As mulheres estão reivindicando seu espaço e ocupando diversos setores da sociedade, antes nem imaginados
No Brasil, a realidade vivenciada pelas mulheres é totalmente diferente daquela que os homens vivenciam. As mulheres sempre enfrentaram dificuldades devido ao machismo intrínseco na sociedade, principalmente no que diz respeito à profissão. Atualmente as mulheres se esforçam todos os dias para conseguir ocupar os mesmos espaços que os homens em nossa sociedade.
Esse cenário começou a ser construído já na época da colonização do Brasil. De acordo com o pesquisador em história social, Célio José Losnak, vários aspectos culturais da distribuição do trabalho fazem parte da bagagem europeia. Quando o país se tornou colônia de Portugal, aqueles que já estavam no Brasil foram catequizados e moldados a partir dos costumes dos estrangeiros. Até hoje, as nossas tradições estão ancoradas nessa época. Portanto, alguns espaços da sociedade são trabalhados como exclusivamente masculinos. Nos últimos anos, a luta da mulher para ocupar o seu espaço vem se fortalecendo e já alcançou vários resultados positivos.
O espaço da casa e o espaço da política
Uma dificuldade encontrada pelas mulheres para ocupar qualquer área profissional é a necessidade de lidar com tarefas que os homens não precisam se preocupar. Porque, na maioria das vezes, são designadas especificamente para as mulheres, como os deveres da casa e o cuidado com os filhos. A vereadora do município de Bauru, Chiara Renieri, ressalta que essas atividades geralmente são prioridade na vida da mulher. Elas costumam procurar alternativas para encaixar as atividades profissionais de acordo com essas atividades domésticas que lhe foram previamente designadas. Tradicionalmente, as profissões ocupadas pelas mulheres são aquelas relacionadas ao cuidado interpessoal. Por isso são valorizadas as atividades da mulher como professora, enfermeira, costureira, etc.
Na política o cenário ainda não é muito animador, mas também vem sendo alterado e trabalhado para conquistar um equilíbrio. A vereadora Chiara Ranieri acredita que a política é uma área muito mal vista, e não costuma ser considerado um meio seguro pelas mulheres. Devido a esse fato mais homens se interessam por esse tipo de trabalho. “A política não é um ambiente bonito, fácil, agradável, porque é um ambiente de luta, de debate e de embates. É um ambiente onde existe muita gente fazendo coisas erradas. Então muitas mulheres não querem se dispor a estar num ambiente desses”, ressalta a vereadora.
Mesmo assim, para aquelas que se interessam, as oportunidades na política estão aumentando. As novas leis garantem um espaço dentro dos partidos para as mulheres. Além disso, políticas de incentivo financeiro, por exemplo, permitem que as candidatas realizem a suas campanhas independente do plano financeiro dos candidatos homens.
As mulheres de Exatas
Outro espaço massivamente ocupado por homens, é a área da engenharia. As faculdades de engenharia formam todos os anos uma maioria esmagadora de homens, contra algumas poucas engenheiras mulheres. No ambiente de trabalho também é a mesma coisa, as engenheiras são exceção. Júlia Fares e Mariana Anastácio estão cursando Engenharia Elétrica na UNESP de Bauru. Elas fazem parte de um grupo de 5 mulheres em uma turma com mais de 40 homens.
Mariana acredita que existe uma construção social que não apresenta para as mulheres todas as possibilidades de carreiras profissionais disponíveis. É devido à esse fato que elas não despertam interesse para essa área. Mariana conta que desde criança teve uma experiência voltada para a área da engenharia, porque seu pai também é engenheiro e dava para ela brinquedos como “motores, legos e robôs”. Diferente do restante das meninas que desde criança aprendem brincadeiras relacionadas às tarefas da casa. Ela destaca que “desde que você é criança, levam os meninos a despertarem maior interesse por essa área, enquanto muitas meninas não têm esse contato”.
Júlia ressalta que há outros fatores que influenciam na hora que uma mulher considera seguir carreira na engenharia. “Há um preconceito evidente ainda hoje, e creio que é por isso que muitas mulheres não tenham interesse em adentrar em determinadas áreas”.
As mulheres da Informática
A área da informática também é um espaço exclusivamente masculino. Cursos como Ciência da Computação e Sistemas de Informação são frequentados por uma maioria masculina. Amanda Izidoro, aluna de Ciência da Computação é a única mulher em sua classe. Ela conta que existe a crença de que os homens são mais capacitados para lidar com questões relacionadas à tecnologia. “Acredito que esse machismo teve papel na seleção (dos homens) pelo fato de algumas pessoas não aceitarem que uma mulher poderia resolver um problema tecnológico no lugar de um homem”.
Sayuri Morota cursa Sistemas de Informação, e conta que apenas um quarto de sua turma é composta por mulheres. Apesar dos problemas ainda enfrentados, ela acredita que a área caminha em direção ao equilíbrio entre gêneros. “As mulheres conseguiram provar que podem ser tão boas programadoras quanto os homens”.
Transformações sociais
Todas essas áreas profissionais aqui citadas, já foram exclusivamente masculinas, no passado. Portanto, é possível observar que as mulheres estão lutando e já conseguiram ocupar lugar em várias setores da sociedade. Mesmo assim, a busca por espaços que sejam mais igualitários deve continuar em pauta por muito tempo.
De acordo com o professor Losnak, “os movimentos sinalizam que as relações de poder tendem a ser mais igualitárias, mas a história nos mostra também que ela não é totalmente progressiva e linear.” Ele acredita que está ocorrendo no país o crescimento de uma onda conservadora, e que ela pode acabar segurando o avanço dos movimentos de emancipação. Apesar disso, ele destaca que o melhor caminho para se alcançar a igualdade de gêneros é a união da luta política das mulheres. Além da educação da população através das crianças. “Existe no mínimo dois âmbitos de luta, um é lutar contra os preconceitos praticados pelos adultos, e o outro é preparar as novas gerações”.
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Texto: Larissa Caliari
Produção multimídia: Beatriz Milanez
Edição: Isabela Holl