Coordenada pelo maestro Paulo Pereira, a orquestra existe há 14 anos e resiste ao abandono do patrimônio desde o ano passado
Nas décadas de 1940 e 1950, a estação ferroviária de Bauru era o centro comercial do município. O cruzamento de três ferrovias – Estrada de Ferro Sorocabana, Companhia Paulista de Estrada de Ferro e Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – fez da cidade o maior entroncamento ferroviário do Brasil à época. Hoje em dia restam apenas as ruínas dos trens, mas a Orquestra Sinfônica Municipal resiste.
Fundada em 2004, atualmente a orquestra conta com 60 membros. O maestro Paulo Pereira coordena os ensaios semanais, que acontecem em uma pequena sala, com firmeza e carinho paternais. “Esse ano três mães vieram conversar comigo a respeito de mudança de comportamento dos filhos”, diz. “A gente quer trazer alguns profissionais da área de psicologia pra tentar orientar.” A preocupação dele tem fundamento: a maioria dos instrumentistas são pré-adolescentes e adolescentes de camadas desprivilegiadas.
A orquestra é gratuita e os alunos são contemplados com uma bolsa de estudos. O curso de música é disponibilizado para alunos de 11 a 15 anos.
Do Automóvel Clube à Estação
Há um ano, a orquestra foi obrigada a transferir sua sede para a estação. Antes os ensaios aconteciam no Automóvel Clube de Bauru. Patrimônio histórico tombado em 2001, o prédio foi alugado pela prefeitura por 12 anos para abrigar a orquestra, mas um impasse jurídico impediu a renovação do contrato em 2017.
Para Paulo, a mudança “uniu o útil ao agradável” pelo fato de a estação ser um espaço gratuito. Contudo, as condições do local são um entrave constante: “No começo foi bem difícil pra gente se adaptar, o espaço é bem debilitado”. Salas sem iluminação, janelas quebradas, assoalhos faltando pedaço e banheiros precários fazem parte do ambiente frequentado por crianças e jovens.
O abandono do poder público provoca situações desagradáveis, desde dispensa de alunos por conta da chuva até episódios de assédio. A professora e contrabaixista Giovanna Contador relembra a ocasião em que um funcionário da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) que assediou alunas e foi afastado posteriormente. Paulo aborda, também, a questão de usuários de drogas que costumavam circular pela estação.
Ele afirma que isso não é mais problema, mas algumas autoridades insistem em olhar para a estação com preconceito. “Um vereador declarou que aqui era um ‘reduto de nóias’, que a ‘galera do hip hop’ era assim. Esse vereador é oposição do prefeito, então ele falou mal do serviço da prefeitura com um fundo de maldade”, conta Giovanna.
A ‘galera do hip hop’ é o coletivo Casa de Cultura do Hip Hop, o primeiro a ocupar o lugar. No segundo andar do prédio estão as salas do cursinho popular, da biblioteca e da sala de dança. A estação também abriga a Academia Bauruense de Letras e a Associação de Teatro de Bauru e Região, entre outros coletivos. Giovanna conclui: “é um espaço que está sendo bem ocupado, mas que falta organizar.”
Alunos
Leonardo Rodrigues, trompista, e Daiane, violinista, conversaram com a gente sobre o começo da trajetória na orquestra e a importância dela para a vida deles. Confira:
Texto: Gabriel Leite Ferreira
Produção Multimídia: Nádia Linhares
Edição: Caroline Cardillo
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