Quando nova me permitia pegar no controle do vídeogame para tentar jogar alguma coisa. Lembro, com muita dificuldade, algumas sequências para dar golpes no adversário no jogo Mortal Kombat. Acho que nunca dei um Fatality – movimentos utilizados no final de uma luta quando o jogador adversário está tonto – sempre os levava. A minha dificuldade e a não vontade de persistir em games me fez logo desistir de ser uma jogadora assídua e, por consequência, desdenhar daqueles que levam a sério os jogos.
Na decisão do tema da 42ª edição do Repórter Unesp, tive relutância em aceitar que “games” seriam relevantes o bastante para ser destaque no jornalismo. Coloquei-me em uma posição de leitor e não jornalista, esse profissional que avalia os critérios de noticiabilidade e que sai do “achismo”. Como bem lembrado pelo editorial e pelas reportagens, quando o assunto é competição no mercado de games, o Brasil atinge uma pontuação alta e movimenta 1,5 bilhões de dólares por ano, derrubando a minha dúvida da importância para o tema.
Diante da autocrítica, listo uma série de pontos positivos para dar evidência na edição. Primeiro de tudo, a linguagem. Todas as reportagens foram escritas de forma esclarecedora. Acredito que qualquer leitor, por mais leigo em relação ao tema, entenderia os assuntos retratados. Os termos mais específicos, como Gaming House e MOBA, são explicados no decorrer das reportagens de maneira concisa e didática.
Para exercer um jornalismo de qualidade, a fonte é essencial. E disso não podemos reclamar da edição de games. Uma variedade de entrevistados, desde jogadores, programadores e até psicólogos estão presentes para dar credibilidade ao assunto. Porém, nesse quesito, a matéria “A integração a partir dos games” se distancia um pouco das outras. Enquanto leitora me senti desamparada de fontes que poderiam expressar melhor a relação e a interação entre os diversos jogadores.
Se no texto aponta-se diversos pontos positivos, os recursos multimídias deixam a desejar. O tema “game” gera grandes expectativas em relação a esses recursos. Jogos, conteúdos interativos e uma gama de outros entretenimentos não foram explorados para chamar a atenção e divertir quem está lendo. Vale lembrar que a reportagem sobre acessibilidade sobressalta ao adquirir o recurso de leitura de texto para deficientes visuais.
Por último e mais importante, a edição tem unicidade e as reportagens têm relevância social. Dentro dos games podemos notar o machismo, a falta de acessibilidade, o preconceito, a homofobia e outros problemas que também estão presentes na nossa sociedade. O jornalismo sério explora a discussão sobre esses assuntos, acreditando que a mudança pode ser feita quando reportados.
Ombudsman: Ariádne Mussato