Moda permite debate sobre estereótipos de gênero
Marcas com vestuários fora dos padrões femininos e masculinos crescem pelo país e levam à reflexão sobre o preconceito em usar roupas neutras
Lojas como Nó & Nó, Sailor Baby e LegLeg têm uma coisa em comum: produzem roupas sem gênero para crianças. Vendendo suas criações pela internet, tais marcas buscam a identificação e conforto de seus clientes. Estas empresas encontraram um público consumidor que, aos poucos, insere no mundo o debate sobre padrões sociais.
Para a pesquisadora Luciana Crivellari Dulci, da Universidade Federal de Ouro Preto, a produção e venda de roupas sem divisão de masculino e feminino é uma ação que combate os estereótipos de gênero. “Desta ação podem se seguir outras como expor as pessoas ao questionamento, à reflexão, à mudança de paradigma”, explica Luciana.
Ainda na visão da pesquisadora, a moda é um instrumento social poderoso para inclusão de qualquer tema na sociedade. “Entendida como universo que produz, pesquisa e reflete sobre os usos e modos ligados à aparência pessoal e ao vestuário, a moda é uma das esferas mais relevantes da cultura”, afirma Luciana.
Transformação
Entender o que é roupa sem gênero é importante para evitar interpretações erradas. Na percepção de Larissa Naracci, sócia da Nó & Nó, tais vestimentas são peças que podem ser usadas por qualquer pessoa.
A LegLeg fabrica calças legging para crianças. A criadora da marca, Daniela Gimenez, tem uma ideia parecida com a de Larissa. “Se partirmos da ideia de que cada um veste o que quiser, aquilo que lhe cai bem, toda roupa pode ser sem gênero”, diz.
Ambas as lojas observaram um mercado em crescimento, com pessoas deixando de lado o preconceito para conhecer as roupas. “Alguns clientes nem percebem que não fazemos essa distinção de gêneros, mas acabam se identificando com o estilo das peças” conta Larissa. “Quando percebem, elogiam e entendem que faz sentido roupas sem gênero para crianças” completa.
Para Daniela Gimenez, tudo o que é diferente gera preconceito e a maioria das pessoas espera ver mulher de vestido e homem de calça. “Mas eu acredito que essa realidade está em constante transformação” finaliza.
Conforme explica a pesquisadora Luciana Crivellari, os preconceitos são transmitidos às crianças desde a primeira vez que são vestidas e introduzidas socialmente. “As pessoas crescem com as visões de mundo que aprenderam a valorizar,” comenta. Para Luciana, muitas vezes, as pessoas vão refazendo seus pontos de vista. Porém, quando isso não acontece, existe a dificuldade em aceitar o diferente pelo “pouco questionamento sobre os valores vigentes”.
O conceito das lojas citadas ou vieram da experiência pessoal com roupas ou da observação do mercado e da sociedade. “Criei uma marca que não trata crianças como miniatura de adultos” conta Gabriela Halcsik Silva, estilista da Sailor Baby.
Gabriela viu que as varejistas de roupas faziam mais do mesmo e decidiu criar sua própria marca. “A ideia é que crianças possam ter roupas realmente pensadas para elas, com design, proteção e conforto”, explica a estilista.
A técnica de edificações, Beatriz Mingoti é mãe de Rafaela de dois anos e três meses e nunca comprou para sua filha vestuários sem gênero, mas não vê problemas com esse estilo, considerando uma alternativa positiva. “As roupas pré-selecionadas para meninas sempre são rosas com princesas, eu acho lindas, mas só tem isso” relata a mãe.
Repórter: Matheus Ferreira
Produtora Multimídia: Helena Botelho
Editora: Mariana Pellegrini