Segurança privada para sanar a segurança pública
Recorrer à segurança privada e a dispositivos de segurança tem se tornado cada vez mais comum. Na busca pela tranquilidade, algumas pessoas investem em métodos que variam dos simples caquinhos de vidro nos muros das residências ao mais sofisticado sistema de monitoramento com câmeras.
A insegurança da população com a situação da violência social faz com que as pessoas busquem cada dia mais novos meios de se proteger por conta própria. De acordo com o levantamento da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP/SP), só no ano passado foram registradas 5.571 ocorrências de furto e 1.106 ocorrências de roubo em Bauru. “Enquanto não houver nenhuma medida do governo em relação à violência ela será sempre crescente. Em algumas situações percebemos que realmente estamos na mão de Deus e de mais ninguém”, comenta indignado o comerciante André Luis Souza, dono de uma loja de equipamentos de segurança na cidade de Bauru.
Já para o advogado do Sindicato dos Vigilantes de Bauru, José Antônio Sena de Jesus, o que falta mesmo é o pensamento coletivo, seja por parte dos cidadãos, seja por parte dos políticos. “No caso de Bauru, o prefeito e o governador são de partidos diferentes. Então um transfere a responsabilidade da segurança para o outro. Ou seja, nós não estamos trabalhando para que a sociedade tenha um bem estar social melhor. Nós estamos trabalhando para assumir poder”, defende.
A ineficiência da segurança pública tem feito com que milhares de pessoas recorram à segurança privada, principalmente quando se encontram em algum tipo de situação de risco. Assim, gastar um pouco – ou muito – mais com dispositivos de segurança é um bom investimento para pessoas que são atormentadas pelo medo da violência, um dos males que mais preocupa a sociedade.
Apesar da sensação de segurança que o avanço tecnológico pode proporcionar aos cidadãos, o que as pessoas constatam é que tal uso tornou-se uma necessidade básica para poder se sentir seguro dentro de suas próprias casas. “Nos tempos atuais, acredito que as empresas de segurança privada estejam entre as que mais lucram, devido à sensação de insegurança que toma conta de todos nós. Eu mesmo confesso ter recorrido a tais empresas, quando instalei cercas elétricas e sistema de monitoramento em minha residência”, afirma o jornalista Carlos Biernath.
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Quando é que eu estou seguro?
O uso de dispositivos de segurança tem sido recorrente e o preço para estar tranquilo pode variar bastante. Dentre os dispositivos que mais são vendidos está o CFTV, Sistema de Circuito Fechado de TV, que custa em média R$2.000,00, se for analógico. “Trata-se um sistema de monitoramento de imagem, que condiciona a instalação de câmeras em que há uma unidade de gravação que mantém um registro dessas imagens”, explica André Souza. Além desse sistema, outra alternativa bastante utilizada é a cerca elétrica (com preço médio de R$600,00). “As residências hoje têm essa opção por ter um baixo custo de instalação”, finaliza.
Muitas pessoas não se contentam com a segurança de tais dispositivos que, segundo o comerciante, podem falhar. Por isso, recorrem à compra de armas de fogo. No entanto, ter acesso a elas não é algo tão simples como se imagina. Desde que a lei 10.826/03 foi instituída, o fisco e o controle da compra de armas no Brasil têm sido severos. Para os revendedores, como é o caso de Carlos Roberto Assunção, a lei dificultou bastante a compra legal. “Antigamente se vendia muito mais armas do que se vendem hoje. Então, muitos que querem uma arma de fogo para se proteger recorrem às armas ilegais”, enfatiza Carlos, que afirmou portar arma de fogo em sua residência por motivos de defesa e segurança.
Mesmo com a utilização desses artefatos de segurança, a violência urbana faz com que as pessoas mudem seu estilo de vida para se adequar à sensação de medo em que vivem. É o caso do professor Rubens Benini, que mesmo tendo alarme em seu carro e cerca elétrica nos muros de sua casa, prefere não sair em determinadas horas do dia. “Sou do tempo em que você podia andar tranquilo a noite na rua, podia acampar tranquilo. Hoje eu parei de fazer isso, eu não saio depois das dez da noite. Se minha filha sai neste horário, eu fico um pouco preocupado”, comenta. Enquanto não houver uma organização da administração pública sobre os recursos básicos que são disponibilizados à sociedade, esta vai continuar tendo que recorrer ao meio privado para ter acesso ao que lhe é garantido pela Constituição.
Reportagem: Annelize Pires e Jéssica Fonseca
Produção: Amanda Tiengo
Edição: Paula Monezzi