Para uma parcela da população, o princípio de “família” parte da união conjugal. Isso marca o início de vários planejamentos, desejos e expectativas para o futuro em conjunto. Entretanto, é comum que diferenças de afinidade surjam no meio do caminho e que o casal tome a decisão de se separar e seguir um rumo diferente. Saiba aqui como conversar sobre a separação com os seus filhos.
Há situações em que o processo se torna delicado. Dessa forma, deve ser tratado com acompanhamento e atenção.
A lei do Divórcio e a separação no Brasil
O divórcio foi inserido no Brasil da forma que conhecemos hoje com a Constituição de 1988, no artigo 266. Posteriormente, passou por uma série de alterações ao longo de mais de 40 anos que esteve em vigor.
Hoje, por exemplo, não há restrição para o número de divórcios e casamentos como previa anteriormente a emenda constitucional número 9, de 28 de junho de 1977.
Juntamente com outros métodos de separação, é possível realizar o divórcio por via administrativa, sem recorrer à ação judicial, facilitando o processo no caso de casais sem filhos.
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Como conversar com os filhos sobre o divórcio e separação?
Segundo dados do IBGE, no ano de 2017 foram realizados mais de 1 milhão de casamentos, entretanto, também foram registrados 373.216 divórcios.
No país, 33% dos casamentos terminam em separação e uma das possíveis dificuldades enfrentadas durante a anulação de uma relação é a de como contar para os filhos e como isso poderá afetar a relação de todos os envolvidos. Por isso, é importante saber como conversar sobre a separação com os seus filhos.
Cleiton de Souza Sari tem 36 anos e se separou há pouco mais de um ano. O filho de 2 anos e 4 meses fica com ele por questões práticas de tempo e horário e Cleiton diz que ainda não conversou com a criança sobre o assunto, pois ela ainda é muito jovem e não entenderia.
A princípio, a redação conversou com a psicóloga Evelyse Jardim Curi, que tem especialização em Neuropsicologia e Psicoterapia de abordagem cognitivo-comportamental. Ela nos conta que não há uma “melhor maneira”, mas que é possível seguir alguns passos.
Segundo ela, “empatia com o outro é a melhor forma de iniciar uma conversa sobre o assunto. Os pais precisam ser empáticos consigo e com os filhos. Não é um momento fácil para nenhum membro, pois trata-se de uma mudança na rotina e no formato familiar”.
Paciência e apoio
Patrícia Vieira de Lima, 39 anos, é mãe de duas crianças: um menino de 14 anos e uma menina de 5 anos. Ela conta que também não conversou com seus filhos sobre a separação, entretanto seu menino mais velho é mais reservado em relação ao assunto. Segundo Patrícia, “ele não é de falar nada, ele fica na dele”.
Aos pais, ao conversarem com os filhos, independente da idade, é recomendado que haja a compreensão, pois nem sempre a reação será positiva. Evelyse lembra que o sentimento de tristeza, raiva, angústia ou confusão devem ser tratados sem punição ou julgamento.
Esses sentimentos são “respostas emocionais e essas devem ser validadas pelos pais, que devem ser compreensivos”, ela conclui.
A presença dos pais.
Uma das preocupações que Cleiton aponta é justamente o momento de contar para o filho sobre a separação. Desta forma, ele afirma que faz o possível para garantir que os dois pais sejam presentes, mesmo que separados. Segundo ele, a mãe do seu filho vai em sua casa todos os dias e passa algumas horas com a criança enquanto ele trabalha. Entre eles há uma relação amigável, pois “ela não fica muito tempo sem ver ele, nunca passou mais de um dia sem ver. Na verdade ela fica até mais tempo que eu se for pensar, com ele acordado”, explica.
Evelyse, sob o mesmo ponto de vista, afirma que “se os pais se organizam e dividem as tarefas que exigem sua presença e cuidados, não somente estarão deixando de se sobrecarregar com a educação e criação dos filhos, como também estarão promovendo segurança e apoio aos mesmos”.
Para Patrícia, a situação com o pai não é das melhores, pois não recebe apoio e pensão para os filhos e a situação financeira se complica. Segundo ela, “é só meu emprego e a ajuda de pessoas da prefeitura e assistência social. Também tem o hospital onde trabalho, que sempre ajuda quando eu comento”.
E os pais, como ficam?
Evelyse acrescenta que a separação pode afetar a saúde mental de todos, inclusive dos pais, pois a mudança exige dedicação e envolvimento que podem sobrecarregar emocionalmente o indivíduo.
Dessa forma, ela pontua que é importante que haja um acompanhamento de especialistas “tanto no processo de aceitação da nova condição de vida, quanto no processo de mudança e consolidação do equilíbrio psicológico e emocional da família”.
Repórter: Letícia Alves
Produção multimídia: Caroline Doms
Editora: Maria Eugênia Martelli