Novos conceitos e tecnologia alteram relações financeiras dos jovens com a forma de consumir serviços bancários e de investir o salário
Os Millennials estão muito ligados à ideia de liberdade. O jovem não deseja mais trabalhar a vida inteira num mesmo local. Sendo assim, o modo com que as empresas devem agir para reter funcionários tem mudado. Além disso, alguns jovens estão dispostos a abrir mão de grandes salários, a fim de trabalhar num ambiente que proporcione uma melhor qualidade de vida. O importante é que os ideais da empresa estejam alinhados aos seus valores pessoais. No entanto, a problemática aparece quando, mesmo com as mudanças relacionadas à tecnologia, o mercado de trabalho continua com os processos e mentalidades adquiridos no passado.
A Geração Y brasileira vive num cenário pouco favorável para o início do desenvolvimento profissional. Carlos Eduardo Cardelli, professor de economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), acredita que não apenas a crise financeira dos últimos anos, mas a própria dinâmica da sociedade brasileira prejudica essa geração. Não há um ambiente favorável para que esses jovens possam inovar, empreender e desenvolver a criatividade no sentido econômico.
As mudanças no trabalho
Na pesquisa realizada em 2013 na Universidade Regional de Blumenau (FURB), o doutor em administração Christian Falaster conclui que os valores buscados pelos Millennials no mercado de trabalho são responsáveis por uma mudança nos padrões das empresas. “Questões como desafios constantes, inovação e criatividade; trabalho em equipe e vontade de aprender; admiração por empresas humanitárias e sustentáveis; todas são atributos positivos”. No entanto, as empresas precisam aprender a incorporar tais questões para se desenvolverem junto com essa geração.
Fernanda Teich é diretora de Pessoas & Performance da Stone Pagamentos. Ela afirma que, dos mais de 3 mil funcionários da empresa, a maioria pertence à geração Y. Para a diretora, “eles são pessoas proativas e colaborativas, que valorizam trabalho em equipe, liberdade, autonomia e confiança. Tudo isso somado à comunicação clara e transparente, além de uma oportunidade concreta de desenvolvimento.”
“A chamada geração Y está bastante preocupada com sua realização pessoal. A situação financeira é uma consequência”, diz Cardelli. Os jovens Millennials buscam por realizações a curto prazo, isso acaba refletindo em um não planejamento com a situação financeira, que está diretamente ligada à nova relação de consumo da geração.
A nova relação de consumo dos Millennials
No sistema bancário, é possível reconhecer uma mudança bastante clara: o surgimento dos chamados “bancos digitais”. Eles reconhecem que a geração Y é composta por nativos digitais. São consumidores que possuem um perfil comportamental bastante diferente das gerações anteriores; que pesquisam e comparam preços antes decidir; que se importam com as avaliações de outros usuários sobre empresas, produtos e serviços. Eles compram a qualquer hora do dia, em qualquer lugar. Não há necessidade de ir à loja física. Ou seja, suas escolhas são influenciadas pelas experiências que as marcas oferecem. Por isso, esses novos bancos têm sua estratégia focada no público jovem: oferecem serviços com agilidade nas operações e transparência por meio do acesso às informações. São instituições que estão apostando na relação de confiança com os clientes e na personalização de conteúdo.
Novidades na área
O Nubank é um exemplo de banco digital. Lançado em 2014, a fintech de cartão de crédito tem hoje mais de 3 milhões de clientes, dentre os quais 70% são da geração Y. O banco online oferece uma experiência totalmente digital, atendimento humanizado, sem tarifas e anuidade. O aplicativo de controle está disponível para Iphone, Apple Watch e Android. Todas as facilidades que ele oferece faz com que mais de 500 mil pessoas estejam na lista de espera para obter o cartão.
