O lucro da Microsoft multiplicado por 2. Mais da metade das atrizes abusadas. 15 casos de doenças sexualmente transmissíveis reportados a cada semana. Os números que dizem respeito à indústria pornográfica chamam tanta atenção quanto o tabu relacionado à mesma.
No entanto, a problematização quanto aos processos, ambientes e ramos desta não são frequentes, discutidos e muitas vezes nem observados com esse olhar.
A 36ª edição do Repórter Unesp busca levantar essas questões, promovendo uma reflexão e um debate sobre diversos aspectos da indústria pornográfica, sejam culturais, econômicos, humanos e etc. Mesmo enfrentando crises, com a disponibilização de conteúdo online e também diante da pirataria, o ramo segue movimentando quase 100 bilhões de dólares, de acordo com os dados da organização Treasures, referentes ao ano de 2006.
Entretanto, a necessidade de renovação da indústria se dá em função não só dessas dinâmicas, mas também de uma série de novas miradas diante do conteúdo pornográfico e seu público. O maior debate sobre cultura e tradição machista na sociedade abriu espaço para o tratamento e busca de certa desconstrução de pontos importantes, como por exemplo, acerca da objetificação da mulher, do sexismo, de uma referencia para uma vida sexual distorcida, e etc. Essas experiências vem em contramão à produção tradicional, por meio de portais e iniciativas diferenciadas.
Com relação à questão da violência sofrida pelas atrizes no ambiente da pornografia, os números são tão impressionantes quanto os montantes movimentados pela indústria. De acordo com Shelley Lubben, fundadora da Pink Coss Foundation, pelo menos 55% das atrizes pornôs sofrem abuso sexual. E essa realidade influi por sua vez, na manutenção da violência contra a mulher nos mais diversos ambientes e situações sociais. Ela também aponta números referentes à suicídios, e sobre a exploração infantil.
Tão relevante quanto a problematização desses pontos, é a quebra de estigmas e do tabu diante da discussão sobre pornografia e sexo. Inclusive para uma completa reflexão sobre o assunto. Nesse sentido o depoimento da atriz DeMonique nos trás uma perspectiva diferenciada sobre parte da dinâmica da indústria pornográfica, assim como o relato da rotina dos funcionários de um cinema pornô em bauru, trazendo perspectivas e relacionamentos diferenciados com o tema.
A ideia dessa edição do Repórter Unesp foi reunir e explorar diferentes pontos relativos à industria pornográfica com o intuito de oferecer ao leitor diferentes perspectivas sobre o tema, propondo ao leitor a reflexão sobre os impactos do mesmo sobre a sociedade de maneira mais profunda.
Boa leitura!
Pepita Martin Ortega – Editora-chefe
Catherine Paixão – Editora-adjunta
catherinepaixao@hotmail.com
NESTA EDIÇÃO:
Traçando uma visão geral da indústria pornográfica
Uma indústria que precisa se renovar
A imagem da mulher na indústria pornográfica
Os bastidores de outra ponta da indústria: o cinema pornô
Opinião | Mercado pornográfico? Apenas se feito por mulheres