Hortas Comunitárias e suas vantagens na ocupação do espaço urbano

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Em Bauru, apenas a horta do Geisel possui características comunitárias

No interior ou nas grandes cidades, em condomínios ou não, as hortas comunitárias transformam a realidade de centros urbanos. Elas são uma maneira de ocupação de espaços ociosos, que normalmente se tornam depósitos de entulhos e focos de contaminação. Portanto, ao gerar produtividade no local, são também uma solução prática e barata para melhorar a qualidade da alimentação.

Para definir o termo, a recém-criada União de Hortas Comunitárias de São Paulo definiu 4 pilares que uma horta precisa seguir para ser considerada comunitária:

1 – Não permitir o uso de insumos químicos e venenos e se baseia nos princípios agroecológicos e permaculturais;

2 – Realizar de forma coletiva, colaborativa e inclusiva o uso do espaço, trabalho, colheita e gestão;

3 – Oferecer atividades de educação ambiental gratuitas e abertas ao público;

4 – Cultivar alimentos para autoconsumo dos voluntários e da comunidade.

Dessa forma, alimentação saudável é um assunto que está cada vez mais nas mídias e na vida das pessoas. Com isso, apostar em uma horta comunitária pode ser uma boa ideia. Os benefícios são diversos: melhoria da sociabilidade no bairro, geração de renda, acesso a atividades e debates comunitários, alimentos frescos e saudáveis, além da prática de exercícios e entretenimento para os voluntários do local.

Uma dificuldade é manter a rotina de cultivo, principalmente de regas no período de estiagem. Além de lidar com pessoas da vizinhança que são contra a atitude por não saberem do que se trata. Nesse caso, é possível sanar o problema com informação.

horta

Mário Augusto Camargo, da SAGRA, afirma que não há malefícios na instalação de hortas comunitárias (Foto: Amanda Casagrande)

Ocupação de terras

Em sua tese de mestrado da Universidade de São Paulo (USP), é que Gustavo Nagib afirma que  as “hortas comunitárias se tornaram símbolos da luta pela reestruturação do espaço urbano e ampliaram as reflexões sobre a apropriação do espaço público, a origem e qualidade dos alimentos, a cooperação cidadã e o direito à cidade.”

Assim, a ocupação dos espaços urbanos para implantação de hortas deve ser realizada de acordo com leis municipais. Sobre isso, Sérgio Urbaneja, um dos participantes do grupo Agroecologia em Marília e região explica que “o movimento da agricultura urbana, e isso em nível mundial, tem prescindido dessa burocracia, no sentido de um ativismo mais próximo da reivindicação do direito à cidade e da ocupação dos espaços públicos.”

Em Bauru

Mário Augusto Camargo, coordenador de agricultura urbana e periurbana da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (SAGRA) afirma que a prefeitura apoia e incentiva a criação de hortas comunitárias na cidade. Isso ocorre por meio de “acompanhamentos técnicos, palestras e cursos, mecanização e, quando possível, apoio na mão de obra de implementação”.

Em 2015, a horta comunitária do Jardim Ivone foi finalista no Programa Melhores Práticas em Gestão Local, realizado pela Caixa Econômica Federal.  A horta, fruto do trabalho técnico-social do Programa Minha Casa Minha Vida ficou entre as 35 melhores iniciativas do país. Porém, atualmente encontra-se desativada por falta de interessados. Segundo Mário Camargo, há uma tentativa de retomada, mas ainda não foi possível.

Horta Comunitária do Geisel

Sendo assim, existe atualmente apenas uma horta com características comunitárias na cidade de Bauru, localizada no núcleo residencial Presidente Geisel. Ela é administrada por seis famílias, que dividem igualmente o espaço disponível para plantio. Eva dos Santos, de 67 anos, é uma das pessoas que cuida do local desde 1999. Ela explica que cada família pode plantar o que quiser no seu espaço. Além do consumo próprio, também vendem para a comunidade por um preço baixo, já que não visam lucro.

mulher e horta

Além dos vizinhos, pessoas de bairros distantes preferem comprar na horta porque “aqui não tem agrotóxicos, é tudo fresquinho, colhido na hora”, diz Dona Eva (Foto: Amanda Casagrande)

O espaço, que antes era repleto de mato, foi doado pela Companhia de Habitação Popular de Bauru (COHAB) em 1980. No início, o DAE doava a água necessária para o cultivo, mas hoje em dia a prefeitura paga pelo serviço. Essa é a única assistência que eles recebem, pois todas as sementes, adubo, esterco e ferramentas são compradas pelas próprias famílias.

A horta funciona de domingo a domingo, mas cada um faz seu horário. Para dona Eva, cuidar da horta é uma terapia. “Se eu não venho aqui todo dia de manhã eu passo mal mesmo. Dá aquele mal estar e aí quando eu venho pra cá acaba tudo. É como se fosse mais um filho que eu tenho”, afirma. Seu Mário Passeto, que cuida do local há 25 anos, contou que trabalhar na horta foi a cura para um período em que sentia-se deprimido.

horta comunitária

Alface e rúcula são as mais procuradas na horta do Geisel, além dos remédios naturais e chás (Foto: Amanda Casagrande)

Como criar a sua horta comunitária

Ficou interessado em começar uma horta comunitária mas ainda não entendeu como? Se você é de Bauru, pode saber mais sobre o apoio da SAGRA à criação de hortas na cidade. Confira também o infográfico que preparamos com 8 dicas valiosas:

infográfico horta comunitária

SAIBA MAIS:

A União de Hortas Comunitárias de São Paulo promove a troca de experiências e o fortalecimento da agricultura urbana comunitária da cidade.

O grupo Hortelões Urbanos surgiu em 2011 com o objetivo de reunir interessados em trocar experiências sobre plantio orgânico doméstico e também inspirar a formação de hortas comunitárias.

E o Agroecologia em Marília e Região é uma junção de pessoas que se interessam pela agroecologia, de modo entusiasta, praticante e até mesmo militante.

 

Texto: Amanda Casagrande

Produção multimídia: Mariane T. Arantes

Edição: Karina Francisco

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