Bauru oferece o curso de Jornalismo gratuito no câmpus da UNESP, o que atrai estudantes de todo o Brasil para atuarem no mercado de trabalho da cidade.
Atualmente, a cidade de Bauru possui duas universidades com o curso de Jornalismo na grade: a Universidade Estadual Paulista (UNESP), que é pública, e a Universidade do Sagrado Coração (USC), que é privada. Conjuntas, elas formam cerca de 150 novos jornalistas todo ano. Esse fator causa movimentação no mercado de trabalho e interfere em fatores como a concorrência e o salário.
O piso salarial dos jornalistas brasileiros varia de acordo com o Estado da Federação em que o profissional atua na área. Na capital do Estado de São Paulo, o piso salarial é de R$ 3.162,00, com uma carga de 25 horas semanais, — segundo uma pesquisa realizada pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enquanto em Bauru, o piso salarial é de R$ 1.773,50 para uma carga horária de 30 horas semanais.
A disparidade de 43,9% entre os salários existe por conta da diferença no número de habitantes das cidades, além da produção de conteúdo. O jornalista Ricardo Epifânio, 52, acredita que Bauru vem deixando a desejar nas últimas décadas.
Ricardo ressalta, também, o papel dos sindicatos em assegurar os direitos trabalhistas. A recente aprovação da Reforma Trabalhista, segundo ele, coloca o trabalhador em uma condição de mão de obra escrava com jornadas abusivas.
“A precarização se aprofundou, com os supostos novos empregos estabelecendo uma queda no valor dos salários, na recontratação de pessoal para a mesma função. Às vezes, ao invés de jornalista o profissional está sendo registrado como gestor de mídias, analista de comunicação ou qualquer denominação.”, completa o jornalista.
A internet se tornou a melhor alternativa
A editora executiva do Grupo Alto Astral de Bauru, Mara Fernanda de Santi, 41, partilha da mesma opinião. Para ela, as oportunidades de emprego ainda são abrangentes no cenário municipal, porém isso se dá devido ao fato de várias agências de comunicação terem sido criadas por conta do boom digital. Segundo ela, “Existe a necessidade de um recém-formado a estar inteirado com todas as mídias possíveis. Principalmente com as mídias sociais, é aí que está aparecendo maior chance de trabalho.”
“As oportunidades não são tão vastas [para um jornalista recém-formado] em relação ao que eu tinha quando eu me formei para hoje, em termos de grandes meios. A gente não aumentou a quantidade deles. Ao contrário, alguns meios foram inclusive reduzindo quadros.”, completa Mara.
Esse fato é facilmente comprovado no censo realizado pela FENAJ, onde os dados mostram que 45,8% dos jornalistas entrevistados trabalha exclusivamente produzindo conteúdo em veículos de comunicação, enquanto 33,6% trabalha exclusivamente fora da mídia, 12,2% trabalha dentro e fora da mídia ao mesmo tempo, e 8,4% trabalham como docentes. Confira parte da entrevista no áudio:
A tendência se confirma, também, na opinião do jornalista e diretor de atendimento Marcelo Bueno, de 31 anos. Para ele, o estudante pode começar a ser inserido no mundo digital ainda na faculdade, atuando na área de gestão de conteúdo para blogs, para redes sociais, estratégia de comunicação, branded content, otimização de conteúdos com técnicas de SEO e funil de vendas.
Segundo Marcelo, a cidade de Bauru “poderia ser uma das cidades referência em todo o Brasil de atuação de jornalistas no meio digital, mas, os veículos tradicionais demoram para mudar seus projetos, os clientes ainda investem pouco e o resultado disso é um cenário ainda defasado.”
Texto: Lara Ignezli
Produção Multimídia: Patrick Souza
Editor: Guilherme Hansen