Paixões alcoólicas na América Latina

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A América do Sul é uma região composta por países “irmãos”. No entanto, a prática de consumir bebidas alcoólicas varia muito na hora da escolha preferencial por um produto e no preparo dos mesmos. Ao longo dos séculos, o álcool tem sido amplamente utilizado em muitas culturas, em cada uma delas com um significado diferente.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) especifica que em nenhum lugar do mundo se bebe tanto quanto na América Latina. De acordo com o Infobae e Global Information System on Alcohol and Health (GISAH), da OMS, na América Latina e no Caribe cada pessoa consome uma média de 8,4 litros de álcool puro por ano, número que ultrapassa a média mundial em 2,2 litros. E o país que leva o primeiro lugar na região é a Argentina, com 9,1 litros de álcool puro per capita.

 

Neste sentido, os jovens de diferentes países da América Latina contam ao Repórter Unesp sobre a prática de beber em suas regiões.

Algo forte para a Colômbia

“Uma vez, com 16 anos, eu estava em um aniversário de quinze anos. Houve aguardiente para todos e acabei levando uma garrafa inteira para mim. Eu não me lembro de nada, exceto que acordei no meu quarto, com minha mãe ao lado e um chá para ressaca” – Diego Mendez, estudante de arquitetura, 21, lembra-se desta pequena passagem ao falar sobre Aguardente (com anís), bebida típica consumida por jovens de sua idade na Colômbia.

O estudante, oriundo de Ibague, capital de Tolima, diz que é uma bebida muito forte e que, normalmente, é tomada por muitas pessoas antes do período de férias. O nome varia conforme a região do país: Tapa Roja, em Tolima; Antioquenho em Antioquia; e Nectar, em Cundimamarca, por exemplo. Quando perguntado sobre a experiência de beber aguardente, ele responde: “É muito forte. Eu nunca senti o sabor, mas sim a minha garganta queimando. Depois você tem que comer um pedaço de limão para passar. Veneno puro”. E a razão pela escolha da aguardente é o preço, complementa Mendez. “É mais barato do que a vodca, e uma garrafa é o suficiente para toda uma noite em três pessoas”

Bolívia e Venezuela compartilham o rum

Existem várias bebidas que são frequentemente partilhadas entre amigos no país vizinho. Álvaro Pérez Gómez, 27, dentista de Nossa Senhora de La Paz, Bolívia, relata que no país dele são consumidas vodcas com aromatizante, bebidas baratas e cervejas, porém, a bebida típica é o Rum. O rum é bebido com gelo e com Coca Cola em uma jarra. É doce e barato e é compartilhado com a família e amigos: “Nunca pode faltar uma garrafa de rum. E agora eu acho que a bebida passou a representar a união que tenho com meu pai, pois foi ele quem me serviu a bebida pela primeira vez”, Gómez concluí.

Nesse sentido, a Venezuela é um pouco similar na bebida típica que os jovens consomem regularmente. De Maracaibo, Alejandra Reyes, 19, afirma que nas festas sempre há cerveja, porém, o rum com Coca Cola é essencial: “É o que é levado em boates, chamamos de Cuba Libre”.

Bebida nacional do Peru

Enquanto rum também está presente como uma das bebidas dos mais consumidas no Peru, Jean Franco Burgos, 22, sublinha que o Pisco é a bebida nacional do seu país. “Ele é misturado com Sprite ou 7Up (marcas de refrigerante) e levado em festas. Existem outras variações na preparação, como o Pisco Sour (no liquidificador com os ovos, limão, açúcar e canela), que é destinado para eventos mais formais, ou pisco com Tampico para beber entre amigos”.

O terremoto chileno

No Chile, os jovens têm uma grande variedade de bebidas para compartilhar uns com os outros: o  piscola (como no Peru, trata-se de pisco com Sprite ou sua variação com a Coca Cola), alguns vinhos e até mesmo a famosa michelada (cerveja com limão e sal). No entanto, a bebida que se destaca na cultura chilena é o Terremoto. Neste caso, Tala Roma Diaz,  22 anos e estudante de Santiago, explica que esta bebida é formada pela mistura de pipeño (derivada a partir de vinho), romã e sorvete de abacaxi. “Bebemos porque, como é muito doce, o álcool não é perceptível. Mas isso acaba sendo perigoso”, brinca Tala. “Chamamos de terremoto porque, quando você bebe, o chão pode tremer, e, além disso, para uma bebida tipica do Chile, esse parece ser um bom nome.”

