Opinião | A cultura do consumo e o lixo eletrônico
Com a evolução do mundo e o aprimoramento cada vez maior de novas tecnologias, um novo problema que tem surgido nos últimos tempos é a questão do lixo eletrônico. Televisores, máquinas fotográficas, celulares, computadores: atualmente, os aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos são, praticamente, descartáveis. Mas as principais questões decorrentes deste fato são: como e onde descartar esses materiais quando eles perdem a utilidade? O destino desses resíduos se transformou, assim, em um desafio planetário.
Um dos principais problemas causados pelo descarte inadequado desse lixo eletrônico é a contaminação do meio ambiente, já que muitos destes equipamentos possuem substâncias químicas como chumbo e mercúrio em sua composição. Outra questão que merece ser destacada é a da conhecida obsolescência programada, que é a decisão proposital do próprio produtor em desenvolver e distribuir um produto que se torne obsoleto em um curto período de tempo.
A tática da obsolescência programada é usual entre as empresas modernas, e vem se revelando como fator decisivo na geração de índices cada vez mais exorbitantes de lixo eletrônico. Atualmente, alguns países emergentes já funcionam como depósitos de lixo tecnológico das grandes nações. E, embora haja um tratado que proíba esse tipo de prática, potências como Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido continuam a enviar seus resíduos a países africanos, como Gana, sob o pretexto de estarem impulsionando seu desenvolvimento, já que, supostamente, o lixo eletrônico poderia ser reutilizado.
Em meio a esse cenário, o Brasil se posiciona como um dos países que mais produz lixo eletrônico na América Latina, sendo responsável por cerca de 36% do descarte de celulares, computadores, impressoras e outros aparelhos. E para regularizar o despejo, em 2010, nosso país lançou a Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsável por definir como deve ser a coleta e reciclagem de equipamentos eletrônicos. Gerir e aplicar os regulamentos previstos na Política Nacional, no entanto, não é tarefa fácil. Em primeiro lugar, é necessário conscientizar toda a população da importância de dar a destinação adequada aos materiais que perderam sua utilidade.
Muitas empresas atuais contam com um programa bem definido para tratar o e-lixo, embora grande parte dos seus consumidores não tenham noção disso. Os maiores nomes da tecnologia no país (Claro, TIM, Vivo, Dell, HP) oferecem em suas lojas alguns serviços de recolhimento de aparelhos e equipamentos eletrônicos. A divulgação, no entanto, é pífia. É essencial que essas empresas invistam não só em ações de recolhimento, mas também em estratégias de marketing e conscientização de seus consumidores, para que a destinação dos aparelhos seja, de fato, adequada.
Além da iniciativa privada, campanhas de conscientização devem partir também do poder público. Em 2011, foi realizado em Bauru o 1º Mutirão de Lixo Eletrônico, dividido em sete pontos estratégicos da cidade para a coleta desses materiais. Esse é um exemplo de ação efetiva que pode reduzir os efeitos da intensa geração de lixo tecnológico que caracteriza nossa modernidade.
De acordo com um levantamento realizado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 724 das mais de 5 mil cidades brasileiras possuem algum tipo de coleta de lixo eletrônico. É importante que, cada vez mais, surjam campanhas de conscientização, mutirões de lixo, estratégias de marketing e um esforço conjunto de população, empresas e governo para que a questão do lixo eletrônico seja tratada da forma mais adequada possível e não se torne um empecilho do ponto de vista ecológico e social.
Reportagem: Herculano Foz
Edição: Vinícius Passarelli