Live action traz a década de 1990 de volta às telas

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A Disney vem investindo cada vez mais em novas versões de seus filmes de animação 

Atualmente, a sociedade está passando por um resgate dos anos 90 em diversos aspectos: moda, estética e produções da década estão voltando com força. Seja por meio de reprises (mostrar de novo) ou remakes (refilmagens), a nostalgia foi tão grande, que nem mesmo a Disney ficou de fora. A famosa multinacional estadunidense vem apostando na reprodução de seus filmes de animação no formato live action.

Alvaro André Zeini Cruz, doutor e mestre em Multimeios pela UNICAMP, define live action como “o que a gente vê de vida real no cinema, captado sob uma ótica do que consideraríamos um realismo”. Dessa forma, a Disney vem transformando seus filmes clássicos que fizeram sucesso em 1990, em grandes produções regadas a tecnologia. 

Disney aposta no saudosismo a seus produtos antigos

101 Dálmatas (1996) foi o responsável por estrear a lista de live actions da produtora. Depois disso, diversos títulos foram adaptados, como por exemplo,  Alice no País das Maravilhas, Cinderela e A Bela e a Fera. Mas, foi a partir de 2019 que a Disney começou a investir à todo vapor neste tipo de produção. 

Confira a lista completa de filmes live action da Disney

Pôster do live action de 101 Dálmatas

Pôster do live action de 101 Dálmatas (Foto: Reprodução/Disney)

Para Alvaro, a empresa vem investindo em live actions e reprisando seus principais filmes porque os anos 90 foi o auge da animação 2D.  A Disney começa a aderir a “nova” maneira de ocupar as telas ao buscar “transpor essas animações da maneira mais hiper realista possível, tentando atrair o espectador a partir de uma mistura de nostalgia e curiosidade pela técnica e pela tecnologia”.

E como podemos ver, nostalgia vende. Não é a toa que o maior investimento na produção dos remakes está acontecendo durante esse apego social com a década de 90. O filme que mais obteve arrecadação nas bilheterias foi O Rei Leão, um dos live actions mais esperados pelo público brasileiro e que arrecadou US$ 1.334 bilhão mundialmente. 

A animação foi lançada em 1994 com a expectativa de ser um filme “B”, em paralelo com Pocahontas, que seria o filme “A”. Os produtores acreditavam no sucesso garantido da animação sobre a ameríndia, já que estreariam no mesmo ano.

Ao considerar o sucesso de sua versão live action, não é de se estranhar que a estreia do desenho de O Rei Leão bateu recorde de bilheteria e arrecadou U$311,3 milhões só nos Estados Unidos (sem contar todas as produções que se desdobraram a partir do filme, como as adaptações para teatro e para vídeo). 

Gráfico do valor arrecadado no Brasil com as bilheterias de filmes live actions

(Produção: Danielle Olímpio)

Adaptações live action roubam a cena em produtoras

Apesar do sucesso de suas adaptações, a Disney não investiu em nada novo desde que essa febre do audiovisual realista começou. Segundo Alvaro, em relação aos investimentos, é necessário pensar que a Disney possui outras aplicações que vão além e a.da produção cinematográfica, como por exemplo a FOX e ABC.

Alvaro acredita que a marca tem investido menos em animações e produtos originais, devido à venda de produtos nostálgicos, que encontra-se em seu ápice de arrecadações, não só nos cinemas, mas também em produtos televisivos, em que é possível fazer tudo de um modo mais realista.

Comparação da animação de Cinderela (1950) e seu live action (2015)

Comparação da animação de Cinderela (1950) e seu live action (2015)

Giulia Rezende, estudante de Direito pela Mackenzie, é fã de carteirinha da Disney desde criança e está adorando a grande produção de remakes. “Eu acho que ao mesmo tempo que é fiel à história do desenho, eles adicionam pontos importantes pro mundo de hoje e para a expectativa do público. No Aladdin, por exemplo, eles dão um protagonismo maior para a Jasmine e sobre ela querer ser Sultana”, disse.

Produtora busca atualizar filmes à realidade atual

A Disney vem alterando algumas informações dos filmes, por meio de novos recortes e promovendo novos protagonismos. Um dos grandes exemplos é Mulan, que conta uma história baseada em uma lenda de uma mulher que teve que se passar por homem para lutar junto com o exército Chinês, a fim de poupar seu velho pai da tarefa. A trama é composta por diversos aspectos da cultura chinesa, que foram problematizados e serão consertados com na produção da sua versão live action.

Existem algumas especulações sobre a produção e, uma delas, é de que o filme irá perder a característica de humor e será mais fiel a lenda que inspirou a animação. Algumas personagens, como o dragão Mushu e o par amoroso de Mulan, Li Shang, serão retirados da história.

Tal situação ocorrerá uma vez que ambos os personagens ferem parte da cultura de origem: o dragão é um símbolo sagrado no país e Li Shang é o nome de um imperador que instalou a escravidão na China há milhares de anos atrás.

Confira os 5 elementos da animação que ficarão de fora da versão live action de Mulan

Xiong Xiwei, professora de mandarim, relata que o filme não fez tanto sucesso na China como fez no Brasil: “assisti ao filme e tem uma história bonita. Mas tem alguns detalhes que são contra história real. Além disso, às vezes ele mostra a cultura chinesa de uma forma muito seca”.

Giulia, por sua vez, conta que as mudanças realizadas nos remakes são muito importantes: “por um lado fã e de quem gosta muito dos filmes, eu fiquei um pouco decepcionadas com os boatos que rolaram das mudanças, mas acho muito importante a Disney não cometer os mesmo erros”.

Alvaro André Zeini Cruz, doutor e mestre em Multimeios pela UNICAMP
Adaptações roubam [mais uma vez] o coração de brasileiros

Apesar de todas essas questões, o filme também impacta de forma direta na sociedade brasileira, que acompanha as animações desde pequenos. Para Alvaro, a repercussão mais imediata desses filmes é que eles conquistam toda uma geração de um público nostálgico.

Porém, ele acredita que essa “febre” não vai durar muito: “é uma coisa meio garantida, mas não sei se isso vai perdurar. A disney também já começa a pensar na própria plataforma dela, que chegará ao Brasil ano que vem. Alguns live actions serão feitos especialmente para isso e não só no cinema”.

No Brasil, o revival dos anos 90 também se populariza nas telenovelas. A rede Globo, por exemplo, tem o hábito de reprisar seus clássicos mais famosos pelo “Vale a Pena Ver de Novo”. Sem contar na clássica Malhação, novela adolescente que surgiu em 1995 e continua sendo produzida (comemorando sua 27ª edição).

Atualmente, a emissora chegou a criar uma novela com a temática da década de 90 chamada Verão 90, que foi ao ar de janeiro a julho de 2019.

A novela "Verão 90" celebrou a década de 1990 nas telas da emissora Globo

A novela “Verão 90” celebrou a década de 1990 nas telas da emissora Globo (Foto: Daniele Olímpio)

Repórter: Jaqueline Neves

Produtora multimídia: Daniele Olímpio

Editora: Flávia Gasparini

Editora-chefe: Nayara Campos

*Esta matéria foi atualizada às 22h23 do dia 05 de novembro de 2019. Foi retirada a expressão “década passada” pois a mesma se refere aos anos 2000 (e não os anos 1990).