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Entrevista: Prefeito fala sobre o meio ambiente em Bauru

Gazzetta reconheceu o falta de planejamento urbano da cidade e apontou expectativas para o futuro

O prefeito de Bauru, Clodoaldo Gazzetta.

O Repórter Unesp entrevistou Clodoaldo Gazzetta, hoje integrante do PSD, e discutiu desafios e medidas do município em relação ao meio ambiente em Bauru. Com caráter idealizador, o prefeito falou sobre as obras da Estação de Tratamento e Esgoto de Vargem Limpa, a situação das enchentes nas Nações Unidas, mudanças na Área de Preservação Ambiental do Rio Batalha e expectativas da gestão para meio ambiente nos próximos 4 anos de governo.

Eleito com aproximadamente 105 mil votos, Clodoaldo Gazzetta assumiu a Prefeitura de Bauru no primeiro dia de janeiro de 2017. O biólogo de formação possui um histórico de discussão e militância sobre o meio ambiente em Bauru e no Brasil. Gazzetta atuou em grandes ONG’s como Instituto Socioambiental, Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Ambiental Vidágua. Na carreira política, foi um dos fundadores do Partido Verde em Bauru e comandou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Antes de ser eleito em 2016, falhou em quatro tentativas de assumir a Prefeitura Municipal (1992, 2004, 2008, 2012).


Repórter Unesp: A estação de tratamento de esgoto de Vargem Limpa está atrasada já faz 2 anos, o que falta para entregá-la à população? 

Clodoaldo Gazzetta: A estação de tratamento de esgoto é um sonho antigo da cidade que foi conquistado no governo passado. O valor veio a fundo perdido*, a prefeitura vai ter que cortar um pouco mais o recurso agora no final, o que é natural em uma obra do porte da que foi contratada. A previsão é para o final desse ano. Nós esperamos começar os primeiros tratamentos já em julho, para mostrar como a estação vai funcionar. Mas a ideia é que tudo esteja funcionando no final do ano de 2017.

O que estamos tentando fazer é cobrar e usar penalidades cabíveis dentro do contrato se a empresa continuar atrasando. Uma parte desse atraso foi por conta da prefeitura no passado, mas pretendemos cumprir rigorosamente o cronograma. Vai ser um alento para toda a região, porque o esgoto que não é tratado em Bauru, acaba despejado no Rio Tietê. Isso resulta na contaminação de um grande trecho do rio, que vai de Pederneiras a Itapuí.

Várias cidades são comprometidas por conta desse esgoto jogado. Esse primeiro movimento em julho não irá fazer o tratamento integral do esgoto. Porém vai praticamente retirar grande parte dos materiais em suspensão, como papel e cabelo. Depois disso, vai ser feito um tratamento preliminar com cal e a água vai ser jogada novamente ao rio Tietê, ainda com patógenos. No final do ano, o tratamento será definitivo, e a tendência é eliminar de 80% a 90% dos patógenos da água, voltando ao rio Bauru quase 100% normal.

*recursos que são utilizados sem expectativa de retorno


RU: Apenas 10% do esgoto em Bauru é tratado. Além da Estação Vargem Limpa, você tem alguma medida a ser tomada que cuide do esgoto de Bauru?

CG: Esses 10% são tratados pela estação no bairro Gasparini que funciona, dentro das condições normais, adequadamente. Precisa de uma pequena reforma, que vai ser feita ao longo desse ano e do ano que vem. Mas não tem nenhuma previsão de ampliação. Até porque Vargem Limpa deve tratar todo o esgoto da cidade. A população de Bauru pode chegar até 600 mil habitantes que ainda terá a condição de fazer o tratamento de esgoto lá. A possibilidade de ampliação é apenas para daqui 30 ou 40 anos.


RU: Um grande problema da cidade é em relação às enchentes, principalmente quando se trata da principal avenida que é a Nações Unidas. Você tem alguma providência em relação a isso?

CG: Já existe um plano de macrodrenagem, são pequenas obras em cada ponto mais dramático da cidade onde se tem problemas com as enchentes. Esse plano vai ser apresentado pela prefeitura até o final de janeiro com o orçamento de cada uma dessas obras necessárias para conter as enchentes na cidade de Bauru. Na Nações Unidas o problema é mais crônico, assim como na Avenida Alfredo Maia. Se você pegar as fotos mais antigas, no começo da década de 20, esta avenida já tinha enchente.Só com obras de engenharia, ou seja, obras caras, que conseguiríamos resolver esse problema.

Bauru cresceu sem planejamento. Esse crescimento acelerado provocou a impermeabilização do solo, essa água não tinha para onde escoar, caía num fundo de vale, esse fundo de vale não suportava a quantidade de água, ocorrendo um grande acúmulo de água e, consequentemente, a enchente. Mas isso foi se agravando ao longo do tempo. Pra você ter uma ideia, para fazer toda a contenção de água na avenida Nações Unidas, custa por volta de 280 milhões de reais. Mesmo com esse investimento, se ainda houver chuvas fortes em um período curto, haverá alagamentos. Essa obra resolve apenas para chuvas consideradas “normais”. Mas até o fim do mês vamos apresentar todas as obras, onde elas serão construídas, quanto elas irão custar e como vamos atrás dos recursos para viabilizá-las. 


RU: O asfaltamento da cidade, que é vinculado ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), chegará até aos bairros mais afastados? 

