Reciclagem pode complementar renda
Cada brasileiro produz 1,3 kg de resíduos por dia. Saiba as diversas formas de lidar com isso
Todos os dias, pessoas consomem produtos, alimentos e vão se desfazendo daquilo que já não possui mais utilidade. Nem sempre, entretanto, nós pensamos se há outra utilidade para aquilo que jogamos fora ou se pode ser reaproveitado.
Todo indivíduo produz lixo, e muito. Em média, cada brasileiro é responsável pela produção de 380 kg de lixo por ano, gerando 76 milhões de toneladas de lixo no país. Apesar de projetos que incentivem medidas para a redução da produção de resíduos e o incentivo da reciclagem, não são todos que aproveitam essas oportunidades.
De acordo com dados da 10ª edição do estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 30% de todo esse lixo poderia ser reaproveitado, mas apenas 3% dessas 76 milhões de toneladas são reciclados no Brasil. O lixo nem sempre vai para o local certo, é separado corretamente ou é despejado onde deveria.
A Abrelpe ainda explica que o Estado de São Paulo gera 56.626 mil toneladas de resíduos por dia e 42.715 mil toneladas têm o destino correto. Segundo a pesquisa, o Nordeste é a região do Brasil que tem o maior número de material encaminhado para locais errados, chegando a 65% do lixo recolhido diariamente indo para lixões, que não possuem condições ideais de tratamento.
Métodos alternativos
O lixo pode ser um meio de vida para muitas pessoas. Através da reciclagem de resíduos e do uso de produtos naturais, a produção de diversos objetos se torna realidade. Bolsas com lacres de latas de refrigerante, enfeites de árvores de natal com o fundo das garrafas pet, acessórios feitos de sementes e muitos outros são a fonte de renda de pessoas que transformam coisas descartáveis em possibilidades.
João Alfredo Tolentino, professor e artesão, mora desde 1991 no município de Barreirinhas, no Amazonas, onde a partir das aulas que lecionava aos indígenas Sateré-Mawé, iniciou seu projeto de artesanato sustentável. O artesanato é realizado na aldeia com os artesões, os ribeirinhos e quilombolas: “Nosso trabalho é realizado sempre pensando no bem estar, nos reunimos em grupo e nos organizamos para que haja a oportunidade de gerar renda às famílias”, afirma.
Segundo João, o artesanato sustentável ajuda muito o meio ambiente, utilizando matérias primas da natureza e reaproveitando os resíduos, para que não haja perda. “O desperdício é praticamente zero. Nós usamos o que sobra para adubo natural, ajudando também na geração de renda. Nosso objetivo é manter a natureza equilibrada”, acrescentou Tolentino.
A falta de reconhecimento e apoio governamental atrapalham no desenvolvimento da arte do professor. “O que falta para que exista um crescimento maior na produção do artesanato sustentável e para que isso seja uma realidade para todos é o apoio das autoridades e do governo para que os artesãos tenham o mesmo direito de todas as outras profissões”, adiciona o artesão.
A forma correta de lidar com resíduos orgânicos
Existem diversos tipos de lixo, podendo, assim, serem feitas algumas divisões de acordo com os riscos oferecidos, com a natureza e a composição. Algumas das subdivisões são: lixo doméstico (alimentos), lixo industrial (químicos), lixo hospitalar (materiais utilizados em cirurgias), lixo agrícola (esterco e fertilizantes), lixo radioativo (urânio e césio) e lixo tecnológico (materiais eletrônicos).
Mais especificamente, o lixo orgânico é caracterizado por qualquer tipo de resíduo produzido a partir de origem vegetal ou animal, de algum ser que já esteve vivo. O destino correto desse lixo é a reciclagem de resíduos e deve passar por tratamento, pois estão sujeitos ao processo de decomposição por bactérias e fungos, causando doenças e atraindo animais que podem transmitir doenças.
A reciclagem desse lixo é indicada para a produção de adubo natural, usado como fertilizante para plantas. Uma forma de reaproveitar o lixo produzido dentro de casa é fazer a compostagem caseira. Para construir uma, é preciso apenas de três baldes plásticos grandes (tamanho de 15kg de margarina/manteiga geralmente são utilizados), podendo ser adquiridos em mercados de atacados. Confira no infográfico abaixo o passo a passo da construção de uma composteira doméstica:
Lixos extraordinários
O que é lixo para você não é necessariamente algo desperdiçável para o próximo. Ele pode se transformar em algo diferente e ser a fonte de renda de várias pessoas. Como prova disso, dois documentários foram criados.
Em 2004, “Estamira”, produzido por José Padilha, contou a história de uma senhora que viveu durante 22 anos no aterro do Jardim Gramacho, responsável pela recepção de resíduos do Rio de Janeiro. Ela acreditava que o lixo de verdade era a moral falha do Brasil.
Outro aclamado documentário, o “Lixo extraordinário”, lançado em 2011 e produzido pelo artista plástico brasileiro Vik Muniz, mostra a produção de obras de arte a partir de materiais coletados no aterro do Jardim Gramacho. Ao longo da produção dessas obras,entre 2007 e 2009, transformações ocorrem na vida dos sete catadores participantes do projeto. Entre eles, Tião Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho. O documentário venceu diversos prêmios internacionais e chegou até a ser indicado ao Oscar em 2011.
https://www.youtube.com/watch?v=ibctyQ9aU5k
Reportagem: Izabella Pietro
Produção multimídia: Pepita Ortega
Edição: Alexandre Wolf
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