Desvendando o poder da dança para pessoas com deficiência visual

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Muito mais do que um misto entre esporte e arte, o exercício é capaz de trazer inúmeros benefícios para o corpo e a mente, principalmente quando falamos sobre a dança para pessoas com deficiência visual. Experiências positivas executadas em diferentes locais do Brasil comprovam que a atividade não só traz o bem-estar físico com o aumento da disposição e o fortalecimento muscular, mas também promove o autoconhecimento, a interação social e a quebra de preconceitos.

Segundo a professora de Dança Adaptada e fundadora do Grupo Ginástico Tudo Junto e Misturado – em Caxias do Sul (RS) – Annelise Link, a dança é importante para qualquer tipo de pessoa, pois “trabalha coordenação, socialização, lateralidade, propriocepção (capacidade em reconhecer a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais sem utilizar a visão), e a descoberta de si mesmo. Você descobre como interagir com o espaço ao seu redor e, principalmente, trabalha os seus sentimentos, a forma como você pode se expressar”.

Relação entre dança e deficiência visual: união poderosa  para o autoconhecimento

O Grupo Ginástico fundado por Annelise faz parte da  Associação L’Aqua – Centro de Desenvolvimento de Esporte, Lazer e Cultura para Pessoas com Necessidades Especiais, em Caxias do Sul, e é formado por pessoas com diferentes tipos de deficiência, sem deficiência e com doenças – como os cardiopatas, obesos mórbidos e doentes pulmonares. As idades também variam, contando com membros que têm  entre 5 e 75 anos, Daí a origem de seu nome – Tudo Junto e Misturado.

Nas atividades promovidas pelo Grupo, a professora observa que muito além da questão física, a questão psicológica e a questão social também são  fatores pouco desenvolvidos em pessoas com deficiência visual, devido ao medo de testar suas possibilidades. Com o tempo e a interação, ela afirma observar o ganho de confiança. “Você vê ele (a pessoa com deficiência) se desenvolvendo, crescendo e aprendendo que podem fazer tudo aquilo que quiserem, que são capazes de fazer o que quiserem”.

Susel Lopes, fisioterapeuta, educadora física e idealizadora do projeto Dançando no Escuro, reitera os benefícios  da dança para pessoas com deficiência visual para a autoconfiança. De acordo com as mudanças observadas nos participantes com o decorrer de suas aulas: “Nós estimulamos a autovalorização e a motivação e a diferença foi evidente pois muitos começaram a pedir coisas que queriam, propor atividades e era essa a intenção: dar voz.”

O Dançando no Escuro é um projeto da Faculdade de Ciências da UNESP do campus de Bauru, que nasceu a partir do Trabalho de Conclusão de Curso da fisioterapeuta e educadora física Susel Lopes. A iniciativa atendeu por 6 meses , 13 pessoas com deficiência visual – todos alunos e alunas do Lar Escola Santa Luzia para Cegos de Bauru e, a partir do mês de março voltou à ativa com o trabalho de Mestrado de Susel, atendendo agora todos os tipos de deficiência.

No Dançando no Escuro, uma das propostas, além da dança, foi incentivar a experimentação de espaços que os participantes não estavam acostumados a frequentar, como piscina, tablado de ginástica e até mesmo ateliê de artes (em que aconteceu uma oficina de argila). “Incentivamos os alunos a conhecerem a si mesmos e compreenderem suas próprias capacidades e, para isso, tentamos proporcionar experiências diferentes dentro da proposta do ritmo e da expressão corporal”, explica Susel.

Vendas, elásticos, cordas, fitas e bastões – o repertório das aulas de dança voltadas para esse público é variado, mas sempre com o objetivo de aguçar ainda mais a criatividade dos participantes, aumentar o sentimento de trabalho em grupo e valorizar a percepção com as mãos através das texturas.

A ex-participante do Dançando no Escuro e aluna do Lar Escola Santa Luzia para Cegos, Marieli Lectícia Mendes Arruda, conta sobre a sua experiência: “Todo mundo ficou feliz quando recebeu o convite de participar. Pensamos: vamos aproveitar ao máximo, vamos tirar todo o proveito dele”. Ela ainda completa: “A gente tem que mostrar pro público que o deficiente visual não é aquela pessoa que fica parada, que fica sem fazer nada, que é tipo uma estátua. A gente tem que mostrar que o deficiente visual vive, se diverte, faz festa, faz várias coisas…”

Segundo Annelise, não existem restrições para a prática da dança por pessoas com deficiência visual. “Não existe limitação pra pessoas com deficiência visual nem pra qualquer outro tipo de deficiência. A deficiência está na cabeça das pessoas, elas podem fazer o que quiserem”. De acordo com a professora de dança, estímulos são uma das principais fontes de percepção e são ressaltadas durante essa prática, principalmente quando nos referimos àqueles que enxergam o mundo com as mãos – daí a sua importância.

Tecidos de diferentes texturas valorizam a percepção com as mãos, por isso eram importantes recursos utilizados durante as aulas. (Foto: Divulgação/Dançando no Escuro)

Oficinas de argila fizeram parte das atividades propostas pelo Dançando no Escuro em 2017. (Foto: Divulgação/Dançando no Escuro)

A piscina também é um importante local para ajudar a desenvolver o corpo, acabar com os medos e promover a interação entre os participantes. (Foto: Divulgação/Dançando no Escuro)

Texto: Bianca Furlani

Produção multimídia: Thuany Gibertini

Edição: Victória Linard

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