Entrevista | Entendendo o que é a esquizofrenia
A esquizofrenia é uma doença mental considerada grave, porém, quando diagnosticada e realizado tratamento adequado, seus portadores podem levar uma vida estável. Como parte da reportagem sobre esquizofrenia, Murilo Freitas, Wagner Barbosa de Souza e José Alberto Orsi, todos membros da ABRE e portadores da doença, comentam um pouco sobre a vida e rotina que levam.
1. Como é a convivência com os seus familiares? O problema é algo que interfere muito na rotina?
Murilo de Freitas: “Tenho uma ótima convivência com meus familiares. Isso se deve ao fato que não deixo que meus sintomas interferirem na minha vida de forma drástica. Por exemplo, evito reagir bruscamente às minhas alucinações e ser influenciado por elas. Além disso, combato diariamente a apatia, que é forte no meu caso.”
Wagner Barbosa de Souza: “Convivo basicamente com meus pais e também vou muito à casa de minha avó materna. Minha convivência com eles é tranquila porque eles têm plena consciência do que é Esquizofrenia e me apoiam bastante. No início, há 17 anos, era mais complicado, pois eu tinha mais limitações e tudo era muito novo para mim. Atualmente adquiri independência para as minhas rotinas, vou a todos os lugares sozinho. Moro em São José dos Campos e tenho uma namorada, também portadora, que mora em Santos. Sempre vou lá, passeamos no shopping e temos uma vida normal. Busco meus remédios, vou ao tratamento por minha conta e faço palestras sobre esquizofrenia, juntamente com a ABRE. Também vou aos jogos do Palmeiras com meu pai.”
2. Quais são os efeitos colaterais dos medicamentos?
Wagner Barbosa de Souza: “Eles me dão muito sono e me fazem engordar, fato que me faz sempre estar tentando fazer regime. Tenho também um excesso de salivação. Pelo que os médicos dizem há um risco de diminuição dos glóbulos brancos, que me obriga a fazer exames de sangue todos os meses.”
Murilo de Freitas: “Faço uso de um medicamento moderno que não me causa efeitos colaterais. Mas antigamente já sofri efeitos de outros medicamentos, como falta de expressividade, dureza nos movimentos, dificuldade de coordenação e na fala.”
José Alberto Orsi: “Aumento de peso foi a consequência mais visível. Sono, letargia, problemas como aumento do colesterol e triglicérides, e também afetando a minha dentição são os efeitos colaterais mais nocivos.”
3. As pessoas com esquizofrenia sofrem algum tipo de preconceito?
José Alberto Orsi: “De maneira geral existe um estigma e um forte preconceito social e profissional contra as pessoas que têm esquizofrenia. Eu pessoalmente não me senti diretamente afetado, pois sempre agi de maneira altiva, militando pela causa da saúde mental por meio da ABRE.”
Murilo de Freitas: “Sofrem muito preconceito. Já fui discriminado em concursos públicos, dinâmicas e teste de seleção de emprego. Há um pensamento permeado na sociedade que pessoas com esquizofrenia são menos capazes que as outras. Algo que não se mostra verdadeiro se a pessoa estiver corretamente tratada!”
4. Acredita que as coisas estão melhorando no que diz respeito a novos tratamentos, novas perspectivas e inclusão social?
Wagner Barbosa de Souza: “A medicina tem avançado de forma significativa neste ramo, mas ainda é muito incipiente, temos muito a desenvolver para entender o funcionamento do cérebro humano. Ao longo destes anos precisei tomar muitos remédios diferentes até chegar ao que tomo hoje, que me faz sentir muito melhor, mas ainda não evita de eu ouvir as vozes. Contudo, me ajuda a distinguir o real do irreal. Quanto a inclusão social, ela se deu num primeiro momento com meus amigos que também são portadores, e num novo trabalho que venho fazendo junto à ABRE.”
Murilo de Freitas: “Acredito que há uma lenta porém gradual melhora na inclusão social dos portadores. Posso ressaltar o serviço de saúde pública com a rede de Centros de Atendimento Psico-social, os CAPS, além do programa de entrega de remédios pelo governo do estado. Há novas perspectivas que estão sendo trazidas pela lei do portador de deficiência o qual visa a integrar melhor os portadores na sociedade. Está havendo uma maior conscientização da sociedade e tratamentos mais humanizados.”
Reportagem: Caroline Balduci de Mello
Produção Multimídia: Bruna Malvar
Edição: Camila Padilha Trindade