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Capoeira: uma cultura marginalizada

A capoeira é considerada um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, mas, assim como outras expressões da cultura negra, ainda sofre preconceito. Mesmo com a Constituição que garante igualdade para todos os cidadãos, ainda há a discriminação dos costumes afro-brasileiros. A capoeira é um exemplo de elemento dessa cultura que enfrenta os desafios de ser aceita no espaço público.

Professora no curso de Educação Física da Universidade Estadual Paulista, Andresa de Souza Ugaya levanta o questionamento de onde estão as expressões culturais nas cidades do centro-oeste paulista, como Bauru. Tendo a capoeira como exemplo, a professora acredita que a restrição dessas práticas a regiões periféricas é uma perda para a cultura do município. “É um grande problema, porque a gente desvaloriza muito nossa cultura. As pessoas não conhecem”, comenta.

Assim como os princípios e a prática da capoeira foram passando de geração em geração, o preconceito seguiu o mesmo caminho. Algumas pessoas ainda carregam consigo uma visão estereotipada da capoeira, esquecendo do valor como expressão cultural que ela possui.

E não é apenas o preconceito racial que incomoda os capoeiristas. Aldine Andrade joga capoeira há dois anos e, atualmente, é a única menina no grupo Axé do Quilombo. Mesmo enfrentando dificuldades, ela não desistiu da capoeira. “No começo, o professor ficou com um pouco de receio de deixar eu entrar. Com o tempo, fui jogando e treinando, aí conquistei mais espaço. Foi difícil, mas eu consegui”, comenta.

Sandra de França é umas das poucas mulheres nos treinos de capoeira. Ela frequenta a Casa da Capoeira de Bauru e conta que não é tratada diferente pelos outros capoeiristas lá. A maior dificuldade que encontra é com a família: “eles não gostam muito da capoeira, porque envolve algumas músicas e santos”, afirma.

Um possível caminho

Assim como todas as formas de preconceito, a melhor forma de combatê-lo é com o aprendizado. E, quanto mais cedo é incorporado ao ensino, mais eficaz ele se torna. A professora Ugaya acredita na escola como um espaço de ressignificação.

Para ela, as crianças não têm uma visão preconceituosa da capoeira. “Quando a criança tem preconceito, está muito ligado ao que ela ouve falar. Mas quando ela tem a oportunidade de aprender, vivenciar, praticar,  eu acredito que a gente consegue romper com alguns estereótipos”, afirma.

Nesse contexto, ela acredita que um dos maiores desafios do ensino da capoeira na escola é a falta de material de apoio. “Às vezes, a capoeira na escola fica restrita ao aprendizado apenas do movimento, sem esse contexto cultural, social e histórico”, completa. Segundo a professora, outro desafio seria a formação do professor, apesar dos cursos de Educação Física já se apresentarem mais abertos a outras modalidades de expressão corporal, que não são apenas os esportes.

Os professores teriam, então, um papel social na preservação e na disseminação dessas expressões culturais. “Por mais que você não goste ou não se identifique, o seu aluno tem o direito de ter acesso. Se ele quiser depois praticar uma dança ou capoeira, é um direito dele. Mas ele vai acessar isso onde se não tem condições? É na escola”, afirma.

A capoeira e o jogo da vida

Thiago dos Santos, também conhecido como Capu,  joga capoeira há quase doze anos e faz parte do grupo Axé do Quilombo. Para ele, o maior desafio de ensinar a prática é passar a essência da capoeira aos alunos: “a parte de jogo, de movimento físico são as menores partes da capoeira. Há também a parte histórica, de música, de fundamentos”.

Ele acredita que a capoeira é um aprendizado diário. “A gente costuma dizer que é o jogo da vida. Na vida você vai levar uma rasteira e tem que aprender a levantar. Tem que aprender passar seus limites, como na capoeira. Tem que aprender a improvisar, a levar as coisas um pouco no jogo de cintura. A capoeira é o modo do brasileiro de ser”, comenta.

Criada como forma de defesa e disseminada por seus movimentos e ritmos envolventes, a capoeira se desenvolveu no Brasil e no mundo. Apesar da marginalização da prática e do preconceito que se encontra ainda hoje, o jogo conquista novos adeptos a cada dia. Assim, ela se firma, de fato, como um patrimônio da cultura brasileira.

E como expressão da cultura do país, ela se torna parte da vida dos cidadãos. Thiago acredita que a capoeira seja vivência.  “A capoeira é a coisa mais valiosa que tenho. Ela me ensinou a correr atrás dos meus objetivos, a ter postura para poder me apresentar em qualquer lugar, me ensinou a me adaptar a situações. A capoeira passa isso, a superar qualquer coisa”, conta.

A capoeirista Sandra de França também recomenda a prática. “Prefiro a capoeira que academia ou qualquer outro esporte. Eu gosto da música, é envolvente. Às vezes você chega aqui triste e cansada, mas quando chega aqui e então começa a música, o jogo, o treinamento e tudo muda. A gente sai com outro espírito”, comenta.

Saiba mais:

A capoeira e suas raízes

Reportagem: Giovanna Hespanhol

Produção de mídia: Caroline Braga

Edição: Moema Novais

7 thoughts on “Capoeira: uma cultura marginalizada”

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