O movimento escoteiro surgiu na Inglaterra no início do século XX, em 1907 por Robert Baden-Powell, militar ex-reformado do Exército, enquanto ele servia à Inglaterra na época do imperialismo colonial, na Índia e na África. Durante sua estadia nestes locais, gostou muito das atividades feitas pelos jovens ali e ao voltar para a Inglaterra, em plena Revolução Industrial, notou a quantidade de crianças e adolescentes nas ruas, situação decorrente do grande número de desemprego no país. Baden-Powell, ao perceber a situação, ficou sensibilizado e inspirado no que viu nos outros países, decidiu fundar o escotismo. No Brasil, os primeiros registros do movimento escotista datam de 1910.
Com o passar dos anos, o escotismo foi se espalhando pelo Brasil, inclusive na cidade de Bauru. O primeiro grupo foi o Guia Lopes, que existe há 57 anos, e o Grupo Tiradentes, presente na cidade desde 1976.
O Tiradentes foi fundado por Jorge Kanehide Ijuin, jornalista formado pela Unesp Bauru. Integrante do Guia Lopes, ele tinha o propósito de difundir o movimento escoteiro pela cidade de Bauru, o que o motivou a criar o grupo. Ele foi chefe da organização durante 13 anos, em dois intervalos de tempo distintos, até o início da década de 1990. Hoje, ele vive em Florianópolis (SC), mas ainda mantém contato com membros do grupo.
Atualmente, o grupo é comandado por Zoraide Grassi, de 75 anos. Ela conta que é voluntária do movimento escotista há 37 anos. Zoraide conheceu o escotismo porque levou seus filhos para participar das reuniões e se encantou com os ensinamentos.
Filiados à União dos Escoteiros do Brasil, o Grupo Tiradentes tem como principal objetivo o “Respeito a Deus, à pátria e ao próximo”. Porém, Zoraide faz questão de ressaltar que eles não são uma instituição religiosa. Ela afirma que “há um momento de espiritualidade no início das reuniões, a exemplo de uma oração, porém sem nenhum deus ou uma religião definidas”.
O escotismo é dividido em quatro etapas, chamadas de seções: a primeira, é a Alcateia de Lobinhos, abriga crianças dos seis aos dez anos. Logo depois, vêm a Tropa de Escoteiros, cuja idade varia entre 11 e 14 anos. Em seguida, a Tropa Senior, que têm entre 15 e 17 anos e por fim, o Clã Pioneiro, dos 18 aos 21 anos. Zoraide diz que “o método escoteiro é baseado no respeito à individualidade, e no aprender fazendo”. Ou seja, as crianças adquirem noções de coordenação motora e independência pela prática.
O escotismo trabalha com seis frentes: físico, intelectual, social – no sentido de fazer algo para a sociedade -, afetivo – de modo a se desenvolver um bom relacionamento com os outros – , espiritual – acreditar em um criador, independente de religião – e caráter que, para Zoraide “engloba todos os outros”. Após os 21 anos, os alunos podem, se desejar, ser escotistas, que são aqueles que ensinam as práticas do escotismo aos outros alunos.
Outra questão é que cada criança que participa do escotismo precisa fazer uma promessa de que irá fazer algo de bom e obedecer às principais leis do escoteiro. Para Zoraide, “é isso que diferencia o movimento escoteiro de qualquer outro ensino educacional” e na visão dela, é por essas tradições que o escotismo persiste no Brasil mesmo sendo originada de outro país.
Uma dessas tradições é a fogueira. Em cada passagem de seção (de lobinho para escoteiro, por exemplo), os integrantes do movimento escotista se reúnem em um acampamento e montam uma fogueira, na qual eles cantam, dançam e realizam esquetes, entre outros números artísticos. Isso é uma celebração de tudo o que eles já conquistaram até ali.
Por estes e outros costumes, Zoraide aponta o valor histórico do escotismo:
“O escotismo é um patrimônio cultural porque ele já está no Brasil há mais de 100 anos e é presente no país inteiro. Porém, ela afirma que não é tão difuso quanto poderia: “Bauru, por exemplo comportaria uns cinco grupos de escoteiros, porém só tem dois”.
Zoraide também diz que há um certo descaso do poder público com os movimentos culturais a exemplo dos escoteiros. Segundo ela, o Grupo Tiradentes não recebe verbas públicas, somente dinheiro vindo da mensalidade dos pais dos alunos mais doações por fora, o que dificulta as atividades do grupo. Um exemplo recente que Zoraide traz é um encontro de escoteiros realizado no mês de agosto na cidade de Assis (SP). Ela conta que conseguiu um ônibus da Prefeitura para levar os alunos à reunião, mas com muita dificuldade.
Ela afirma que com a má situação do transporte municipal, isso afeta áreas como os escoteiros. “A prefeitura está meio sucateada em questão de transportes, como caminhão de lixo, veículos para obras”. Logo, seu desejo é que o Tiradentes recebesse uma verba da Prefeitura para ajudar nas suas atividades. “Mesmo que fosse pequena, já ajudaria na nossa receita mensal”, ressalta.
Texto: Guilherme Hansen
Produção multimídia: Christian Macías Retamar
Edição: Victor Barreto