Conheça histórias de pessoas que adotaram pets durante o isolamento social e como o cotidiano delas, apesar de ter mudado, melhorou.
Por Aline Bueno, Ana Dayse, Jean Araújo, João Vitor Custódio, Larissa Placca e Letícia Ayuri
No final de 2019, o mundo inteiro foi surpreendido por uma doença altamente transmissível e que possui rápida propagação: a Covid-19. E, desde o começo de 2020, os países começaram a decretar estado de emergência e passaram a tomar medidas preventivas para tentar frear a disseminação do novo coronavírus.
Com o Brasil não foi diferente. Desde março do ano passado, os governos Federal, Estaduais e Municipais vêm anunciando decretos de quarentena que impõem normas como o uso obrigatório de máscaras, a disponibilidade de álcool em gel nos estabelecimentos e a proibição de aglomerações.
Em decorrência disso, as restrições em relação ao comércio, aos trabalhos, cultos religiosos, eventos culturais e afins tomaram espaço no cotidiano e passaram a fazer parte da vida social. Assim, o brasileiro teve de se adaptar ao isolamento social e, junto a ele, ao home office.
A solidão do home office e seu término
Com o home office tornando-se mais comum, os brasileiros passaram a ficar mais tempo dentro de casa. Ainda no começo da quarentena, entre março e abril, 50% dos brasileiros já estavam em isolamento social, de acordo com a revista Veja.
Nesse cenário, a solidão mostrou-se um dos principais motivos pelos quais os pets começaram a ser mais procurados e, dessa forma, as adoções de animais aumentaram consideravelmente.
A organização não governamental União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), na Zona Norte de São Paulo, por exemplo, registrou um aumento de 400% na procura por cães e gatos durante a quarentena.
Para Ana Lúcia Ferreira, conhecida como Dra. Ana Veterinária, as pessoas passaram por momentos de sentimentos vazios e distanciamento de emoções, encontrando na adoção uma forma de carinho e atenção.
Ana explica que adotar um animal de estimação pode mudar a vida de alguém, e a lista é longa: melhoras nos casos depressivos, ânimo aos idosos, um companheiro para crianças autistas ou muito tímidas, sendo esses alguns casos que já presenciou em sua clínica, que fica em Santo André (SP).
No entanto, apesar do salto no número de adoções durante a pandemia, a profissional salienta que há uma preocupação, pois o término do home office tem gerado abandonos, uma vez que as pessoas estão retornando às suas tarefas presenciais.
Quem explicou mais sobre o assunto foi Vanessa Fontenele da Silva, voluntária do Cantinho dos Fofuchos, uma organização de adoção de animais sediada em São Paulo (SP). De acordo com ela, houve um equilíbrio, já que o número de abandonos também aumentou em relação às adoções.
Como Vanessa aponta, “muitas pessoas nesse período ficaram desempregadas, então foi meio que um equilíbrio: o pessoal adotou, mas também abandonou muito, por conta do desemprego, ou pessoas que tiveram que trocar de residência e ir para uma menor onde não aceitam cães”.
Por isso, a Dra. Ana enfatiza que a adoção deve ser muito bem pensada, analisada e discutida em família. Para ela, adotar um animal não é como dar um brinquedo para uma criança, mas requer atenção, dedicação e tempo. “O bem que um animal de estimação traz compensa tudo isso, ainda mais se for um adotado. Por isso pense bem antes de adotar.”, aconselha.
Casos de adoção durante a pandemia
Joseph Jesus, Engenheiro de Sistemas em Bauru (SP), conta que nunca teve gatos antes. Durante a pandemia, adotou o Soul, um felino que mudou a sua rotina. “Além de ter que acordar para fazer minhas atividades, tinha que acordar para dar comida para o Soul também, e para interagir com ele, brincar antes de ir para o trabalho”, apontou.
Segundo Joseph, adotar um animal é uma grande responsabilidade. Embora não dê trabalho como um filho, ele acrescenta que ainda sim é um ser vivo dependente, além de que a adoção muda toda a rotina de qualquer pessoa. Durante a pandemia, com mais tempo em casa, os pets também precisam de atenção redobrada.
