Entrevista | Alessandro Buzo
Repórter Unesp – As pessoas da periferia tem tanto acesso aos espaços culturais (museu, cinema, teatro) assim como as que vivem no centro da cidade?
Alessandro Buzo: Não tem acesso, porque esses espaços são criados pra não ter. A maioria do povo não tem condições de pagar pra ir num teatro por exemplo. Não só pelo preço do ingresso, como pelo geral de gasto (transporte/alimentação)… falta também campanhas pra que o povo vá mais a esses espaços, porque a população não aproveita nem o grande número de locais que são gratuitos, porque não recebe incentivo pra ir. Museu então…
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RU – Que tipo de cultura a periferia consome?
Buzo: No geral a sua própria cultura que é muito variada e rica. Mas mesmo essa cultura produzida as margens, não chega a todos, a maioria fica presa na rotina, trabalho, condução lotada, TV. É preciso dar visibilidade aos projetos bacanas que existem, fazer o interesse chegar em quem está próximo.
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RU – Por que os espaços de cultura se localizam no centro das grandes cidades?
Buzo: Se formos otimistas, diria que é pra ser num local de fácil acesso a todos. Se formos pessimistas, é uma forma de excluir quem mora longe.
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RU – Existem espaços e/ou programas de cultura destinados à população da periferia?
Buzo: Todo sábado na TV eu mostro um projeto bacana na periferia. Mas no geral é realizado por pessoas que não recebem incentivo pra fazer, isso atrapalha, porque os realizadores muitas vezes desistem porque precisam trabalhar num serviço formal pra sobreviver. O incentivo do governo é pouco e do comércio local é praticamente zero.
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RU – O que pode ser feito para alterar esse panorama?
Buzo: Acho que mais projetos como o VAI, o PROAC e outros. Mas também um pouco mais de vontade do poder público, das sub-prefeituras, das empresas. Cultura na quebrada tem sim, só falta a galera receber pelo que faz. Pra não ter que se matar num trabalho e ainda assim fazer a diferença na sua comunidade.
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Alessandro Buzo é escritor, ativista social, colunista, repórter e cineasta brasileiro. Desde outubro de 2011, colabora com o jornal SPTV 1ª Edição, da Rede Globo, onde apresenta, às sextas-feiras, o quadro “SP Cultura”, sobre a cultura da periferia paulistana.