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Opinião | Mercado pornográfico? Apenas se feito por mulheres

O mercado da indústria da pornografia já enfrentou diversas reviravoltas. Da transição das locadoras de bairro para Blockbusters, das revistas de papel para a internet, do conteúdo pago para sites de streaming. A indústria pornográfica se viu em uma grande quantidade de crises e têm conseguido sair mais forte de todas elas. No entanto, uma característica que não mudou desde seus primórdios é a forma como a narrativa é construída. Nos filmes, a figura central geralmente é a mulher. Contudo, não da forma adequada. O foco não é mostrar uma figura feminina sexualmente ativa ou trabalhar um desenvolvimento de sua sexualidade. Muito pelo contrário. Os vídeos produzidos são, em sua ampla maioria, degradantes para as mulheres. Cenas de sexo com submissão, humilhação e brutalidade são muito mais fáceis de encontrar do que dados concretos sobre a indústria.

Cena do filme "Lovelace" lançado em 2013 mostrando como eram os sets de filmagem na época. Divulgação

Cena do filme “Lovelace” lançado em 2013 mostrando como eram os sets de filmagem na época. Divulgação

A pornografia exposta por produtores vende uma imagem de combate a tabus, como uma resistência a visões religiosas e moralistas. Porém, de longe um iceberg parece apenas uma pequena pedra de gelo. Mas assim como um iceberg, o problema está submerso, abaixo dos que os olhos veem. No mundo pornô são muitos os casos de prostituição, abusos físicos e psicológicos. O caso mais famoso é o de Linda Lovelace, protagonista do filme “Garganta Profunda”. Refém de seu “marido”, a quem foi forçada a se casar e gravar outros diversos filmes, Linda sofreu muitos abusos e agressões em sua vida durante sua vida na indústria de filmes adultos, na década de 1970. Linda não foi a primeira a sofrer abusos e, infelizmente, muitas outras depois dela também sofreram. São poucas as mulheres que se sentem satisfeitas com seus trabalhos em filmes adultos como a nossa entrevistada para o perfil. Em estudo divulgado pela Treasures, organização voltada para o resgate de vitimas do tráfico de pessoas, 90% das mulheres da indústria do sexo foram abusadas quando crianças.

Isso mostra que por trás da imagem vendida, de mulheres e homens adultos fazendo sexo consensualmente para uma câmera, existe bastidores de abusos contra mulheres adultas e até de crianças. Isso não quer dizer que homens não sofram abusos, porém quando comparados com o percentual de mulheres vítimas de violência, é possível dizer que são casos raros. Essa pornografia está difundida na internet. Em dados recolhidos e divulgados pela re­­­­­­­vista americana The Week e pe­­­­­­­­­­­lo site francês Stimuli Curieux et Insolites em 2014, cerca de 12% dos sites que existiam na internet eram pornográficos – aproximadamente 76,2 milhões de sites.

Os efeitos desse tipo de conteúdo nas pessoas se mostram catastróficos. Estudos feitos pela socióloga americana Gail Dines mostram que, dos homens que fazem download de pornografia infantil, algo entre 40% e 80% deles se envolvem em algum tipo de abuso contra crianças. A socióloga se mostrou claramente contra a indústria pornográfica em entrevista para a coluna Mulher 7×7, da revista Época. Não pode-se ignorar também que os vídeos pornográfico são produzidos em sua maioria com agressões físicas e morais contra as mulheres e, esses vídeos são consumidos em sua maioria por homens. Uma em cada quatro pessoas que consomem pornografia são mulheres. Analisando esse número, conclui-se que três em cada quatro pessoas que consomem esse tipo de conteúdo são homens. Portanto, as influências desses tipo de sexo vendido pela indústria são as de pior tipo. Desrespeitosas e abusivas.

Dessa forma, o que percebi lendo as referências  para essa edição, além de outros textos sobre o tema, é que não acredito que a indústria pornográfica tenha mais benefícios do que prejuízos. Seria necessária então uma grande reforma, com participação majoritariamente feminina.

Recomendação de leitura

Antes de buscar prazer na pornografia, veja alguns dados e pense duas vezes – Brenno Tardelli

A indústria que, silenciosamente, lucra bilhões com a exploração de mulheres e crianças e que deveríamos lutar contra – Blog Nosotras, las brujas

Antes de consumir a indústria do sexo, pense um pouco – Brenno Tardelli

Recomendação de filme/documentários

Lovelace (2013)

Cinebiografia de Linda Lovelace (Amanda Seyfried), retratando como foi de uma garota de família tradicional à protagonista do clássico do gênero pornô “Garganta Profunda”. Ela entrou no meio através de seu abusivo marido Chuck Traynor (Peter Sarsgaard), mas acabou não seguindo a carreira de atriz pornô, chegando até mesmo a militar contra a indústria pornográfica após se casar com Larry Marchiano (Wes Bentley)

Hot Girl Wanted (2015)

Este documentário põe sob os holofotes a próspera indústria do pornô “amador” e os efeitos da sedução e da exploração nas vidas das jovens atrizes.

Mulheres no Filme Pornô (2014)

Reportagem: Daniel Linhares

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