De acordo com o IBGE, quase 24% da população possui algum tipo de deficiência. Agora olhem para o lado, quantos espaços acessíveis você encontra? E a acessibilidade na universidade? Como está este cenário?
O Brasil é um país que ainda tem muito que avançar quando o assunto é acessibilidade na universidade. Menos de 7% da população deficiente possui o ensino superior completo (de acordo com os dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE) e a necessidade de adaptar esse cenário para pessoas com deficiência é cada vez mais evidente.
A lei de cotas nas universidades e institutos federais, criada em 2012, define um sistema de reservas de vagas para pessoas negras, pardas, indígenas, de escolas públicas ou baixa renda. Porém somente cinco anos depois de sua aprovação é que pessoas com deficiência foram incluídas nesta lei.
Em 2017, a Lei 12.711/2012 foi regulamentada pelo Decreto 9.034/2017. O projeto prevê que a quantidade de vagas reservadas seja “em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE”. Estas novas regras já valem para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Adaptação de Ambientes
A adaptação de ambientes para deficientes faz parte da Lei de Acessibilidade , de dezembro de 2000, que estabelece normas e critérios para promover inserção a todos os tipos de deficiências.
Deficiências essas que são além de cadeirantes, onde são mais visíveis os ambientes adaptados. Deficientes auditivos, visuais e mentais também devem ter seus espaços respeitados, com adaptações, oportunidades e acessibilidade na universidade e ter direito de ensino igualitário.
Nos últimos dez anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) constatou um aumento de 518% de matrículas com pessoas com deficiência no ensino superior no Brasil. Entretanto, esse número equivale a apenas 0,42% dos ingressos nas instituições de ensino do país.
E essa barreira para a acessibilidade na Universidade pode começar no vestibular. Como forma de quebrar isso, o INEP disponibiliza ferramentas de acesso para as pessoas com deficiência prestarem a o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), prova que permite o aluno prestar vagas em universidades públicas e particulares com bolsa.
No ato da inscrição o aluno descreve sua deficiência e pode fazer a prova de maneira acessível, como prova ampliada, prova em braile, auxílio ledor, libras, leitura labial entre outras, dando oportunidade de ensino a estas pessoas.
Problemas na Universidade
Entretanto, esses auxílios podem não ser encontrados nas Universidades que o candidato for aprovado. Ana Paula, estudante de Administração que possui uma deficiência parcial visual, aponta que já encontrou dificuldades durante suas aulas e garante que o mais importante é a capacitação dos profissionais, que muitas vezes não estão preparados para lidar com um deficiente na sala de aula: “Tenho consciência de que o professor não tem como dar atenção específica para mim, mas a questão é que eles não sabem como conduzir as situações”
Disponibilizar materiais em outros formatos, ampliação de letras de conteúdos de uma aula e até mesmo padrinhos em uma sala para acompanhar o aluno especial. Ferramentas estas já disponíveis em alguns concursos e vestibular, são formas de proporcionar a mesma oportunidade para todos dentro da sala de aula. As adaptações no ambiente, que muitas vezes podem ser simples para quem faz, são importantíssimas para quem as recebe.
Em 2005, o Governo Federal instaurou o Programa Incluir, que propõe ações para garantir a acessibilidade plena de pessoas com deficiência nas Instituições Federais. Seu principal objetivo é integrar pessoas com deficiência à vida acadêmica, eliminando as barreiras comunicativas, arquitetônicas, pedagógicas e comportamentais. O MEC recebe projetos que tenham essa iniciativa e os fomentam para proporcionar a inclusão social e educacional dos deficientes físicos.
Iniciativas
Outros métodos também proporcionam esse ambiente mais acessível e uma deles é a produção de audiodescrições, que se caracterizam por serem uma faixa narrativa para cegos e deficientes visuais consumirem produtos audiovisuais (televisão, cinema, dança, artes visuais) e materiais impressos.
Essa ferramenta pode ser utilizada por colegas de sala de aula, professores e coordenadores de cursos para transformar materiais que não seriam acessíveis normalmente por pessoas com deficiência.
Na Unesp de Bauru, o Biblioteca Falada faz esse papel. O projeto transforma textos do formato digital e impresso em áudio, adaptando o roteiro, sonoplastia e locução para proporcionar a mesma experiência da leitura. Além dos textos, audiodescrições de fotografias, imagens, desenhos e outros produtos audiovisuais também são realizadas pelo projeto.
O desenvolvimento de pessoas com deficiência pode ser colaborado com pequenas atitudes de quem compõem o cotidiano dessas pessoas. Empatia, adaptações e motivação tornam o mundo mais fácil para quem encontra algumas dificuldades no caminho.
Repórter: Mariana Mesquita
Produção Multimídia: Ana Luísa Agostinho
Edição: Camila Gabrielle