Vini, vidi, vici
A viagem já começa na hora que você decide pelo intercâmbio. Como é a ansiedade antes? A adaptação em uma nova cultura? E a hora de voltar para casa? Tudo faz parte de uma experiência enriquecedora. Confira o que alguns intercambistas têm para contar sobre suas viagens
Conhecer um novo país e vivenciar a sua cultura com intensidade é o desejo de muitos jovens a procura de novas experiências. Fazer um intercâmbio não é apenas passar um tempo fora do lugar de origem, mas conhecer uma realidade bem diferente. Há diversas formas de se fazer um intercâmbio: pode ser durante a escola, na faculdade, na vida profissional, para aprender uma nova língua ou em trabalhos sociais. É só escolher a opção que melhor se encaixa no seu perfil e se preparar para essa no fase da sua vida.
A paraibana Christianne Brilhante, ou apenas Chris para quem acompanha seu canal no YouTube Mundo da Chris, conta que foi mágico receber a notícia de ser selecionada para o Ciência Sem Fronteiras, programa de intercâmbio do Governo Federal. “Eu sempre sonhei em morar nos Estados Unidos, e poder realizar isso tão ‘cedo’ na minha vida foi uma surpresa muito boa” conta Chris, 20, que estuda Biotecnologia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e foi para os EUA, onde estudou por um ano na cidade New Brunswick (New Jersey). “O que me deixou mais receosa foi a ideia de sair de casa e ser totalmente independente”, afirma a estudante.
A partir do momento em que o intercâmbio é confirmado, começa a parte da documentação, mas basta seguir as instruções do programa. Para o Ciência sem Fronteiras, Chris teve que fazer a etapa de Common Application, que “consistia em preencher formulários e fazer redações sobre o porque você queria participar do programa, suas áreas preferenciais de estudo, entre várias outras coisas”, conta. Já na preparação psicológica, a estudante contou com um bônus: seu namorado também estava indo para os EUA pelo Ciência sem Fronteiras e eles conseguiram ficar em cidades próximas, assim, puderam apoiar um ao outro.
Lucas Silva, que foi para Duisburg, na Alemanha, onde ficou por dez meses, tranquiliza aqueles que estão indo sem nenhum conhecido. Ele conta que sentiu que a cultura universitária era muito parecida com a do Brasil, o que facilitou muito sua adaptação no país. “Foi tranquilo fazer amizades lá, o ambiente universitário é bem aberto”, afirma Lucas, que estudava Engenharia Mecatrônica na Universidade de São Paulo (USP) quando viajou para Duisburg. Rafael Marangoni, também estudante de Engenharia Mecatrônica na USP, teve um pouco de dificuldade para conseguir um lugar para ficar em Darmstadt (Alemanha), ao chegar em 2011, mas conseguiu uma vaga em uma república. “Lá, morei com um espanhol, um irlandês, um chinês e um indiano. Foi bem interessante”, conta Rafael, que viajou por dois anos e, apesar da dificuldade inicial, trocou experiências culturais com pessoas de diversos países.
Conheça o canal Mundo da Chris, em que a estudante Christianne Brilhante conta sua experiência durante o intercâmbio.
Tudo novo
Se adaptar a uma nova cultura pode parecer uma tarefa difícil, mas, na prática, é mais simples do que se imagina. É bom pesquisar e conhecer os principais costumes e as regras básicas antes de se aventurar em um novo país para evitar situações desagradáveis durante a viagem. Lucas Silva percebeu que os alemães têm uma relação diferente com as regras, sentiu que lá elas eram mais respeitadas. Já Chris teve que se segurar um pouco em relação ao contato físico, “eles achavam meio esquisito abraçar alguém que não fosse seu amigo bem próximo, por exemplo” conta.
A saudade do país de origem é normal e a falta da comida brasileira é quase certeira. Quando questionados sobre o que mais sentiram saudades do Brasil, a gatronomia foi sempre lembrada. Chris, em um do seus vídeos no YouTube, conta que levou vários pacotes de cuscuz na bagagem, mas conseguiu se adapar ao novo cardápio. “Eu era a exceção no grupo de brasileiros por gostar mais das comidas americanas e comer pizza de pepperoni ou mac n’cheese todos os dias no refeitório e nunca enjoar”, conta a estudante. Já Lucas não se acostumou tão bem assim com a comida alemã: “o bandejão era horroroso e caro. Cozinhar em casa era igual ao Brasil, mas quando você sai pra comer é triste, é ruim”, lembra.
Outra preocupação comum para quem vai passar um tempo fora é a distância da família e amigos, “isso foi o que mais pesou”, afirma Lucas. Manter a mesma intensidade de contato pode ser bem complicado, “com a internet fica mais fácil eventualmente conversar com o pessoal. Eu não vejo tudo isso como uma dificuldade, mas sim como uma experiência”, afirma Rafael. Fazer um intercâmbio é estar aberto para o novo, incluindo as novas amizades. Lucas conta que recebe a visita de amigos que conheceu na Alemanha e Rafael completa, “depois de vários meses sem ver um grande amigo é muito legal encontrar a pessoa e ver que a amizade continua a mesma”.
A volta para casa
O retorno para casa é um momento difícil para muitos intercambistas. Ao mesmo tempo que estão com saudade do seu país, família e amigos, não é fácil deixar aquela vida cheia de novas experiências e as amizades. “Tinha pessoas do mundo inteiro. Tinha um cara com o sobrenome Da Silva e era do Sri Lanka, a gente falava que éramos brothers from another mother. Tinha também uma menina da Groenlândia. Disso é o que mais sinto falta, aquele ambiente de intercâmbio era sensacional”, conta Lucas Silva. A diferença cultural fica ainda mais evidente: Rafael disse que, quando voltou, estranhou a confusão de São Paulo, sua cidade de origem. Já Lucas sentiu mais diferença nas pessoas: “na Alemanha, as pessoas são muito mais abertas à vida em sociedade. Aqui as pessoas são muito egoístas”, conta.
Algumas pessoas têm mais dificuldades que outras ao se readaptar em seu país natal, podendo desenvolver até depressão. O neurocirugião Décio Nakagawa denominou esse momento como “síndrome do regresso”. A readaptação pode durar até dois anos, enquanto a adaptação inical a uma nova cultura pode levar apenas seis meses. E é exatamente por acreditar que voltar para o país de origem é se sentir em casa que muitos intercambistas são pegos de surpresa ao regressar. É preciso paciência e compreensão dos amigos e familiares para superar esse momento.
Chris acabou de voltar dos EUA, após um ano longe da Paraíba e sua dica não poderia ser diferente: “se você tem a oportunidade na sua frente, tenta! Vai ser a melhor experiência da sua vida, você vai crescer muito, amadurecer, conhecer lugares e pessoas incríveis que você nunca pensou que iria e aprender muito além do que você imaginava quando finalmente chegou”.
Confira algumas dicas para lidar com a depressão pós-intercâmbio
Reportagem: Ihanna Barbosa
Produção multimídia: Ana Oliveira
Edição: Mariana Caires