Antes apenas uma distração para quando não havia internet, os jogos de mesa estão voltando a serem prioridade para a diversão entre amigos
Seja pela nostalgia que desperta nos mais velhos ou pela diversão rápida e garantida, a febre dos jogos de tabuleiro, sucesso garantido desde os anos 1990, tem ganhado cada vez mais seguidores atualmente.
Não importa se é com um tabuleiro, uma mesa, cartas, dados ou apenas usando a imaginação junto com os amigos. A diversidade e riqueza dos jogos de tabuleiro pode ser capaz de nos prender por horas à fio e gerar ótimas histórias para contar.
E por falar em história, conheça um pouco da história dos jogos de tabuleiro!
Os jogos pela história
De origem incerta, os jogos de tabuleiro primeiramente foram encontrados na antiguidade (como o Senet, da região da Mesopotâmia). Nas culturas antigas, os jogos de tabuleiro eram considerados como “jogos de passagem da alma” e item essencial na vida após a morte.
Em alguns povos, como o Mesopotâmico, os jogos eram enterrados junto ao corpo de seu dono, para livrar a alma do tédio eterno.
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Pulando algumas casas na história, chegamos ao período da Idade Média, quando surgiram alguns jogos clássicos, como o Gamão e o Chaturanga, considerado o precursor do Xadrez que conhecemos hoje.
O Chaturanga teria surgido na Índia e, através do contato com a cultura persa, o jogo se espalhou pelo oeste europeu (1000 – 1100 d.C.). O Gamão, que por sua vez possui bastante semelhança com o antigo Senet, foi um jogo de tabuleiro muito difundido entre os reis e nobres europeus da idade média.
Os jogos como conhecemos hoje
Após o período da Revolução Industrial, houve uma grande difusão dos jogos de tabuleiro. Com a possibilidade de produção em massa, alguns pequenos fabricantes fizeram versões dos jogos clássicos e novos jogos para atender a demanda da classe média emergente. Tal situação ocorreu principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Assim, com o passar dos anos os pequenos produtores de jogos formaram uma lucrativa indústria cultural.
Apesar dos primeiros jogos industriais não terem praticamente nenhuma preocupação com estratégia (valendo-se de mecânicas bem simples a julgar pelos padrões atuais), o Jogo da Vida (1860), é considerado o marco da era moderna dos jogos de tabuleiro. Em seu ano de lançamento foram vendidas mais de 45 mil cópias.
Entretanto, o jogo de tabuleiro mais popular do mundo é o Monopoly (conhecido no Brasil como Banco Imobiliário). Lançado em 1904, foi baseado no The Landlord’s Game, de Elizabeth J. Magie Phillips, que o criou com o objetivo de ensinar a teoria do economista Henry George sobre taxa simples.
Mas o boom dos jogos de tabuleiro só começou após a Segunda Guerra Mundial, quando ganharam espaço na rotina das crianças e jovens como forma de diversão e distração. No Brasil, a popularização ocorreu nos anos 1970 e sua consolidação veio apenas nos anos 1980 e 1990.
Para o estudante Rafael Almeida, os jogos de tabuleiro trazem diversas sensações ao público. “Mesmo em suas versões mais básicas, eles trazem uma grande interação. Esse tipo de coisa consegue juntar a galera envolta da mesa e garante a diversão de todos”, diz.
A tecnologia ganha espaço
Antes dos consoles e videogames entrarem de vez na vida das crianças e jovens, eram os jogos de tabuleiro que ficavam responsáveis pela diversão e entretenimento. Fosse nas tardes chuvosas ou nas reuniões de família, todos se juntavam para jogar uma partida de Monopoly, Imagem & Ação, War, Detetive ou então Perfil.
Com a chegada dos consoles e o boom dos jogos digitais, a força dos jogos de tabuleiros foi diminuindo, mas nem por isso eles deixaram de ser um importante mercado.
Não é que os jogos tenham parado de ser produzidos, mas sua popularidade caiu devido aos custos de produção e, no Brasil, se ouviu muito pouco sobre novidades nesse gênero de entretenimento.
Nos Estados Unidos e Europa, o mercado continuou funcionando, mas sem tanto barulho quanto a indústria dos consoles.
A volta dos jogos de tabuleiro como primeira opção
Depois dos ano de 2010, o que tem se visto é uma inversão do papel do jogo na vida dos jogadores. Se antes era uma escolha somente para um momento de falta de opção de lazer ou distração, agora a jogatina é a atração principal da noite.
Em suma, isso se deve, na maior parte, ao lançamento de novos jogos, com temas mais envolventes e complexos, mecânicas mais elaboradas e maior fator de estratégia: os chamados jogos de tabuleiro modernos.
Esses jogos tem atraído, cada vez mais, adultos para as mesas justamente por terem temas mais interessantes e serem ambientados em universos comuns em livros ou em momentos históricos, temas de ficção científica ou da fantasia medieval e ainda universos inspirados em séries de TV ou cinema.
Por outro lado, esse crescimento também veio da necessidade de encontrar soluções de entretenimento “offline”, desconectado. Tal situação contribui para a manutenção de relacionamentos e deixa de lado a necessidade do indivíduo estar em um computador, console ou celular.
Os temas são tão variados quanto os estilos e mecânicas existentes. Há quem prefira jogos com mais interação, que exigem que os jogadores conversem entre si. Outros, por sua vez, preferem jogos de planejamento individual, sem interferências e com ranking avaliado por meio de sistema de pontuação.
Há ainda os jogos cooperativos, em que todos discutem de modo conjunto e jogam contra o tabuleiro, jogos mais leves, de menor complexidade e mais rápidos, e ainda jogos pesados, complexos e demorados.
Empresas criam ambientes para amantes de jogos
Aproveitando a volta da popularidade dos jogos de tabuleiros, muitas empresas surgiram ou se especializaram neste nicho do mercado. É o caso da Galápagos Jogos, responsável por trazer ao Brasil títulos renomados dos Estados Unidos e Europa, como Zombicide e Ticket to Ride.
Também surgiram locais especializados para receber amantes de jogos. Neles, as pessoas podem conhecer e jogar outros jogos. Além disso, alguns espaços são temáticos e outros oferecem serviços como restaurante e bar.
A estudante Taleessa Silva é amante de jogos de tabuleiro, tendo jogado mais de 130 durante 2019. Cliente assídua dos espaços dedicados aos jogadores, ela conta que Bauru possui cerca de quatro lojas que trabalham com jogos gerais ou board games: “o divertido é levar os amigos e sequer conferir o relógio para ver que horas são. Por existirem diferentes tipos de jogos, o público é sempre bem eclético”.
Além disso, ela explica que, ao mesmo tempo que existem clientes que gastam muito dinheiro com board game e curtem jogos longos, também tem quem curta coisas mais rápidas e com maior interação entre as pessoas.
Portanto, no final das contas o estilo e o local não importam, uma vez que o importante é se divertir! E aí, vamos jogar?
Repórter: Lincoln Gomes
Produção audiovisual: Daniele Olímpio
Editora: Flávia Gasparini
Editora-chefe: Nayara Campos