Respeitável público, o circo chegou!
Ah, o circo! Ainda hoje traz alegria e movimento a muitas cidades de nosso país. Quando ele chega, todos logo ficam sabendo e, por várias semanas, os shows trazem vida aos ares da cidade. O destemido homem-bala, a mulher-barbada, o mágico e sua bela assistente, os engraçados – ou aterrorizantes – palhaços, os animais fazendo truques incríveis, e – é claro – o domador de feras.
Todas essas figuras sempre estiveram presentes no nosso imaginário popular, povoando livros, filmes e séries. Mas elas têm se tornado cada vez mais raras nas apresentações de circo de nosso país. O uso de animais em espetáculos circenses já é proibido em diversos estados brasileiros e há um projeto de lei que propõe tornar essa proibição nacional.
Por esse motivo, essas apresentações têm sido substituídas por atrações que chamem a atenção das crianças, muitas vezes se baseando em desenhos e personagens infantis. As curiosas e estereotipadas figuras de antigamente se foram e os circos se veem cada vez mais povoados pelos acrobatas. Eles fazem manobras impossíveis, andam na corda bamba e fazem malabares, conquistando o público com seus movimentos.
O circo como expressão cultural
O circo tem um papel importante no cenário cultural brasileiro. Ele é uma das manifestações mais completas e antigas que existe no mundo, agregando o movimento corporal, a música e o teatro, além de influenciar e ser influenciado por essas artes.
Para Cristina Macedo, mestre em Estudo de Linguagens e pesquisadora da temática circense, o circo, com sua característica itinerante, “propiciou o acesso e a circulação da arte em múltiplos lugares, mesmo antes do advento do rádio e da televisão, sendo ele um dos maiores difusores não apenas do circo, mas também de outras artes como, por exemplo, a música, a dança, o teatro.”
Renã Burket, acrobata master do Beto Carrero World, acredita que o circo tem a capacidade de refletir a cultura brasileira e o modo como o povo encara as dificuldades, ou seja, com alegria e otimismo. “O circo está sempre buscando alegrar as pessoas, mantendo sempre um ‘gingado’, divertindo os povos e fazendo-os esquecer por um instante dos problemas.”, explica.
Para o artista, o circo ainda possui outras características parecidas com as da cultura do país. “A cultura brasileira é muito rica, porque recebeu gente de todas as partes do mundo e misturou isso. No circo também houve essa mistura: são vários números, truques, jeitos de fazer, e geralmente as pessoas do circo são de lugares diferentes, que usando um ‘jeitinho’ conseguem se comunicar, se entender e se expressar através desta arte milenar”, completa o acrobata.
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A arte circense
O circo é uma modalidade de arte que exige muito preparo do seu artista. São diversas horas de treinamento, às vezes até anos, para ter certeza de que o movimento sairá perfeito. Renã conta que um número solo de maior dificuldade costuma demorar de três a quatro anos para ser realizado com perfeição. A rotina desses artistas envolve muita disciplina e dedicação: os dias começam cedo, com alongamentos e exercícios que preparam o corpo para a apresentação do dia. Depois, eles participam de ensaios gerais do show e dos seus próprios números. Quando os ensaios terminam, já é hora de correr para o camarim para colocar o figurino, fazer a maquiagem e o aquecimento. É hora do show!
Renã se interessou pelo circo após assistir um programa de TV no qual a escola circense de sua cidade natal- Pelotas, Rio Grande do Sul – estava participando. No circo há 10 anos, o acrobata de 23 anos admite que sua rotina mudou bastante em relação ao que era quando começou nessa arte. “Hoje em dia, treino bastante para manter o que já consegui até aqui, tenho mais cautela para arriscar novos elementos de extrema dificuldade, pois daqui para frente qualquer deslize pode ser fatal e acabar com minha carreira”, explica.
O acrobata Jailton Carneiro tem uma história parecida: conheceu e se apaixonou pela arte circense por meio da Escola Picolino de Artes do Circo. Nascido em Salvador, Jailton já alcançou o que é visto por muitos como o ápice da carreira de um artista circense. Entre 2002 e 2011, fez parte do espetáculo Quidam do Cirque de Soleil, circo canadense considerado um dos melhores do mundo.
Vivendo na Suécia, Jailton afirma que o circo é uma de suas grandes paixões: “eu amo o circo, do lado de dentro e de fora, em pé e de ponta cabeça. O circo me deu a oportunidade de vencer na vida”. Segundo ele, graças ao circo pode conhecer culturas de outros países, formar sua família e expressar o que o seu corpo é capaz de fazer.
O acrobata acredita que o circo é a forma mais definida e clara de expressão, “ é o corpo em relação com o espaço físico que juntos desafiam a lei da gravidade de uma forma poética. Sendo individual ou em grupo, o circo faz com que você desafie os seus limites de maneira física e artística”.
Renã também vê nos shows a possibilidade de se expressar, mas aponta que até nisso o preparo do artista é essencial. “Muitas vezes passo muita segurança no show, em movimentos de grande dificuldade, onde o medo poderia tomar conta de mim, porém meu treino e a rotina de ensaios me preparam para este momento fazendo com que o medo seja mínimo. Outras vezes transmito essa segurança, mas por dentro posso estar passando por momentos difíceis e não deixo transparecer, porque o palco é o lugar onde me liberto e deixo a emoção me levar”, completa o acrobata.
É justamente esse preparo psicológico que a pesquisadora Cristina aponta como uma habilidade essencial para o artista circense profissional: “ser artista não significa apenas saber a técnica, precisa saber lidar com o público e isto se aprende na prática, no momento do espetáculo. O convívio constante com a prática e com o picadeiro produz um entrosamento com esse ambiente, e isso é patente na atuação do artista quando entrar em cena”, comenta.
A arte do circo em Bauru
Quem deseja experimentar essa arte em Bauru, pode se inscrever em uma das diversas aulas da Casa do Circo. Localizada no Jardim Panorama, próxima ao McDonald’s da Avenida das Nações Unidas, a escola oferece aulas de diversas modalidades circenses, tais como aéreos, acrobacias, malabares e equilíbrio. Com horários diferentes para adultos e crianças, essas atividades oferecem muitos benefícios.
Nas aulas para as crianças, a ideia é que as modalidades circenses virem brincadeiras. Assim, os alunos aprendem malabares, acrobacias, tecido acrobático, corda e equilíbrio enquanto brincam. As aulas são divididas por idade: as crianças de 6 a 9 anos formam as turmas de terça-feira e quinta-feira, das 14 às 15 horas; já as crianças de 10 a 12 anos, de terça e quinta, das 15 às 16 horas.
Para os adultos, os treinos que envolvem atividades de acrobacias de solo, malabarismo, monociclo, perna de pau, tecido acrobático, trapézio fixo e slack line, acontecem às terças e quintas, das 19h às 20h30.
Para mais informações sobre a Casa do Circo:
Endereço: Rua Romildo Brunhari 1-30, Bauru
Telefones: (14) 3204-7158 / (14) 9 9677-7220
E-mail: casadocirco@hotmail.com
Site: http://www.casacirco.wordpress.com/
Facebook: https://www.facebook.com/casadocircobauru/
Repórter: Bianca Arantes
Produtor multimídia: Caroline Braga
Editora: Moema Novais
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