Outro exemplo é o Banco Next, lançado em 2017. Ele surgiu como uma estratégia da Organização Bradesco para atingir esse público específico. A equipe de comunicação do Next explica que tiveram ajuda de psicólogos e antropólogos para entender como pensa e age o público hiperconectado. O banco conta com um app completo: são funcionalidades que ajudam a organizar o orçamento pessoal; ou até a realizar uma “vaquinha” em grupo. Além disso, existem também algumas regalias: descontos e vantagens na utilização de empresas parceiras, como Uber e iFood. Ademais, ainda contam com gerentes consultores disponíveis o tempo todo para tirar dúvidas via chat ou redes sociais. Tudo isso sem utilizar os dados móveis do celular.
Tecnologia aspira mudança
Para não ficar para trás, os bancos tradicionais também estão se modernizando. Thiago Prates, assessor de comunicação do Banco do Brasil, afirma que a estratégia da organização está focada em uma conexão digital: serviços que se adequam aos desejos e facilidades do público jovem. “O relacionamento prioritariamente acontece via canais digitais e remotos. O grande protagonista do BB nesta relação é o app. Para além desse alcance, outro canal que também pode ser acionado é o atendimento via redes sociais (facebook e twitter).” Atualmente 32% dos clientes do banco têm até 34 anos de idade.
Até os serviços mais tradicionais, como as seguradoras, estão sendo moldadas pelas novas relações de consumo da geração Y. A Youse, por exemplo, é uma plataforma de venda de seguros online que surgiu em 2016. O CMO, Leandro Claro, reconhece que o público-alvo são pessoas que estão contratando um seguro pela primeira vez e, por isso, sentem-se atraídos pela experiência digital que a seguradora oferece e pelo discurso simplificado.
Investimentos
Uma reportagem do portal Pra Valer afirma que dos jovens de alta renda da Geração Millennial, apenas 19% afirma ter um bom conhecimento sobre investimentos. Ana Vitória Baraldi, Head de Customer Experience e Gestora da Vérios, acredita que, para driblar esse problema, “um dos caminhos é investir em educação financeira. É um jeito de desmistificar o universo dos investimentos, que é através de uma linguagem mais espontânea, próxima e descomplicada”.
Em comparação com a geração anterior, os Millennials buscam maior flexibilidade e autonomia. São jovens que entendem que um investimento financeiro significa mais liberdade e possibilidades no futuro. Porém, esse público não costuma ter um objetivo definido para investir. É uma geração que entende que o dinheiro precisa de um encaminhamento e que investimento é uma parte importante para ter segurança financeira e poder aproveitar oportunidades, mas falta um plano concreto.
Um ponto importante nessa discussão é o aumento da expectativa média de vida da população. “Agora as pessoas tendem a viver mais anos, isto é, principalmente das classes média e alta. É importante que elas se preparem financeiramente para a aposentadoria e para o seu bem-estar nas idades mais avançadas”, comenta Renato Garcia, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
O planejamento nas questões financeiras
O professor salienta que os jovens precisam entender a necessidade de persistir nos seus objetivos financeiros. Aplicações financeiras muito boas, como o Tesouro Direto, acabam sendo pouco atraentes para os Millennials. Isso acontece porque esses jovens estão em busca de ganhos rápidos e fáceis. Renato dá a dica: “o ideal é separar uma parcela da remuneração mensal e investir esse volume de recursos em fundos de médio e longo prazo. Ainda assim, isso envolve uma renúncia no curto prazo que nem sempre os jovens estão dispostos a fazer.”
Trata-se de uma geração avessa ao discurso autoritário, portanto, tentar impor algum serviço é o pior caminho para conversar e atrair os Millennials. Por isso, existe a necessidade das empresas de todos os ramos entenderem que ir direto ao assunto e explicar de um jeito descomplicado, jovem e amigável é a melhor maneira de estar próximo desse público.
Repórter: Amanda Casagrande
Produtor Multimídia: Wesley Anjos
Editora: Beatriz Milanez