Dificilmente encontramos alguém que, abertamente, defenda um projeto de país pautado na precarização e abandono da educação.
É de bom tom defender, em rodas de amigos e nas redes sociais, o desejo do salário de um professor ser “o de um deputado” e, o prestígio, “o de um jogador de futebol”. A exaltação da atitude de profissionais que, sem infraestrutura, se prestam a formar todos as outras categorias, é um clichê que não condiz com a opinião pública em momentos de crise.
As diferentes formas de lutar por essa educação são sistematicamente silenciadas e desprezadas quando tomam a forma de ocupações, passeatas, greves. Nesse momento o discurso muda: concorda-se com a pauta, mas não com a forma que requerem seus direitos. Se alguma forma de luta – que tenha força para mudar a estrutura – estaria de acordo com as expectativas desses grupos é uma pergunta não respondida.
Em um cenário como esse, que não é recente mas aparece mais na instabilidade em que mergulha o país, é fundamental contar com um material de qualidade que discuta, em seus mais diversos ângulos, a realidade da educação no Brasil. A edição 43 do Repórter Unesp se presta a ser uma revista que trate de “aspectos da educação no país”, e cumpre a sua função.
No entanto, falta na edição entrar profundamente e sem restrições, em polêmicas tão difíceis quanto importantes em um país com demandas urgentes no âmbito da educação.
Temas como a legalidade de presos ganharem menos que um salário mínimo e não contarem com os mesmo direitos que pessoas que não estão em cárcere, foram apenas pincelados na matéria sobre a reeducação nos presídios. Apesar disso, a dificuldade de conseguir imagens e dados, a importância da quebra do silêncio em relação ao assunto e a qualidade do texto tornam a reportagem uma das mais significativas da edição.
A reforma no Ensino Médio, um tema difícil por seu viés político, foi abordado de forma esclarecedora e com excelentes fontes. Apesar de ser uma matéria fria, o histórico da Medida Provisória até o debate atual foi colocado de forma a expor ao leitor as contrariedades e ângulos do fato.
Normalmente ignorada em materiais sobre educação, a educação informal pôde ser conhecida em uma matéria que é uma prestação de serviços para a cidade, por falar sobre a temática no âmbito local. A matéria sobre os projetos sociais em Bauru mostra o poder dessas iniciativas para a formação da cidadania.
Outra reportagem local foi sobre a preferência no ensino privado, que conta com uma informação interessante, mas pouco abordada no início da matéria. O fato de Bauru ter um crescimento nas matrículas de escolas privadas, contrariando a média nacional, é um dado importante que só foi lido por quem chegou ao terceiro parágrafo do texto.
Em contraponto às facilidades do estudante médio da rede privada, pessoas com alguma deficiência são expulsas dos espaços de educação. A matéria a respeito do preconceito com esses cidadãos no Ensino Superior é uma janela que se abre para as várias dificuldades cotidianas e inimagináveis aos que não tem uma deficiência.
Com suas limitações, mas também com o bom jornalismo, terminei de ler a edição como saio de uma aula que me faz enxergar o que ainda não tinha vislumbrado. Tenho outros olhares de um tema em que tão se fala mais do mesmo.
Ombudskvinna: Daniela Arcanjo