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As raízes da capoeira: luta, dança e jogo

O Brasil é um país ligado fortemente a suas crenças. Por mais que exista a pluralidade cultural entre os estados que o compõem, a identidade da nação se constrói a partir da cultura de cada um desses diferentes povos. E falar da história do Brasil sem mencionar a capoeira é quase impossível.

Para entender a capoeira e sua prática, é preciso voltar alguns séculos no tempo e chegar a suas raízes. A capoeira surgiu no Brasil colônia como uma luta: distantes do uso de armas, os negros encontraram na luta corporal uma forma de defesa. Para os senhores de escravos, era um ato de violência, e por esse motivo, a capoeira se aliou à dança e ao canto – sendo representante de expressão da cultura negra, não teria razão para ser temida. No entanto, não deixava de ser vista com maus olhos pelos brancos.

Segundo o dicionário Michaelis, uma das definições para a capoeira seria “mato de pequeno porte que nasceu nas derrubadas da mata virgem”. Essa explicação faz referência ao local no qual os negros treinavam os movimentos da capoeira. Protegidos pela natureza, eles podiam cultuar o legado de seus antepassados e aprender novas maneiras de defesa contra o sistema que os oprimia.

A visão negativa da capoeira era tão presente na sociedade que, mesmo após a abolição da escravatura, ela foi reprimida. Em 1890, o Código Penal criado pelo governo do Marechal Deodoro da Fonseca proibiu a prática em todo território brasileiro. O decreto, assim como os antigos dominadores, a consideravam violenta e puniam severamente quem fosse pego reproduzindo seus movimentos.

Nesse cenário, Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como mestre Bimba, teve um importante papel. Foi ele quem apresentou a capoeira ao então presidente da república Getúlio Vargas, na década de 1930. A prática foi legitimizada como esporte nacional e, aos poucos, foi conquistando a atenção de outros segmentos da população brasileira.

Hoje, fala-se em jogar capoeira. Andresa de Souza Ugaya é professora no curso de Educação Física na Universidade Estadual Paulista e explica que as diferenças entre a capoeira como forma de luta, dança e jogo existem quando observadas pelos momentos históricos. “Quando vou para uma roda de capoeira, vou jogar. Hoje a capoeira não tem mais essa intenção de se defender”, explica.

As diferentes capoeiras

Basicamente, existem três linhas da capoeira: Angola, Regional e Contemporânea. A considerada mais tradicional é a Angola, vista por alguns capoeiristas e pesquisadores como a capoeira Mãe. Ela é a que mais se aproxima à forma como os negros lutavam nos tempos da escravidão. Geralmente, são utilizados oito instrumentos na roda de capoeira Angola. O principal nome dessa prática é o Mestre Pastinha.

Sistematizada pelo mestre Bimba, a capoeira regional constitiu-se de movimentos mais rápidos. Diferente da capoeira Angola, apenas um berimbau é tocado na roda. Nessa prática, há um método de ensino e os capoeiristas passam por diferentes fases de aprendizado, começando como calouros até chegarem ao mais completo nível de formação.

Algumas características são comuns entre as rodas de ambas as capoeiras. Uma delas é o respeito entre os capoeiristas: antes de iniciarem o jogo, eles tocam as mãos um do outro em forma de cumprimento, agachados próximos ao berimbau. Há ainda a capoeira contemporânea, que une elementos das duas linhas citadas.

O legado da capoeira

Assim como muitas formas da cultura nacional, a capoeira se mantem viva até hoje pela herança oral de seus praticantes. Os movimentos, cantigas e princípios básicos foram passados de pai para filho e aprimoradas com o passar do tempo.

Em 2008, a capoeira foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com esse título, a prática entrou para o Livro das Formas de Expressão e o trabalho dos mestres, para o Livro de Saberes. A capoeira que foi sendo transmitida pela oralidade tornou-se reconhecida como uma cultura fundamental do país e passou a ser objeto de preservação.

Ao final de 2014, mais uma conquista: a roda de capoeira foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Dessa forma, além da visibilidade local, ela garante a possibilidade de se afirmar em outros países. É o caso da Alemanha, que já tem 27 rodas de capoeira registradas, segundo dados do Itamaraty.

A capoeira em Bauru

Em agosto de 2011, o prefeito Rodrigo Agostinho em conjunto com as Secretarias de Obras e do Meio Ambiente inauguraram a praça Mestre Bimba no município de Bauru. A ideia surgiu da comunidade do Jardim Contorno, apoiados pela Casa da Capoeira. Hoje, o espaço recebe eventos como a Festa do Saci e a Assembleia da Praça.

A Casa da Capoeira surgiu a partir da iniciativa de amigos que buscavam um espaço para jogar a capoeira regional. Alberto Pereira é proprietário do terreno e conta que, inicialmente, buscaram uma academia para a prática. “A capoeira é algo muito específico. Então aquele ambiente de academia, junto com o pessoal que fazia musculação e outras manifestações que também são interessantes do ponto de vista cultural, [a capoeira] não se encaixava”, comenta.

As atividades da Casa ainda incluem samba de roda, maculelê e puxada de rede. Além disso, o espaço abriga trabalhos de instituições sociais  e reuniões Maracatu Abayomi. O trabalho, tanto com os treinos de capoeira quanto com os de outras modalidades, busca a inclusão de expressões culturais na cidade. Porém, muitas vezes ele acaba encontrando o preconceito. 

 

 

 

Saiba Mais: 

Capoeira: uma cultura marginalizada

 

Reportagem: Giovanna Hespanhol

Produção de mídia: Caroline Braga

Edição: Moema Novais

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