Como está a saúde mental da Geração Millennial

Browse By

A geração tem acompanhado de perto o desenvolvimento das novas tecnologias, mas esse processo tem efeitos na saúde mental desses jovens

A geração Millennial se refere às pessoas nascidas durante a década de 80 até meados dos anos 90. Quem criou esse termo foram os historiadores americanos William Strauss e Neil Howe, ao escrever o livro “Millennials Rising: The Next Great Generation”. O diferencial desta geração é que ela nasceu junto com as novas tecnologias e tem uma forte ligação com elas. Porém as mudanças sociais promovidas pelo meio digital influenciou também a saúde mental e a perspectiva de mundo dos Millennials.

Giovana Zaparoli é graduada em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp). Atualmente faz pós-graduação na área e tem contato com os jovens da geração Millennial ao atendê-los em sua clínica. Ela explica que desde muito cedo as pessoas dessa  faixa etária são  estimuladas com tecnologias, redes sociais e outras ferramentas da internet. Portanto algumas coisas se tornaram mais fáceis. Hoje em dia, para obter uma informação sobre algo basta pesquisar no Google,  que traz  resultados da busca imediatamente. “Acredito que a geração se tornou imediatista e, muitas vezes, ambiciosa. Passou a desejar muitas coisas. Eles estudam e sugam as informações de maneira intensa, se tornando assim uma população dinâmica, com conhecimentos teórico-práticos, e preparados para (quase) tudo”. Porém, ela também afirma: “como psicóloga, acredito que a saúde mental dos jovens não está acompanhando esse desenvolvimento tão acelerado.”

A psicóloga também declara que os jovens dessa geração foram estimulados pelas suas famílias a terem sucesso. Os Millennials, desde cedo, foram matriculados em aulas de inglês, foram encorajados a ir para faculdade, estudar e ter sucesso. Assim, eles desejam carreiras perfeitas com salários ótimos. “Acredito que ainda há uma dicotomização entre as classes sociais, e talvez essa cobrança familiar seja oriunda de classes sociais mais altas”, afirma Giovana.

Estudantes universitários em busca do sucesso. (Foto: Pixabay)

Busca pela perfeição

Isabella Camargo, 21, é estudante de Pedagogia na Faculdade São Judas Tadeu. Assim como muitos em sua geração, ela também almeja o sucesso e a carreira perfeita. A jovem possui uma rotina atarefada na cidade de São Paulo (SP). Pela manhã ela estagia e durante a noite frequenta as aulas da faculdade. Ela quer chegar no patamar mais alto de sua carreira, ser bem sucedida para ter a qualidade de vida que deseja. “Eu sinto pressão para ser bem sucedida na minha carreira todos os dias. Eu moro sozinha, eu preciso pagar minhas contas e comprar coisas que eu quero para construir a minha vida. Para isso preciso ser estável financeiramente, preciso estudar. É uma pressão que eu mesma faço”, afirma.

A busca pela perfeição também é relatada por Mariana Fortes, 28, de Florianópolis (SC). Ela é formada em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Não está com um trabalho fixo no momento, mas tem realizado trabalhos como profissional liberal, fora de sua área. “Consigo dividir as obrigações, mas a busca pela perfeição é incessante, fazer bem feito é o principal. Não consigo me desconectar (do trabalho) com facilidade. É um exercício constante não se preocupar com obrigações futuras”. 

Isabella se define como uma pessoa nervosa e preocupada. Ela afirma que fica muito mal quando pensa que no futuro as coisas podem não sair como o planejado para sua carreira. Já Mariana explica que se algo não correr como o  planejado, é porque não era para ser. “Se desejo algo, na carreira ou qualquer outra coisa só depende de mim. A pressão de terceiros não pode me causar estresse, não vai ser saudável. Em busca da qualidade de vida sempre”, afirma Mariana.

