Interesse sexual não se esvai com o tempo
É preciso desconstruir a ideia de que pessoas idosas não têm vida sexualmente ativa
A expectativa de vida do brasileiro aumentou. Se na metade do século passado viver até os 50 anos era muito, desde os anos 2000 a expectativa de vida é superior aos 70, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa mudança é refletida em diversos setores da sociedade. A geração idosa, por exemplo, teve uma mudança significativa de perfil – do pequeno grupo (menos de 5% da população) que vivia recluso na década de 60, para a significativa parcela da população socialmente ativa dos anos atuais.
O aumento da longevidade também representou mudanças na quantidade de pessoas sexualmente ativas. Segundo um estudo da ProSex (Programas de Estudo em Sexualidade da USP – Universidade de São Paulo), cerca de 70% dos idosos são sexualmente ativos, 87,1% dos homens acima de 61 anos mantém relações sexuais, assim como mais de 50% das mulheres na mesma faixa etária.
Embora sejam números expressivos, o sexo na terceira idade ainda é considerado por muitos um tabu. A sexóloga Célia Melo explica: “Um jovem consegue imaginar a vovó e o vovô fazendo sexo? [O tema ainda é um tabu], mas acredito que este quadro já está começando a mudar. Com a vida cada vez mais longa, ele tende a ser considerado algo comum e a ser tratado com naturalidade”.
Apesar de não considerar o tema um tabu, a aposentada M. J., de 71 anos, não se sentiu a vontade para divulgar seu nome à reportagem. Ela pertence ao grupo de mulheres com mais de 60 anos que ainda praticam sexo com frequência. Na sua opinião, a principal diferença nas relações sexuais com o passar dos anos é a diminuição da libido: “Na juventude tudo é novidade, mas não se tem experiência. Na terceira idade a libido diminui, mas não significa que não se tem vontade de fazer sexo”.
A sexóloga Célia conta que existem alguns conflitos diferentes entre homens e mulheres relacionados ao sexo na terceira idade. Enquanto no homem a produção de hormônios diminui pouco, na mulher, além da falência dos ovários, a produção de hormônios passa por uma queda brusca. Esses são fatores que contribuem para a perca de interesse sexual, mas não são os únicos: “Tanto para homens como para as mulheres, o componente emocional relacionado a doenças, uso de medicamentos e intervenções cirúrgicas podem exercer alguma influência sobre a sexualidade. Porém, essas questões podem ser minimizadas se a pessoa puder obter esclarecimentos sobre seus preconceitos e falar a respeito de seus temores. Na maioria dos casos, quando a dimensão emocional ficar estabelecida de forma satisfatória, também o nível de interesse e a atividade sexual voltarão a ficar normais. Mesmo porque, com o declínio da capacidade reprodutiva em ambos os sexos, o desejo e o prazer sexual podem continuar por toda a vida”, diz.
Célia também ressalta que a maioria dos idosos que procuram por terapia o fazem para fortalecer o relacionamento a dois. Para ela, ou o sexo entre duas pessoas funciona mal porque a relação está comprometida, ou funciona mal e acaba por comprometer a relação. E curiosamente, os mais preocupados com a ereção são os jovens: “Para o jovem, a ereção não pode falhar e, quando acontece, ele pensa que “nunca” mais haverá ereção, contribuindo para o fator de ansiedade que acaba interferindo em seu desempenho”.
Reportagem: Bruna Malvar
Produção Multimídia: Anna Satie
Edição: Giovanna Falchetto