Adoção tardia: carinho necessário em todas as idades

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No Brasil, cerca de 9 mil crianças e adolescentes encontram-se em abrigos para serem adotadas. Ao passo que, em média 46 mil pretendentes a pais aguardam para poderem realizar o processo de acolhimento, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Considerando-se que o número de candidatos a adotantes é cerca de quatro vezes maior do que o de crianças que podem ser adotadas, por que será que ainda há tantas delas sem a perspectiva de encontrar um lar?

De acordo com os dados do portal CNA, administrado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há uma tendência dos pretendentes a adotarem crianças com menos de dois anos de idade. Principalmente, bebês recém-nascidos, do gênero feminino, etnia branca e sem doenças crônicas. Entretanto, esse perfil é minoritário dentre as crianças e adolescentes cadastrados para adoção.

A imagem apresenta a contraposição entre os dados da expectativa referente aos adotantes e a rea
Dados mostram as diferenças entre as expectativas do adotantes e a realidade dos adotandos
(Arte: Gilmara Melo/ Repórter Unesp)

A adoção de crianças mais velhas

As diferenças existentes entre as expectativas e a realidade geram uma problemática em torno do processo de adoção tardia. Tal procedimento se caracteriza pela adoção de crianças a partir dos dois anos de idade. Daniela Loureiro, coordenadora e assistente social do abrigo AELESAB, em Bauru, destaca que “a falta de procura é o que dificulta a adoção tardia. Não tem interessados nos perfis que se encontram nos abrigos hoje”.

Leonam Albuquerque, mestre em Psicologia Social e membro do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o Desenvolvimento da Infância e Adolescência (NUPEDIA-UFPB), elenca os motivos alegados pelos pretendentes, para não realizar a adoção de crianças maiores:

  • A vivência das primeiras fases de desenvolvimento da criança, devido à importância para os pais da primeira educação no desenvolvimento do filho;
  • A preferência pessoal pela faixa etária da primeira infância e a possibilidade de modelar o comportamento;
  • A personalidade moldável da criança com menos idade. 

Tendo em vista essas circunstâncias, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em 1990, apresenta estratégias para que haja aceitação das diferentes características dos adotandos. Isso se dá por meio de “campanhas de estímulo à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos”, de acordo com o ECA.

O papel das instituições no processo de adoção tardia

Pelo viés psicológico, não há um consenso científico sobre as consequências da institucionalização do desenvolvimento infanto-juvenil, ou seja, sobre a criação de menores em abrigos. Ainda assim, é comum que crianças e adolescentes que passam grande parte da vida em instituições de acolhimento apresentem alguns comportamentos recorrentes. Dentre os quais são desenvolvidos ao longo do processo de afastamento familiar e institucionalização.

Segundo Daniela Loureiro, a ruptura com a família biológica e a não adoção comprometem o desenvolvimento humano e escolar da criança. Consequentemente, nota-se a evolução de transtornos de conduta, além de problemas de saúde. Sendo assim, torna-se necessário o acompanhamento psicológico durante a vivência da criança ou do adolescente no abrigo.

Daniela Loureiro, Assistente Social e Coordenadora da AELESAB, explica que muitos adolescentes desenvolvem problemas psicológicos por não conseguirem ser adotados
(Vídeo: Gilmara Melo/ Repórter Unesp)

O caso da AELESAB

BAURU – A instituição AELESAB conta, hoje, com 15 moradores, entre 8 e 17 anos, que aguardam uma nova casa para poderem chamar de lar. A entidade busca caminhos alternativos para favorecer a realização da adoção tardia, haja vista a dificuldade de conclusão do processo adotivo em faixas etárias mais avançadas. Dessa forma, há a realização de ações como o apadrinhamento, em que são selecionadas pessoas interessadas para dar todo o tipo de suporte às crianças, seja educacional; emocional; ou ainda, financeiro.

Além disso, antes de seguirem a vida fora do abrigo, após atingirem a maioridade, os adolescentes sem perspectiva de adoção são ensinados a desenvolver autonomia e independência. Assim, recebem ajuda para inclusão no mercado de trabalho, instruções de autogestão, controle financeiro e demais atividades do dia-a-dia. O intuito é tornar os adolescentes mais independentes para se sentirem capazes de morar sozinhos.

Conheça outras iniciativas de instituições que trabalham com crianças e adolescentes aptas à adoção

Repórter: Nathalia Soares Ribeiro

Produtora multimídia: Gilmara Melo

Editora: Milena Almeida

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