Psicoterapia auxilia no tratamento da depressão
Muitas vezes confundida como uma simples alteração de humor, a depressão tem diagnóstico e tratamento
A depressão vem se tornando cada vez mais frequente na sociedade. Ela atinge 121 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), e entre os países em desenvolvimento, o Brasil é o que mais possui pessoas com a doença. Dentre os casos existentes no país, segundo estudo da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), as mulheres, em relação aos homens, têm o dobro de chance de ter depressão.
A psicóloga comportamental Luciana Rique falou sobre os principais sintomas da doença, prescritos no manual DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que serve como base para os profissionais de saúde tratarem pacientes com transtornos mentais diversos. Identificada como transtorno de humor, a depressão provoca tristeza contínua – antigamente por mais de três meses; hoje, bastam duas semanas inteiras para diagnosticá-la -, insônia ou hipersonia, ausência de apetite ou compulsão alimentar e diminuição da libido. “Há outros sintomas que não são discriminados no manual, por exemplo, como estão as relações interpessoais do indivíduo e desesperança em relação ao futuro”, completa Rique.
Ana Claudia Mello, 45, vive com a depressão há mais de 30 anos. “Quando tinha meus 15 anos sofria muito, chorava por nada, sempre me sentia triste mas nunca aceitava que era depressão, ainda mas naquela época, pois quem tinha isso era só ‘gente que não fazia nada’. Não busquei tratamento e fui levando com toda a tristeza que sentia, parecia que carregava o mundo nas costas”.
Em busca de tratamento, com 25 anos, uma amiga de Mello a levou em um psiquiatra, que sem muita conversa, apenas identificou a doença e prescreveu remédios. Mas os medicamentos a deixavam pior, e ela acabou abandonando o tratamento por achar que já estava bem, “afinal, todos falavam que eu só ficava mal porque tomava esses remédios, que eu tinha que parar. Parecia tudo tão simples, mas não era”, diz Mello.
Segundo Rique, o diagnóstico da depressão é feito por uma equipe multidisciplinar – primeiro pelo médico psiquiatra e, posteriormente, por psicólogos que fazem uma avaliação do caso e estudam a melhor forma de tratar o paciente, utilizando a terapia. O tratamento pode ser feito em duas instâncias: através de remédios e a psicoterapia. “O problema do tratamento com remédios no Brasil é que muitas vezes eles não são prescritos pelo psiquiatra, e sim por outros médicos, com quem normalmente o ou a paciente tem mais abertura”, fala a psicóloga.
No caso de Ana Claudia Mello, ela não continuou com a medicação e, atualmente, quando tem dias ruins, faz uso de analgésicos e relaxantes musculares para aliviar a dor e a fazer mudar o foco. Ela procura dormir cedo e esquecer, pois não comenta o que sofre e tenta suportar o que sente.
Esferas envolvidas no transtorno
A psicoterapia é complementar à medicação, pois a depressão é um transtorno biopsicossocial. É biológico porque afeta o organismo, ou seja, os neurotransmissores de prazer e bem-estar estão em déficit ou eles passam muito rápido, não ficam o tempo que precisam ficar nas fendas sinápticas, então a pessoa não sente mais prazer com algo que antes era prazeroso. O “psico” está relacionado com as emoções, pensamentos, com as ações e história de vida pessoal, e o “social” é a questão da cultura, o que é valorizado no mundo de hoje e como se organiza a sociedade.
O Japão é o país com a menor taxa de depressão do mundo, menos de 2,5%, segundo estudo de pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália.
O que também pode acarretar uma leve depressão são mudanças bruscas na vida, que desestabilizam a produção hormonal do indivíduo, e não chega a ser algo clínico. Como exemplo, a psicóloga citou uma fase complicada na vida dos jovens que é a de se formar e procurar emprego, pois costuma ser uma mudança radical e difícil: “é uma fase que todo mundo passa, e é bom desmistificar isso para que as pessoas busquem a ajuda de um profissional antes de acontecer, para ir desenvolvendo estratégias de enfrentamento, e quando essa fase chegar a pessoa estará apta a lidar com isso”, explica Rique.
Estatisticamente, as mulheres têm mais propensão à doença, na faixa entre 25 e 35 anos, mas há estudos que questionam se não há depressão nos homens e eles não falam sobre isso, porque o índice de suicídio de homens é muito alto e vem crescendo atualmente. “São pessoas que estão passando pela depressão, não estão sendo diagnosticadas, não estão sendo tratadas e estão sofrendo em silêncio”, finaliza a psicóloga Rique.
A busca de ajuda profissional também se aplica ao caso de Ana Claudia Mello, que é depressiva há muito tempo e não faz nenhum tratamento específico para a doença, tanto medicamentoso quanto terápico por conta de seu convênio não cobrir. “Vou levando um dia após o outro, alguns tensos, outros não”, enfatiza.
O preconceito e a falta de empatia
“Todos acham que é frescura, e tiram sarro da sua cara, uma sensação horrível. Até seus próprios familiares não aceitam, dizem que você não tem nada, afinal os exames não dizem nada, está sempre tudo bem”, desabafa Mello.
A psicofobia, no Brasil, é comum, e significa estigmatizar e desprezar pessoas com transtornos mentais. A depressão é como uma doença qualquer, é algo biológico, e é importante educar as pessoas sobre essa e outras doenças, que não são “frescuras”, segundo a psicóloga Rique.
Um recado que Ana Claudia Mello deixa àqueles que não procuram entender o que os depressivos passam, e também aos depressivos, é que “as pessoas têm que entender que não somos assim porque queremos, é uma doença e tem cura sim, porém é um processo muito lento e tem que ter ajuda de todos – não é ter dó, e sim ter ajuda”.
Serviço
Clínica Nieo
Luciana D. Rique, psicóloga comportamental
CRP: 06/112917
Rua Araújo Leite, 30-10, sala 06, Bauru – SP
Telefone: (14) 98113-3413 (Whatsapp)
Email: lu.rique.psico@gmail.com
Site: www.psicologalucianarique.com.br
Dr. Fabricio Bertoli Gimenes, psiquiatra
CRM: SP-123886
Rua Alfredo Ruiz, 11-86, Vila Mesquita, Bauru – SP
Telefone: (14) 3100-4321/(14) 3100-4321
Site: www.psiquiatriabauru.blogspot.com.br
Reportagem: Bárbara Christan
Produção Multimídia: Bruna Malvar
Edição: Camila Padilha Trindade
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