Argentina: “Hagamos un asado, tomemos Fernet”

A bebida típica favorita dos jovem argentinos de todos os tempos é sem dúvida o Fernet. Para confirmar isso, Mariana Argüello, estudante de 22 anos de Santa Fe, relata: “É tomado nas previas, em festas, durante as refeições, com os amigos e como aperitivo. É refrescante, não importa a época do ano”. Também é simples de preparar: uma medida de Fernet é colocada em um copo grande com gelo e três medidas de Coca Cola.

Em termos de marca e preços, Mariana detalha que existem fernets como o Vittone ou como o 1882, que são muito baratos por serem mais suaves. E que o melhor é a Branca: 1 garrafa de litro custa $160 (28 Reais). “Fernet puro é muito amargo, mas quando preparado com gelo e Coca Cola tem um sabor doce. Alguns dizem que tem gosto semelhante ao Própolis”, acrescenta a estudante de Santa Fe.

Grappa uruguaia

Mais no inverno do que no verão, devido ao calor produzido quando ingerdio, pelo seu teor de álcool, jovens uruguaios optam pela chamada Grappa. Este destilado é produzido a partir de uvas e tem duas expressões: grappamiel e grappa com limão. A este respeito, Valentina Machado, comunicadora de 29 anos, expressa de Montevidéu: “Como é doce, a grappa é amigável para aqueles que estão apenas começando a beber. Essa bebida me faz lembrar da minha adolescência, porque bebia com meus amigos”. As marcas mais conhecidas são Vesúvio e Victoria, mas a mais cara é a Viejo Pancho.

Equador e Paraguai: acordo geral

No geral, além das bebidas típicas de cada país que os jovens consomem, cerveja é recorrente em todos os testemunhos e,  muitas vezes, substitui as bebidas típicas. Contudo, tanto no Equador quanto no Paraguai, a Cerveja é a desculpa para que duas ou mais pessoas se reúnam.

Por um lado, Andrea Calero Mora, nascida em Quito, Equador, diz: “A minha favorita é a cerveja Pilsener, que não é cara. Ela é consumida com amigos: em uma transmissão de futebol, em churrascos e em festas.” Além disso, as cervejas Pilsen e Munique chamam a atenção da estudante Diana Tamaka, 25, de Encarnación, Paraguai. “Como é muito quente aqui, nós compramos cervejas em garrafas retornáveis  e bebemos muito, as vezes mais de duas vezes por semana.”

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A lei, quase semelhante a todos

Os países latino-americanos impõem regras e restrições semelhantes ao consumo de álcool,  tais como a proibição de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos, e a variação de a porcentagem de álcool permitido no sangue quando em condução de um veículo: em alguns países, como na Argentina, é de até 0,5%.

No entanto, um caso que se destaca é o do Equador. De acordo com Andrea Calero Mora, até algumas semanas atrás era proibida a venda e o consumo de álcool nos domingos. “O objetivo era reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, mas as autoridades perceberam que não funcionou e voltaram atrás.”

Além disso, no Uruguai atualmente é discutida uma lei integral de álcool. A ideia geral é aumentar as horas de restrição de bebidas alcoólicas em todo o território e impor um limite para a publicidade do produto. “O presidente (Tabaré Vásquez) apresentou o projeto de lei e o está defendendo em todos os meios de comunicação.” “Isso é o que acontece quando você tem um presidente médico”, brinca Valentina Machado.

Em suma, os irmãos latino americanos têm uma variedade de bebidas para todos os gostos. Cada país tem seus tesouros e seus segredos, e para você que já bebe e gosta de novidades não pode deixar de conhecê-los.

*O Brasil não foi citado na matéria por suas bebidas típicas e mais consumidas, CervejaCachaça, já estarem presentes na edição.

Reportagem Especial e Produção Multimídia: Martin Erbes

Editor-Adjunto: Vitor Azevedo

Editora-Chefe: Patrícia Konda

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