Tânia Carneiro Maia, estudante de psicologia na UNISAGRADO, também em Bauru, contou que, logo no começo da pandemia, em março do ano passado, estava na casa de uma amiga em Avaré (SP) e ficou sabendo que um cachorro, o José, não havia sido adotado durante uma feira de adoção que havia acontecido naquele dia.
A estudante, então, retornou lá dois dias depois para adotá-lo. Ela explicou que cresceu com muitos animais à sua volta, então estava sentindo falta de ter algum por perto, ainda mais por estar sozinha em Bauru, longe da família. E o José se tornou um ótimo companheiro.
Entretanto, Tânia contou que o José faleceu poucas semanas depois e ela não queria mais ter animais. “Eu coloquei na minha cabeça que eu não iria adotar outro bichinho, mas aí meu irmão trouxe um gato um mês depois, o Neno”, comentou.
Logo após o Neno, que foi para a chácara da família, veio o Tom, que também faleceu, a dupla de irmãos Tonico e Tinoco, que estão com a mãe dela, e a Mimi, que tem sido uma ótima companheira para Tânia – uma verdadeira mamãe de gatos!
A vida antes das adoções: o que mudou?
“Mudou um pouco essa parte de chegar em casa e não ter ninguém ou não me preocupar com ninguém, e ter um animal de estimação para saber se já comeu, o que está fazendo, se não fez alguma coisa errada na casa”. Essa foi a fala de Joseph ao ser perguntado sobre o que mudou em relação à antes da adoção.
Tânia, que agora está morando sozinha de novo, disse que no começo foi bem difícil. “Eu me sentia muito mal, todo dia eu queria que alguém da minha família viesse me ver. E aí surgiu a Mimi. […] Agora ela é a minha companheira, dorme comigo e é tudo para mim”.
Contudo, adotar um animal requer muita responsabilidade. Apesar de todo o afeto, carinho e amor que eles trazem, é preciso pensar muito bem antes.
A Dra. Ana enfatiza que a adoção deve ser muito bem pensada, analisada e discutida em família. Para ela, adotar um animal não é como dar um brinquedo para uma criança. Requer atenção, dedicação e tempo. “O bem que um animal de estimação traz compensa tudo isso, ainda mais se for um adotado. Por isso pense bem antes de adotar.”, aconselha.
Como adotar um pet?
Cada local que se dispõe a oferecer animais para adoção segue alguma logística para que tenha controle dos animais que entram e saem. Dessa forma, é possível fazer uma triagem na hora de adotar para saber como o dono cuidará do novo companheirinho.
Normalmente, são pedidos documentos que comprovem a identidade do adotante e o endereço onde reside. Alguns lugares também solicitam algum tipo de doação aos outros animais abandonados, como ração, brinquedos e roupinhas. Ademais, fazem perguntas mais pontuais e pessoais para entenderem o motivo da adoção, se a pessoa está apta para realizar a ação e como pretende cuidar do pet.
No Cantinho dos Fofuchos, o processo de adoção é simples, basta você entrar em contato com eles pelas redes sociais @cantinhodosfofuchos. Eles vão fazer uma pequena triagem para entender se o pet vai estar seguro na sua casa, e se você vai ter tempo e dedicação para dar ao animalzinho. Depois, caso aceitem, você já pode levar seu amigo para o novo lar.
Além disso, eles promovem feiras de adoção para você ir conhecer seu futuro melhor amigo de perto. Basta acompanhar pelas redes sociais e ficar por dentro das datas! Atualmente, cerca de 25 cães e 57 gatos estão esperando para fazer companhia para muita gente.
Caso você não resida na região do Cantinho dos Fofuchos, também é possível entrar em contato com o Centro de Zoonoses, um órgão governamental que busca garantir o bem-estar animal mais próximo e retirar informações sobre adoções de animais. Se eles não tiverem pets a serem adotados, poderão indicar uma ONG ou instituição que tenha!