Estresse e pressão psicológica na geração Millennial

A psicóloga Giovana Zaparoli explica que as perspectivas e relações da geração Millennial são diferentes das gerações passadas. Os jovens sentem a necessidade de sempre “estar bem” e não são bem sucedidos em lidar com suas tristezas. Além disso, o jovem atualmente se relaciona menos. “A perfeição que a Geração Y deseja ter afeta significativamente na qualidade de saúde mental que apresenta”, conclui a psicóloga.

A Organização Mundial da Saúde realizou um estudo em 2016. A análise indica que o suicídio é a segunda causa de morte em jovens. Em concordância com o estudo, Giovana afirma lidar com ideações suicidas em pacientes jovens, mas a ansiedade e a depressão são os problemas psicológicos mais frequentes. Segundo a psicóloga, os índices de ansiedade cresceram 14,9% e de depressão cresceram 18,4%, no período de 2005 a 2015.

Wender Batista, 27, é formado em publicidade pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), e mora em Poços de Caldas (MG). Ele declara que também se sente pressionado para ser bem sucedido em sua profissão. Para ele, um dos motivos do estresse da geração Millennial é o aumento de informação devido às novas tecnologias. “O aumento de informações e a facilidade de acesso ao mesmo tempo que ajudam, também atrapalham, por não ter tanto foco. A maneira de trabalhar, bem como o excesso de informação fazem dessa geração mais estressada”.

Como os Millennials analisam outras gerações

Não lembro dos meus pais falando tanto sobre carreira. A influência da tecnologia, acho que foi isso que mudou. A tecnologia nos deixa mais ansiosos. A rapidez na comunicação, saber o que os outros estão fazendo em tempo real é muito doido”, afirma Mariana Fortes.

Para Isabella, “o mundo hoje faz isso com as pessoas, todo mundo tem muito mais responsabilidade, todo mundo começa a trabalhar muito cedo. Atualmente a sociedade inteira tem esse padrão e isso pressiona as pessoas. É como se a gente já nascesse com o peso de que você tem que ser alguém importante no futuro”.

Higor Carrenho (20 anos) é estudante Turismo na FATEC, em São Paulo (SP). Ele acredita que hoje todo mundo é mais sobrecarregado de estudo e informação do que as gerações anteriores, isso tornou as pessoas mais competitivas. Ele também afirma que mesmo com quantidade de informações disponível na internet, as pessoas acabam tomando por verdade coisas que não são reais.

Toda regra tem exceções

Embora a geração Millennial seja vista como uma geração ambiciosa, que busca a perfeição, gerando aumento nas taxas de ansiedade, Higor Carrenho parece não se encaixar totalmente nessas afirmações. Ele diz não se sentir pressionado e nem ansioso em relação a sua vida e carreira.

“Não me sinto pressionado porque se eu não conseguir (ter a carreira que deseja), eu pelo menos vou tentar. Eu prefiro ter um trabalho que gosto de fazer do que ter uma carreira socialmente aceita ou que ganha muito dinheiro”, afirma.

Quando perguntado sobre como se sentiria caso o futuro não saísse conforme o planejado, ele afirmou que não ficaria angustiado. “Eu penso que tudo se resolve. Você pode planejar o seu dia inteirinho e nada sair como pensou. Claro, sempre dá um certo medo, mas eu tenho que pensar positivo tentar fazer com que dê certo. Mas é uma possibilidade, eu sei que pode acontecer que tudo dê errado”, afirma Higor. Assim, embora grande parte dos Millennials se encaixem no quadro aprensentado anteriormente, é necessário sempre refletir que as pessoas são diferentes e possuem vivências diversas.  Não se pode afirmar que todos os jovens de hoje se encaixam nos mesmos termos ou tenham os mesmos enfrentamentos psicológicos.

Repórter: Isabela Holl

Foto de capa: Pixabay

Produtora multimídia: Marina Debrino

Editor de Ilha: Isaque Costa

2 thoughts on “Como está a saúde mental da Geração Millennial”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *