Após 35 anos do curso, o centro acadêmico ainda é o caminho para reivindicações e melhorias
A universidade pública é estruturada num tripé de conhecimento: ensino, pesquisa e extensão. Acredita-se que essa seja uma forma sólida de construir conhecimento de qualidade. Ao mesmo tempo, esse tripé permite cumprir o papel social que a instituição tem com a sociedade.
Quem contribui com a estrutura desse sistema são os professores, alunos e funcionários, os quais são vistos como peças-chave para que a teoria do ensino superior público e de qualidade saia do papel. Dessa forma, eles passam a ser considerados como categorias e tem suas demandas representadas por uma entidade.
Na Unesp, quem representa os professores é a Adunesp e os funcionários o Sintunesp. Já os alunos se organizam dentro dos centros e diretórios acadêmicos, de acordo com seus respectivos cursos. No caso do curso de jornalismo da Unesp Bauru, o Cacoff (Centro Acadêmico Florestan Fernandes) e o Dadica (Diretório Acadêmico Di Cavalcanti) são a porta para ter as suas reivindicações ouvidas.
O começo das entidades estudantis
Vale explicar que dentre o Cacoff e o Dadica, este último é o mais antigo. O diretório surgiu ainda na época em que a FAAC chamava-se Faculdade de Belas Artes e fazia parte da Fundação Educacional de Bauru, que foi incorporada pela Unesp só em 1988.
Foi justamente pela mobilização dos membros do Dadica que o curso de jornalismo foi criado em 1984; até então o único curso de comunicação do campus era relações públicas. Rádio e Televisão foi o último curso dos três a ser incluído.
Vendo a necessidade de uma entidade que representasse os alunos de comunicação e suas demandas dentro do movimento estudantil, em 1997 a então estudante do primeiro ano de relações públicas, Maria Rita, se mobilizou para a criação do Cacoff, que até hoje funciona como centro acadêmico de comunicação.
O que fazem o Cacoff e Dadica?
É fundamental entender as diferenças básicas entre um centro acadêmico e um diretório: o primeiro é responsável principalmente por garantir o contato dos estudantes de um curso com o diretório central dos estudantes (DCE) e a direção da faculdade.
Esse contato serve justamente para discutir questões como falta de professores, mudança no projeto político pedagógico (PPP) ou qualquer outra demanda estudantil que tenha como objetivo melhorar o curso. Aqui entra a importância dos membros discentes ocuparem suas cadeiras em órgãos colegiados, como o conselho de curso e o conselho de departamento. Afinal, são esses alunos que levam ao centro acadêmico as informações burocráticas.
Dentro da Unesp Bauru essa estrutura é diferente porque a Unesp, além de ser multicampi – dificultando a mobilização estudantil unificada – também não tem um diretório central, ao contrário da Usp e Unicamp, por exemplo. Por isso, mesmo o Cacoff representando todos os cursos da comunicação, ele segue como centro acadêmico, já que o Dadica é um diretório que integra todos os cursos da FAAC e é a ligação mais próxima com o Conselho de Estudantes Unesp Bauru (CEUB).
Comunicadores, comuniquem-se
O Cacoff sempre teve uma participação ativa no movimento estudantil da Unesp Bauru, especialmente por conta dos alunos de jornalismo, uma vez que o curso é o maior entre os que são representados pela entidade. Na sua história recente, foi importante para a mobilização de greves. Também foi significativo para transmitir aos alunos de jornalismo as decisões que vinham da comissão formada por professores do DCHU e DSCO a respeito do novo PPP que deveria ter entrado em vigor em 2016, mas vai ser implantado em 2020.
Lucas Zanetti, ex-aluno de jornalismo, participou ativamente do movimento estudantil durante seu período de graduação entre 2013 e 2016, e foi um dos estudantes que reestruturou o Cacoff logo após a greve de 2013. “Na época a gente estava passando por um momento muito difícil de cortes de verba, de projeto de extensão, de bolsas e sucateamento do curso, foi o que despertou a vontade de me mobilizar”, conta.
Nesse período o campus de Bauru passou pelas greves de 2013, 2014 e 2016, além de reivindicações do movimento estudantil, principalmente nas pautas de permanência estudantil, foram atendidas depois de muita mobilização, como as cotas, restaurante universitário, moradia e bolsas.
É especialmente por causa dessas demandas atendidas que Lucas ainda ressalta a importância da mobilização. “Se hoje a gente ainda em algumas coisas, é por insistência estudantil. Essa mobilização é muito importante e não pode acabar”, afirma o ex-aluno.
Foi pensando nessa importância da atuação dentro do movimento estudantil que a Beatriz Santana participou da greve de 2016. Ainda no primeiro ano de faculdade, ela escolheu ficar 3 meses longe de casa para defender os interesses da moradia. “Por toda a realidade do alojamento, fui envolvida em discussões e atos do movimento estudantil”, relata a estudante de jornalismo.
Influência na formação de jornalista
O ponto em comum nos relatos do Lucas e da Beatriz é justamente o reflexo desse trabalho em suas formações. A ex-aluna Karina Francisco, comentou como participar do conselho de curso influenciou em sua atuação como jornalista. Confira o depoimento dela sobre o assunto nesse áudio:
Karina Francisco, ex-aluna de Jornalismo da Unesp, formou-se em 2018
A participação dos alunos em entidades que fazem parte do movimento estudantil é um reflexo do quão politizados eles estão. No geral, costuma-se ter gerações de alunos mais ou menos engajados ao longo do tempo; e para a Beatriz, infelizmente o curso está menos politizado do que poderia. Para ela, os alunos até tem base teórica sobre questões sociais, mas falta aplicação na prática. “Participar do Dadica influenciou diretamente, porque eu me interesso por política e direitos humanos, então foi uma ótima experiência”, finaliza a aluna do quarto ano.
Texto: Ana Carolina Valentim Montoro
Produção multimídia: Gabriela Arruda
Editora: Caroline Oréfice
Foto de capa: Lara Pires
One thought on “O movimento estudantil de jornalismo na Unesp”