Opinião | Bom para quem?
Nos últimos anos, a cesariana tem sido mais aconselhada para as mulheres na hora do parto pelos médicos – mas será que isso é o melhor para elas?
O Brasil é o país campeão do mundo no número de cesáreas realizadas por ano de acordo com dados obtidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde). 80% das brasileiras têm seus filhos pelo procedimento cirúrgico da cesariana na rede privada, enquanto cerca 40% realizam o mesmo método pela rede pública. Independente do local de onde está sendo realizado o parto ou por quem, a principal questão que deve ser levantada é o porquê do número de cesáreas ser tão alto, já que a OMS indica que apenas 15% das crianças deveriam nascer dessa maneira anualmente – uma vez que a cirurgia traz mais riscos para o bebê e para a mulher e, em princípio, deveria ser feita apenas quando surgem complicações.
A opção de um parto natural contra a realização de uma cesárea é um assunto que deve ser discutido por toda sociedade, desde o método realizado por essas duas práticas, os custos, os benefícios e os prejuízos que as futuras mães podem sofrer nesse processo. Após uma avaliação dos dois lados de cada procedimento, a retirada de quaisquer dúvidas que as mães possam ter e a disponibilidade dos médicos para sanar medos e mitos, a mãe e o responsável pelo parto deveriam decidir juntos o que é melhor em cada caso. No entanto, não é assim que as coisas realmente acontecem no país.
As mães, muitas vezes, não têm opinião, opção ou condição de questionar as decisões tomadas pelos médicos quando estão no momento do parto, ou até antes do ato. Para o profissional da saúde, parece que apenas duas coisas são consideradas nesse momento: o valor e o tempo do procedimento. Os médicos – convenientemente – assumem que a cesárea é o procedimento mais correto, já que dura cerca de 1 hora enquanto o parto normal pode durar até oito horas e o médico precisa ficar ali, disponível e atento. O valor varia muito entre o parto normal e a cesariana (o método natural rende bem menos ao profissional) e o médico precisa cancelar suas outras consultas e cirurgias. Com a cesárea, vários partos podem ser realizados por dia, enquanto com parto normal, não.
O foco dos partos deixou de ser a mulher e suas necessidades e passou a ser a vontade dos médicos. As mulheres desenvolvem medos que nem sempre existem e são forçadas a assumirem posturas que não acreditam na hora de ter seus filhos. Alguns planos de saúde, inclusive, não arcam com os custos de um parto normal e muitos médicos se recusam a realizá-lo, afirmando que não seria o melhor para a mãe, mesmo com a recuperação da cesariana sendo dolorosa e passível de complicações.
Os médicos precisam se disponibilizar para ajudarem suas pacientes a tomarem a decisão correta para elas e para seus filhos, de modo que não ocorram traumas no fim, ou qualquer tipo de violência durante o parto. A violência obstétrica tem ocorrido em diversos casos no Brasil quando a mãe tenta lutar pela opção do parto natural, e acaba sofrendo por estar ali, exposta e sem proteção.
É preciso haver maior conscientização por ambas as partes, já que o médico e a paciente estão envolvidos nessa situação. Os riscos da realização da cesárea são os mesmos riscos de qualquer cirurgia, precisando de cuidados pós-operatórios, atenção aos riscos de infecção, mas a operação dura menos e é mais cômoda – é planejada, com horário marcado e não envolve muitas surpresas. Enquanto isso, o parto normal é mais natural, humanizado e fortalece a relação entre mãe e filho, como alguns estudos recentes da Psicologia apontam. Embora existam lados positivos e negativos na realização dos dois tipos de parto, a decisão deve caber à mãe e ao médico, com ética profissional, sinceridade e transparência.
Reportagem: Izabella Pietro
Produção multimídia: Catherine Paixão
Edição: Anna Satie