A 44ª edição do Repórter Unesp, desde a apresentação, resgata a estreita relação da humanidade com as bebidas alcoólicas, em especial as características culturais que se desenvolveram no Brasil. Ao contrário de outras edições recentes da web revista, como a sobre games ou educação, uma parcela maior do público já está familiarizada com as temáticas das reportagens.
De fato, seria tarefa praticamente impossível desenvolver pautas inovadoras e inéditas sobre o tema. A equipe de reportagem se ancorou em problemáticas e discussões recorrentes sobre as bebidas alcoólicas, optando por um encaminhamento de profundidade. Assim como boa parte do público do Repórter Unesp com quem dialoguei na semana, mesmo familiarizado com as pautas pude, ao final, expandir meus conhecimentos.
As reportagens com uma carga crítica menor foram as primeiras a serem mencionadas pelo público. Algumas dessas pautas tem um apelo de se relacionar com a vida social das pessoas, como a da produção da cerveja e a história da cachaça; outras, como o mercado de sommeliers e as paixões alcoólicas latino americanas, cativam pela curiosidade dos temas.
Entretanto, é possível perceber uma primeira problemática conceitual da edição: a maior parte das matérias pende para um ou outro lado da balança. Mesmo que a proposta da edição seja compreender, por meio dos 11 textos, os aspectos positivos e negativos da bebida, em alguns casos as abordagens soam conflitantes, principalmente se comparadas as pautas direcionadas ao mercado com as de questões sociais.
Além da divergência de tom, é perceptível também fragilidades conceituais e editoriais no cerne de certas matérias. Uma dúvida recorrente do público foi em relação a questão da “gourmetização” das bebidas alcoólicas. A definição de “gourmet” utilizada pela matéria parte não da ideia original da palavra, mas do termo pejorativo popularizado na internet. Conceitos como “popularização”, ou mesmo “banalização”, encaixam melhor no teor da reportagem.
Outro incômodo relatado na reportagem da gourmetização, assim como de outras matérias, foi o modo de escrever sobre algumas marcas ou tipos de bebidas específicas. Citar nomes de produtos importantes para o texto é recomendável, mas com o intuito de ilustrar uma problema geral.
A matéria sobre as paixões alcoólicas na América Latina, por exemplo, peca em estabelecer critérios para elencar as bebidas populares nos países. Desta forma, temos uma mistura de marcas de bebidas, receitas tradicionais e mixes populares. As informações são interessantes, mas existe pouca comparação entre as culturas, devido as categorias das bebidas serem diferentes e não haver uma descrição sobre os principais ingredientes de algumas receitas.
A falta de informações sobre os ingredientes e a produção está presente também na matéria sobre a cachaça. A reportagem traz uma abordagem histórica e mercadológica muito bem aprofundada. Completaria o bom trabalho jornalístico o relato das porcentagens de álcool e as características de sabor que diferenciam a cachaça de qualquer outra bebida, além dos outros produtos alcoólicos da cana-de-açúcar
O último problema frequentemente relatado sobre a edição diz respeito a indicações de recursos multimídia ausentes na edição final ou que não abrem mais no site. Faltam coisas simples no produto final, como a capa da matéria sobre políticas públicas.
Se esses aspectos negativos foram amplamente apontados, os positivos também o foram, ainda em maior escala. A diversificação de fontes é um grande destaque das reportagens, ancorando tanto em dados quanto em depoimentos. Nossa imprensa falha na cobertura do tema ao focar em aspectos sensacionalistas, estigmatizantes, o que não ocorreu em nossa produção.
Também é digno de nota o quanto as temáticas se relacionam com o público do Repórter Unesp, composto em grande parte por pessoas do meio universitário. Em especial os estudantes podem tirar bastante proveito do debate desenvolvido nesta edição sobre bebidas alcoólicas.
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