CG: Ele [o PAC] é responsável pelo asfaltamento praticamente de todas as ruas de Bauru. São mais de 700 quadras para serem asfaltadas. Na gestão passada, das 760 quadras, foram feitas apenas 58. Estão faltando 702 que serão entregues nesse ano e no ano que vem. Praticamente zeramos a demanda de asfalto novo, vão faltar alguns bairros pequenos, por exemplo, parte do Pousada que ficou fora do PAC, algumas quadras no Parque Manchester, e outras ruas que também ficaram sem recurso. Mas isso dá para fazer com o tempo. O bom é que todas as ruas serão asfaltadas. O ruim é que isso vai impermeabilizar grande parte do solo, então essa água terá que escoar para algum lugar, senão vão aparecer novas enchentes em pontos que não existiam.

O que temos de maior dificuldade é a recuperação do asfalto antigo. Não temos recurso para o recape, para esse problema vamos ter que ir atrás de dinheiro. Precisaria da ordem de mais de 60 milhões de reais para recapear 3 mil ruas, metade da demanda de Bauru. Nós prometemos buscar recurso para fazer esse trabalho durante esses 4 anos de mandato. Mas o asfalto para grande parte da cidade já está garantido.

O Parque Manchester não terá todas as ruas asfaltadas com o recurso do PAC


RU: Qual a sua proposta para as Áreas de Proteção Ambiental (APA)?

CG: As APA’s foram pensadas no passado para conter o desenvolvimento acelerado que a cidade tinha. Por dois motivos: o primeiro deles é a questão do abastecimento de água na cidade, nós imaginávamos há 25 anos que o município precisaria ter um novo manancial para abastecer toda a cidade se continuasse a crescer. Nós tínhamos na região norte da cidade o Água Parada, que é um manancial de água importante para abastecer Bauru, por isso foi feita a APA na região norte. Além dessa, no Plano Diretor de 1996 foi registrada a APA de Vargem Limpa – Campo Novo, onde está localizada toda a reserva de Cerrado da cidade, o Zoológico, o Jardim Botânico, o Instituto Lauro de Souza Lima e a UNESP. Ou seja, já tinha uma preservação natural, por isso a região foi transformada em APA também.

A última APA registrada é a do Rio Batalha. Em que a APA hoje pode ser melhorada? Nós temos o Plano Diretor de 2008 que vedou o uso e ocupação do solo para fins residenciais nessas áreas. Porém, o Plano Diretor está em desacordo com a lei nacional. O SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) diz que na APA deve ter a preservação dos atributos bióticos e abióticos, mas também a ocupação humana. Vamos adequar a lei municipal com a lei federal e condicionar o uso e ocupação dessas áreas ao Plano de Manejo, que dá a regra de como ocupar o solo. As APA’s serão ocupadas dentro de um percentual aceitável, na ordem de 70% de preservação e 30% de habitação.


RP: Então mesmo ocupando essas APA’s, o abastecimento de água da cidade não será prejudicado?

CG: Não, pelo contrário! Se você for em qualquer APA, tirando a da Vargem Limpa- Campo Novo que é uma remanescente de Cerrado muito importante, você vai perceber que grande parte dessas são utilizadas na pecuária, plantação de pinus e cana de açúcar. Essas atividades são as mais prejudiciais para uma área de proteção. É muito melhor num ambiente como esse um condomínio de casas com toda infraestrutura adequada. Isso inclui tratamento de esgoto, captação de água e energia solar. Mesmo que a medida acabe impermeabilizando o solo, é melhor do que ter uma pastagem que compromete todos os recursos hídricos. A água que cai em uma pastagem leva para dentro do rio uma quantidade imensa de sedimentos. Além de deteriorar o solo, causa, também, o assoreamento do rio.

Hoje a APA não é compatível com uma área de proteção; se autorizarmos o uso de 30% dessas APA’s, quem for utilizar vai poder compensar o tamanho dessa ocupação na mesma APA em outra localidade. Ou seja, uma pessoa que construir em determinado terreno nessa região, terá que retribuir até três vezes o tamanho do terreno em áreas de florestas. Assim serão criados corredores de fauna, recuperando as matas ciliares, os mananciais. Tudo isso evita que as áreas de pastagens possam levar sedimentos para o rio. Então dá para pensar na ocupação dentro da legalidade do Plano de Manejo de uma forma ordenada. É um desafio legal, mas pretendemos levar a discussão para a sociedade!

Sobre o tema Mobilidade, o prefeito Clodoaldo Gazzetta defende o uso dos fundos de vale ainda não ocupados no município. Ele argumenta que esses espaços podem ser transformados em áreas integração da cidade. Veja a seguir no vídeo:


RP: Para finalizar, quais os principais desafios na sua gestão em relação ao meio ambiente em Bauru?

CG: Eu acho que dos dois principais desafios na área ambiental. Um está bem encaminhado, que é a questão do esgoto. Esse é um desafio histórico da cidade. Outra questão se refere ao lixo, que pretendemos resolver com uma parceria público-privado. Vamos contratar uma empresa em Bauru, que num período de 30 anos, vai fazer o tratamento do lixo. A empresa vai recolher o lixo recolhido das casas e transformá-lo em geração de energia ou em reciclagem. Hoje, eu aponto esses como os maiores problemas estruturais.

Entulho de lixo no bairro Parque Manchester em Bauru


Reportagem: Ariádne Mussato

Edição Multimídia: Matheus Fernandes

Edição: Patrícia Konda e Victor Pinheiro

 

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