Elaborar uma reportagem pressupõe o questionamento. A dúvida e a inquietude provocam o jornalista a investigar situações e confrontar ideias diante de um determinado cenário ou acontecimento. É justamente esse processo que torna o jornalismo uma ferramenta essencial para a auto-reflexão da sociedade e, consequentemente, para o enriquecimento do debate público.
Nesse sentido, a temática da 40° edição do Repórter Unesp é bastante desafiadora. As reportagens abordam a maternidade de uma perspectiva crítica sem ignorar fatores importantes no debate, como saúde, trabalho, vulnerabilidade social, machismo e misoginia. Dessa forma, a webrevista traz um panorama do assunto através de ângulos pouco explorados pela grande mídia, como bem lembra o editorial da edição.
Outra característica positiva diz respeito à atualidade. Afinal, a edição foi publicada apenas alguns dias após o feriado do dias das mães. As pautas debatem temas presentes no debate público brasileiro atual, por exemplo, os efeitos da jornada dupla de trabalho da mulher e a proposta da reforma da previdência. Por outro lado, também levantam discussões acerca de temas cotidianos que, merecem mais espaço no debate público como a depressão pós-parto e a gravidez em situações de vulnerabilidade social.
Existem erros técnicos que poderiam ser evitados, mas claramente não comprometem a edição. Um deles corresponde à discrepância dos recursos infográficos entre as matérias. O objetivo de uma visualização de dados é ajudar a esclarecer ou completar a informação sobre um fato ou situação. Para isso, o infográfico deve focar na confiabilidade da suas fontes, na clareza dos recursos visuais e também na estética. Em algumas reportagens os infográficos seguem a paleta de cores do site, em outros não. O mesmo acontece com o uso do logotipo do Repórter Unesp. A consequência é a impressão que não existem critérios de padronização entre os recursos gráficos da edição, produzindo uma falta de unicidade nas características visuais.
Em questões editoriais, é necessário apontar mais a fundo apenas para a reportagem sobre maternidade e microcefalia. A pauta é com certeza muito relevante, tendo em vista que o aumento do número de casos de zika no Brasil abrandou, mas as mães de bebês com microcefalia em decorrência da doença continuam encarando uma dura realidade. O problema da reportagem não é o conteúdo, mas a estrutura. A excessiva explicação a respeito da doença no início da matéria deixa a maternidade e os depoimentos das mães (muito interessantes, aliás) em posições pouco privilegiadas da reportagem.
Ainda assim, a edição cumpriu muito bem o papel crítico a que se propôs. Vale lembrar que a função do Repórter Unesp é pedagógica e, portanto, não é livre de pequenos problemas como os mencionados nesse texto.
Ombusdman: Victor Pinheiro