Os desafios econômicos de um intercâmbio
Cada vez mais os estudantes de graduação buscam incrementar seus currículos profissionais com um intercâmbio, mas para embarcar é preciso conhecer os desafios de se manter financeiramente em outro país
Ampliar seus conhecimentos sobre determinada cultura, fazer novos amigos, aprender novos idiomas, ser mais independente, dar um ‘upgrade’ no currículo… Essas são algumas das motivações que levam estudantes a procurar pelo intercâmbio enquanto estudam em seu país de origem. No entanto, por melhores que sejam as oportunidades, um setor acaba por atuar de forma decisiva em viagens internacionais: a economia.
Em funcionamento desde 2011, o Ciência Sem Fronteiras se tornou o principal método de estímulo ao intercâmbio em universidades estrangeiras com a distribuição de bolsas para determinadas áreas do conhecimento. O programa, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, contempla as áreas de engenharia, biologia, ciências biomédicas e da saúde, novas tecnologias de engenharia construtiva e indústria criativa, dentre outras. A partir de 2016, no entanto, o Ciência Sem Fronteiras sofrerá um corte de 40,3% em seus recursos e os R$ 2,1 bilhões de verba serão destinados para manter os estudantes que já estão no exterior. A iniciativa inibe a criação de novas vagas. A determinação do corte veio do governo federal, explicitada na proposta orçamentária para 2016, entregue ao Congresso Nacional em 31 de agosto.
O sistema de operações do Ciência sem Fronteiras é semelhante a bolsas oferecidas por universidades em parcerias com a iniciativa privada. Assim, mesmo com o congelamento do programa governamental, a pergunta sobre como se manter em um outro país, com outra cultura e, na maioria das vezes com outra língua, continua. A resposta varia de acordo com a universidade e grande parte dela está inserida nos editais dos programas de intercâmbio.
Para responder a algumas dúvidas sobre a experiência de um intercâmbio em outro país, o Repórter Unesp entrevistou três estudantes da Universidade Estadual Paulista: José Roberto Damian Filho, que cursa Engenharia Elétrica no câmpus de Bauru e estudou durante um ano em Portsmouth, Inglaterra, na University of Portsmouth; Mariana Iamaguti e Danielle Naomi, que cursam Design, também no câmpus de Bauru da universidade, e estiveram por um ano em Nova York, Estados Unidos, na Parsons School of Design.
Semelhanças e diferenças
Bolsa-auxílio
Tanto Danielle quanto Mariana recebiam o mesmo valor de bolsa-auxílio: US$ 700 por mês. Segundo Mariana, esse valor era oferecido “porque Manhattan era considerada um lugar de alto custo”. Danielle relata, também, que, além desse valor, cada uma recebia um auxílio de deslocamento para as passagens de avião, um valor para a compra de materiais, auxílio-moradia e um vale alimentação. “[Com esse valor] dava para mantermos nossas necessidades básicas e ainda conseguíamos passear um pouco”, conta Mariana.
Sob as diretrizes do mesmo programa – no caso, o Ciência Sem Fronteiras -, José Roberto conta uma situação diferente da vivida por Mariana e Danielle. O estudante relata que recebia £420 por mês, mas não dispunha de vale-alimentação. A semelhança se dá no auxílio de deslocamento para a compra da passagem de avião e no auxílio para material didático. José Roberto complementa e diz que a bolsa era suficiente, mas, “para economizar, também cozinhava em casa todos os dias”.
Estágio lá fora
“Não trabalhei enquanto estive lá. Meu tipo de visto permitia apenas 20 horas semanais de estágio, mas a faculdade recomendou o desenvolvimento de atividades no próprio câmpus”, disse José Roberto sobre o período que passou em Portsmouth.
“Eu cheguei a fazer estágio, mas ele não era remunerado. Eu ganhava o vale-transporte e o vale-alimentação da empresa. Se eu não fizesse estágio, eu teria que voltar ao Brasil assim que as aulas acabassem”, conta Mariana. Ao contrário da amiga, Danielle relata que “não tive que trabalhar porque meu edital era diferente, então eu pude escolher se faria estágio, se faria aulas na própria faculdade durante o verão ou se faria algum curso em uma outra faculdade intercambiada. Eu escolhi ficar na Parsons mesmo e fazer algumas aulas específicas lá”.
Ainda de acordo com Danielle, outras pessoas do mesmo edital que o seu optaram por fazer estágio e, como foram remuneradas, “uma parcela da bolsa era retirada para compensar o valor que eles receberam pelo trabalho”.
As flutuações do câmbio
Quando alguém pretende viajar para o exterior, uma das primeiras coisas a se olhar é a taxa de câmbio, ou seja, a relação entre a moeda do país de origem e a moeda do país de destino. No dia 11 de setembro de 2015, a relação entre o dólar americano e o real era de R$ 3,87, ou seja, US$ 1 equivalia a R$ 3,87. Um ano atrás, cada dólar equivalia a R$ 2,29. Já em 11 de setembro de 2013, US$ 1 era correspondente a R$ 2,27. Com a alta da moeda dos Estados Unidos, que serve de base para comparações com todas as outras do mercado, é possível afirmar que o poder de compra dos brasileiros no exterior ficou menor.
Mariana, que estudou em Nova York entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro semestre de 2014, considera semelhantes os preços dos alimentos em São Paulo e em Manhattan, região da cidade em que estudava. “Em Nova York, o custo de vida é muito alto. Tudo é muito caro. Então, em relação à alimentação, não tinha muita diferença comparado com o Brasil. Mas, nas cidades vizinhas, os preços eram menores. Em relação a eletrônicos, era muito mais barato comprar lá, ainda mais porque na época o dólar não estava tão alto”. Danielle complementa: “roupas também eram bem baratas para serem compradas lá”.
Reportagem: Marília Garcia e Victor Rezende
Produção multimídia: Giovanna Hespanhol
Edição: Mariana Caires