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O uso da maconha na construção de identidade

Usuários e psicóloga refletem o papel do consumo da droga ilícita no cotidiano dos jovens

Viver em sociedade implica em influenciar e ser influenciado por todos que cruzam nossos caminhos. Quando se é jovem, a pressão para se enquadrar nos padrões de consumo e estilo de vida vira uma espécie de teste. Os conceitos de certo e errado se misturam, confundindo a mente em formação.

Ser selecionado para estudar em uma universidade é uma grande mudança de cenário. Longe da família, surge a necessidade de encontrar o seu lugar no mundo, pessoal e profissionalmente. Neste meio, o consumo da maconha é naturalizado. Ana Letícia San Juan, psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD III) infanto-juvenil de Bauru, reflete que os jovens que utilizam a substância provavelmente procuram ter sensações que, sóbrios, não conseguem: “Nesse sentido, um adolescente ansioso, por exemplo, faz uso da maconha para obter a sensação de relaxamento e calma que não consegue ter no cotidiano”, diz.

Segundo pesquisa feita pelo repórter, a maconha é a droga mais consumida entre os jovens. (Créditos: Helena Botelho)

Segundo pesquisa feita pelo repórter, quase 70% dos jovens já fez uso de drogas ilícitas. (Créditos: Helena Botelho)

 

Para a psicóloga o uso da cannabis faz parte da realidade de muitos adolescentes e está relacionado às necessidades que o usuário possui. “Muitos jovens acabam fazendo uso pela inserção social e aceitação pelos pares, como aconteceu com o cigarro há décadas atrás”, conta Ana Letícia.

O quão influente pode ser maconha?

A psicóloga acredita que o consumo da maconha, isoladamente, não pode ser considerado um fator de influência na construção de identidade dos jovens, pois atribuiria à substância uma importância “talvez muito maior do que ela tenha”. Ela relembra a existência de “um contexto relacionado ao uso de maconha e outras substâncias psicoativas”. Essa junção de fatores seria responsável pela constituição da identidade do jovem.

Mais da metade dos jovens não vê a maconha como “porta de entrada”. (Créditos: Helena Botelho)

Contudo, a psicóloga Ana Letícia faz um alerta: apesar de estudos apontarem os benefícios à saúde trazidos por componentes da maconha, como o tetra-hidrocanabinol (THC), a droga geralmente consumida é impura. “Ponderamos sempre que a substância comumente usada pelas pessoas está associada a outras coisas, como orégano e até ureia, o que modifica os efeitos da maconha e pode, sim, ter consequências negativas ao usuário”, analisa a profissional.

Experiência de usuário

Os jovens, por sua vez, têm pontos de vistas diversos em relação ao consumo da maconha. Ricardo Formici, estudante de administração e dono de uma empresa de comunicação, atribui seu primeiro contato com a “droga” à curiosidade e a influência do meio em que estava inserido – composto por outros jovens e festas que frequentava.

Formici diz que, apesar dos efeitos positivos da maconha, como o relaxamento e alívio de stress, percebeu que em contrapartida, diminuía bastante a velocidade cognitiva. Ele parou de fumar há um ano, e reflete que seu consumo servia como uma forma de se acalmar, “para poder viver melhor. Quando não estava [chapado], voltava a ansiedade que, na época, não sabia que tinha”.

(Créditos: Helena Botelho)

 

Para Arthur Pereira, estudante de medicina, o ambiente ao seu redor não foi um fator de influência para iniciar seu consumo. “São alguns motivos que me fazem usar maconha. O bem-estar, me sentir bem com as coisas ao meu redor, independente do que isso significa. Eu consigo discernir melhor algumas coisas que acontecem comigo, entender o porquê”, conta o universitário.

“Parece bizarro falar isso, mas ela [a maconha] me ajuda muito na concentração, consigo estudar melhor” continua Pereira, refletindo sobre sua relação mais introspectiva com a droga auxiliar no entendimento e ter um diálogo mais tranquilo com as pessoas.

A história da estudante de engenharia J.R. é semelhante à de Pereira: “Fumo maconha porque gosto, me sinto bem e consigo perceber coisas sobre mim mesma que, normalmente, não consigo sóbria”. Ela afirma que essa percepção sobre si mesma a ajuda melhorar aspectos que ela julga negativos em sua personalidade.

A estudante também conta que sóbria, as coisas a irritam com mais facilidade. “Chapada, tenho mais paciência com as pessoas”, conta J.R.

Repórter: Yuri Ferreira

Produtor Multimídia: Helena Botelho

Editora: Mariana Pellegrini

 

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