A forte intolerância religiosa contra religiões de matriz afro-brasileiras

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(Fonte: Ana Essi)

Apesar de multicultural, o Brasil ainda caminha lentamente no respeito às origens africanas

A intolerância religiosa é algo presente em todo o mundo. No entanto, no Brasil ela assume características bem particulares. Por todo seu passado escravagista, por aqui, a intolerância se concentra nas religiões de origens africanas, com o candomblé e a umbanda, por exemplo.

Passado escravagista

Para entender o preconceito e a intolerância contra essas religiões é necessário entender o ponto de vista histórico da formação social no Brasil, como explica o antropólogo Valter Gonçalves em entrevista com a “TV UNIVESP”. Ele afirma que a partir da colonização, o país se torna multicultural: composto por etnias indígenas, africanas e europeias. Porém, isso não significa que todas essas culturas se abraçaram em respeito e igualdade. A colonização portuguesa veio para o Brasil com um projeto de dominação cultural.

Valter Gonçalves explica também o contexto histórico do processo de intolerância no Brasil. Ele conta que na nossa sociedade, que se inspira na ótica europeia, os portugueses não demoraram para tentar catequizar os indígenas e os negros, assim o catolicismo se tornou a religião obrigatória do país. Desde então, as religiões africanas foram reprimidas e perseguidas pelo império, já que igreja e estado trabalhavam juntos.

Hierarquia Social

Logo, para os brasileiros de classe dominante a cultura certa e a religião certa eram as que vinham da Europa, o que possuía outras origens era errado ou ruim. O antropólogo, Cláudio Bertolli, afirma que ainda nos tempos de hoje a sociedade brasileira continua insistindo em enaltecer a cultura de raiz europeia.

Ele comenta a existência de uma hierarquia social: “Assim, criamos uma hierarquia na qual o topo de perfectibilidade é ocupado por instituições, religiões e personagens que compactuam com a tradição europeia e norte-americana, enquanto que a parte inferior da hierarquia é ocupada pela cultura e por personagens de origem africana e indígena. E, nesse processo, se encontram as religiões afro-brasileiras”.

O antropólogo também declara que outro impedimento são as atitudes e as doutrinas pregadas pelas igrejas tradicionais, porque cada uma se declara como a verdadeira, traçando o raciocínio de que as outras são, portanto, mentirosas. “Desde o Brasil colonial as religiões de origem afro são consideradas “coisas do demônio” e, nesse sentido, são alvos de ataques simbólicos e físicos. Veja-se o caso da Igreja Universal que há mais de três décadas tem insistido em associar as religiões afro-brasileiras com satã. ”

Essa demonização do Candomblé e da Umbanda geram ataques a terreiros, a símbolos religiosos e aos que acreditam nessa fé. Neste ano de 2017, aconteceram muitos ataques do Rio de Janeiro. Em setembro, por exemplo, homens obrigaram mães de santo a quebrarem o próprio terreiro em Nova Iguaçu. Elas foram ameaçadas de morte e os criminosos disseram que estavam agindo em nome de Jesus.

A Intolerância vista de perto

(Fonte: Pixabay)

Bolají Alves é candomblecista, estudante de história e militante da causa negra. A estudante ama sua religião e se identifica totalmente com ela. “Eu sou o Candomblé, foi no Candomblé que eu nasci, ele é a minha história, fui criada na ética da oralidade. Não tem um dia em que eu não afirme que eu sou uma preta, candomblecista sim, e vocês vão ter que me engolir sociedade”.

Ela conta que já sofreu repressões racistas principalmente na escola, porque os alunos não tinham respeito por ela e nem pela sua religião. “Quando você é menor, quando você está na escola, te excluem, ridicularizam seu nome e você percebe que você é uma piada para aquela sociedade. Porque ninguém faz isso com cristão e protestante mas fizeram com a menina preta que veio do candomblé” – afirma Bolají.

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O ensino nas escolas

Bolají Alves também acredita que a inserção do ensino de História da África no ensino médio poderia ajudar na desconstrução do estereótipo do negro na nossa sociedade, e assim, ser um auxílio na luta contra a intolerância religiosa e racismo. O movimento negro conseguiu, que em 2003 fosse aprovada a lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras em escolas particulares e privadas.

Apesar de aprovada a lei 10.639, não há fiscalização sobre essa, muitas escolas simplesmente ignoram o conteúdo ou o abordam de forma superficial. O ensino de História nas escolas brasileiras continua sendo voltado para história europeia. Se estuda feudos, guerras santas, senado grego, o império romano e a África só é citada quando se estuda a colonização europeia no continente. Bolají Alves afirma: “A África que tem mais de 50 países é tratada como um país só. ”

Reportagem: Isabela Holl

Produção Multimídia: Ana Essi

Edição: Wesley Anjos

 

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