caçado e queimados vivos junto às mulheres acusadas de bruxaria.
Por serem animais de espírito independente e que tem necessidade de uma rotina própria – como sair para caçar e namorar – eles são confundidos como animais indiferentes e desapegados. Muitas pessoas argumentam também que um gato não se apega ao tutor, mas à casa. O veterinário Ricardo Tubaldini, em outro artigo para o portal CachorroGato, afirma que essas suposições são equivocadas: ”Por serem territorialistas, são sim apegados à casa, mas se adaptam facilmente a outro ambiente”.
Ele também esclarece que os felinos necessitam de carinho e atenção bem com o retribuem, porém de uma maneira diferente que a dos cães. “Parece ser do senso comum esperar que os felinos companheiros tenham o mesmo temperamento submisso dos cães, o que não é possível visto que pertencem a espécies completamente distintas, exigindo tratamento diferenciado.” explica.
Segundo a veterinária Maíra, o interesse por gatos vêm crescendo, especialmente em cidades maiores onde as pessoas saem cedo para trabalhar e voltam tarde. “O cachorro precisa de mais atenção. O gato tendo a comidinha dele e o local limpo [para fazer as necessidades], quando o dono chega em casa aquele tempo com ele já é suficiente para o animal”, explica. Em São Paulo e no Rio de Janeiro existem clínicas que só atendem gatos, algo que ilustra bem esse cenário em expansão.
Quero adotar
Quem quer ter um cachorro ou gato pode recorrer aos centros de controle ou instituições não governamentais. Mas antes de tudo é preciso estar consciente das responsabilidades de se ter um animal de estimação. A Associação de Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados (AMPARA) disponibiliza em seu site cuidados básicos que se deve ter :
- Os animais precisam de ração e água à disposição, de um espaço adequado para morar e para brincar.
- Todo animal precisa de cuidados veterinários, portanto, devem ter um médico veterinário que cuide de sua saúde, ministrando as vacinas e demais medicamentos necessários em casos de doenças.
- O responsável pelo animal deve ter tempo para brincar e passear com ele – é bom lembrar que nossos queridos companheiros não devem ser tratados como coisas, mas sim como seres sensíveis que tem suas necessidades e carências.
- Recolher as necessidades do animal durante o passeio.
- Nunca mantê-lo preso em corrente, isto é um ato de crueldade.
- Nas férias, não abandonar o seu animal, mas sim, deixá-lo sob os cuidados de um parente ou amigo ou ainda em hotéis para este fim.
- Educar o seu animal – é necessário impor limites, conforme orientação do veterinário responsável. Tal atitude beneficiará a relação entre o dono e seu animal de estimação.
- O adotante deve ter o conhecimento de que os animais dão custos/despesas que deverão ser suportados por ele, tais como remédios, ração, vacinas, etc.
- Os animais tem um tempo de vida, em torno de 12 anos para cães e gatos. Os animais não devem ser abandonados, esta não é uma atitude humanitária. A responsabilidade da adoção de uma VIDA é para a VIDA inteira.
- Tomar cuidado para o animal não procriar. A esterilização é um ato de amor, assim, além de contribuir para o controle populacional dos animais estaremos também contribuindo para qualidade de vida desses nossos companheiros de jornada.
- Vide os benefícios da esterilização.
Caso você pretenda adotar um animal que está na rua, a primeira coisa a ser feita é levá-lo ao veterinário para que ele examinado, vermifugado, vacinado e castrado.
Serviço: Adoção em Bauru (SP)
Centro de Controle de Zoonozes (CCZ)
Endereço: Rua Henrique Hunzicker, quadra 2 – Jardim Bom Samaritano
Telefone: (14) 3103-8050
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 9h às 16h
[ONG] Naturae Vitae
Telefone: (14) 3018-4726 / 98122-7378
Site: www.naturaevitae.org
Email: contato@naturaevitae.org
Facebook: www.facebook.com/pages/Naturae-Vitae
[ONG] SOS Gatinhos Bauru
Email: sos_gatinhos@yahoo.com.br
Facebook: www.facebook.com/SosGatinhosBauru
Reportagem: Lívia Lago
Produção Multimídia: Bibiana Garrido
Edição: Giovanna Diniz
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